O Plano Arquidiocesano de Pastoral em vigência em nossa Igreja de Belém inclui quarenta referências à vida em Comunidade ou à formação de Comunidades Eclesiais Missionárias vivas e atuantes. Neste Plano de Pastoral consta como um dos horizontes de nossas ações o que se segue: “Segundo horizonte que se abre para nossa ação pastoral é oferecido pelas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil. As Diretrizes atuais mantêm a insistência na presença da Igreja nas casas, o que exige de todos nós um empenho missionário para ir ao encontro das pessoas e das famílias, em todos os nossos espaços sociais e religiosos. Foi renovada a escolha de quatro pilares para a vida da Igreja no Brasil, iluminada pela experiência das primeiras Comunidades, segundo a descrição dos Atos dos Apóstolos: Palavra, Pão, Caridade e Ação Missionária. A Assembleia dos Bispos aprovou, e desejamos colocar em prática, a proposta da “A Palavra se fez carne, e habitou entre nós – Animação Bíblica da Pastoral a partir das comunidades eclesiais missionárias”. E estamos no mês da Bíblia, com uma excelente indicação da leitura da Carta aos Efésios, além dos textos evangélicos oferecidos pela Liturgia.
Alguns domingos do mês de setembro trazem textos do capítulo dezoito do Evangelho de São Mateus, que fala da vida de Igreja, a vida em Comunidade, para que esta possa ser uma revelação do Reino de Deus (Cf. “Lectio Divina sui Vangeli Festivi per l’anno litúrgico A, Elledici, 2010). É bom recordar que o Evangelista traz cinco grandes sermões ou discursos de Jesus, como grandes setas indicativas, com critérios claros que ajudavam e ajudam os cristãos a resolverem os problemas que aparecem, justamente a partir da luz oferecida pela Palavra de Deus.
Neste final de semana, queremos acolher ensinamentos muito práticos sobre a correção fraterna (Mt 18,15-16), a importância de ouvir a Igreja para enfrentar as dificuldades na convivência (Mt 18,17), o como as decisões tomadas na terra têm valor no Céu (Mt 18,18), a oração em comum (Mt 18,19) e a chave de tudo, a presença de Jesus entre os que se reúnem em seu nome (Mt 18,20).
Em todos os ambientes podem ocorrer falhas pessoais, divisões, suspeitas, fofocas, calúnias e outras dificuldades no relacionamento. O caminho indicado pelo Evangelho é muito claro e concreto: “Se teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, tu e ele a sós! Se ele te ouvir, terás ganho o teu irmão. Se ele não te ouvir, toma contigo mais uma ou duas pessoas, de modo que toda questão seja decidida sob a palavra de duas ou três testemunhas” (Mt 18,15-17). Infelizmente, dentro e fora da Igreja, vivemos uma época de denuncismo exacerbado, saltando as instâncias constantes do Evangelho. Há que se converter a esta prática diferente do que anda ocorrendo. Lembremos ainda a exigente palavra de São Paulo: “Quando um de vós tem uma questão contra outro, como se atreve a entrar na justiça perante os injustos, em vez de recorrer aos santos? Será que ignorais que os santos julgarão o mundo? Ora, se o mundo está sujeito ao vosso julgamento, seríeis acaso incompetentes para julgar questões tão insignificantes?” (1 Cor 6,1-2). Só em situações especiais se pode recorrer à Igreja, depois da correção fraterna e as testemunhas. E, somente em caso extremo, a própria pessoa é que se exclui, não dando ouvidos à Igreja! Não é necessário excomungar alguém, mas simplesmente se confirma a exclusão assumida pela própria pessoa.
Se este caminho pode assustar, em seguida vem o libertador poder do perdão, dado a Pedro e aos Apóstolos (Mt 16,19; Jo 20,23), algo que se realiza no Sacramento da Reconciliação e, de forma impressionante, dado agora à Comunidade (Mt 18,18). Trata-se da importância da reconciliação e a enorme responsabilidade da Comunidade Cristã em seu modo de tratar os irmãos.
Tudo isso há de ser sempre acompanhado pela oração, inclusive pelas pessoas que se encontrarem em situação de pecado. Mesmo as coisas mais difíceis, e às vezes é justamente alguém que se excluiu da vida de Igreja, nunca se abandona quem quer que seja. Garantia é a palavra de Jesus: “Eu vos digo mais isto: se dois de vós estiverem de acordo, na terra, sobre qualquer coisa que quiserem pedir, meu Pai que está nos céus o concederá” (Mt 18,19). Uma proposta para a oração autêntica em comunidade, que pede estar “de acordo”! Usemos até outras palavras! Combinar o que pedir, buscar o consenso, reconciliar-se primeiro, declarar publicamente que nos queremos bem, preparar-se para a oração com um gesto de perdão recíproco e superação dos julgamentos! Dá para experimentar em nossas comunidades, e o resultado virá, não como uma mágica, mas como graça descida do Céu!
Enfim, a condição para que tudo isso aconteça: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles.” (Mt 18,20). Nossa Liturgia põe em nossa boca inúmeras vezes esta expressão: “Ele está no meio de nós!” Trata-se do mesmo Jesus presente no irmão a quem servimos, presente em nosso coração, na sua Palavra, no ensinamento do Papa e dos Bispos, o mesmo Jesus da mais alta e concreta presença viva, na Eucaristia! Ele quer e efetivamente se faz presente onde dois ou mais estão dispostos a se amarem reciprocamente, prontos a dar a vida uns pelos outros! E quem estiver disposto a dar a vida, saberá dar escuta e atenção, saberá sair de si, acolherá os ensinamentos da Igreja, tomará iniciativa do serviço, irá ao encontro dos mais pobres e sofredores, buscará a reconciliação, não abandonará os enfermos, visitará os vizinhos, estabelecerá redes de relacionamento! Tudo isso, muito mais do que por educação e civilidade, mas porque acredita que ele está presente no meio de nós!
E podemos voltar ao Plano de Pastoral da Arquidiocese de Belém, em seu quinto horizonte de ação: “Justamente o Caminho Sinodal que a Igreja percorre durante este período. Somos convidados a participar e acompanhar o Sínodo nos meses de outubro de 2023 e 2024. Estaremos atentos, para aprender de novo e sempre a caminhar juntos. Este horizonte expressa a estrada que percorremos em nosso Sínodo Arquidiocesano, a elaboração do Plano de Pastoral e a unidade pastoral desejada por todos nós. Caminhar juntos! Belém, Igreja de portas abertas! ‘A cidade se encheu de alegria’ (At 8,8)”.
Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.
Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.
Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.