IGREJA DE BELÉM RECEBE NOVO BISPO AUXILIAR

A Arquidiocese de Belém esta em festa com a Ordenação Episcopal de seu novo Bispo Auxiliar, Dom Antônio de Assis Ribeiro, que ocorreu na manhã de ontem, no município de Ourém – PA, e reuniu cerca de cinco mil pessoas de diversos municípios do Pará, várias caravanas de Belém e região metropolitana, também contou com maciça participação de Manaus e outros Estados.

A ordenação foi conduzida pelo Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará, Dom Alberto Taveira Corrêa e teve como co-ordenante Dom Flávio Giovenale, Bispo de Santaré e Dom Meinrad Francisco, Bispo de Humaitá (AM). Também marcaram presenças na concelebração dezenas de padres e diáconos.

Em sua homilia Dom Alberto agradeceu a colhido do Bispo Diocesano, Dom Jesús Maria Cizaurre Bergonces – diocese de Bragança, ao acolher de braços abertos a realização da celebração em Ourém, que pertence a diocese. O Arcebispo também agradeceu o acolhimento e presença de diversos Bispos da região, Religiosos e Religiosas, pessoas consagradas a Deus, provenientes de tantos lugares e todo o Povo de Deus aqui reunido. “A Arquidiocese de Belém do Pará se alegra sobremaneira pelo amor infinito de Deus, que nos concede o novo Bispo, para cerrar fileira comigo e com Dom Irineu Roman no serviço ao povo que nos é confiado, a Igreja, esposa de Cristo. Todos estamos santamente orgulhosos porque Deus escolheu um filho da terra paraense para o Episcopado”. Ainda em meio aos prantos de lágrimas, Dom Alberto nos diz “Todos nós fomos convocados a esta praça pelo desígnio providente de Deus, através do amor do Papa Francisco, que chamou ao Episcopado nosso querido Monsenhor Antônio de Assis Ribeiro, paraense de boa cepa, autêntico Papa-Chibé, sacerdote salesiano até o mais profundo de suas convicções e o exercício de seu ministério de religioso e sacerdote. Nossas tradições religiosas, a cultura de nosso povo amazônico, tudo se eleva hoje como oferta no Altar do Senhor. A Arquidiocese de Belém do Pará se alegra sobremaneira pelo amor infinito de Deus…” Veja a Homilia na íntegra no final do texto.

Após a profissão da homilia Dom Alberto deu sequência ao rito de ordenação de Dom Antônio, em resumo, segui-se a Promessa do Eleito, ladainha dos Santos, Imposição das Mãos e Oração de Ordenação, Unção da Cabeça e Entrega do Livro dos Evangelhos e das Insígnias, Liturgia Eucarística. Foram momentos de alegria, emoções e lágrimas de gratidão na pequena e abrasadora cidade de Ourém. Enfim toda cidade e Arquidiocese de Belém do Pará pode proferir o tão esperado ministério do agora Dom Antônio de Assis Ribeiro.

Ao final da celebração Dom Antônio de Assis Ribeiro expressa a simplicidade da alegria desde momento memorável: “Quero servir o povo de Deus com coração simples, com alegria, otimismo, simpatia e generosidade. Como diz o Papa Francisco quero ter cheiro de ovelhas, um bom pastor tem cheiro de ovelha, é isso q eu quero. O Santo Padre escolheu um filho de vaqueiro e agricultor para Episcopado. Então vocês têm um bispo agricultor e pastor, que isso fique na minha na memória para eu nunca me esquecer de onde vim e dos lugares por onde passei. Conto com as orações de vocês”.

Filho de Hipólito dos Santos Ribeiro, já falecido e Domingas de Assis Ribeiro, é o quinto filho de uma numerosa família de onze irmãos, oito homens e três mulheres. Sua mãe resplandece de alegria em meio às lágrimas diante do sonho realizado, “foi uma emoção muito grande. Lutamos para ele estudar, conseguir ser padre e hoje ele se torna bispo. É uma grande satisfação. Desde pequenininho ele queria ser padre, eu sempre disse se eu for viva até lá você será. Foi uma luta pois o pai dele não queria, mas era o sonho e conseguimos realizar.

A cerca de 190km da capital, 20 ônibus oficiais saíram das paróquias da Arquidiocese de Belém, bem como demais ônibus e micro-ônibus de grupos de caravanas, como a da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – Regional Norte 2 – CNBB N2 –, um grupo de missionárias da cidade do interior do Amazonas, Manicoré, e da congregação dos Salesianos vinda da capital Manaus, mesma congregação do ordenando.

Irmã Maria Graça, que veio do município de Maricoré, com outras sete pessoas que trabalharam com Dom Antônio no período que esteve no município, enquanto padre, fala que sempre sentiu em seu coração que Dom Antônio seria bispo “A primeira vez que encontrei já sabia que ele seria bispo pelo carisma, trabalho Pastoral e pela pessoa que ele é. Meu coração não se enganou. Viemos de muitos longe para cá (Ourém), foram horas de lancha, ônibus, barco para poder pegar um avião e chegar em Belém, e por fim, pegamos mais um ônibus para chegar aqui. Estamos muito felizes por estar aqui e representado nossa cidade, que está em festa desde o dia que soubemos de sua nomeação” comenta Irmã Graça.

A infraestrutura da cidade foi organizada pela prefeitura de Ourém, teve parceria com a Inspetoria Salesiana e Arquidiocese de Belém para que todas as demandas fossem atendidas para o acolhimento dos fiéis e celebrantes. Ao todo foram cerca de 5 mil participantes na celebração. Sobre a organização o Prefeito da cidade, Sr. Valdemiro Fernandes Coelho Junior, fala sobre o sucesso da organização “Ourém está em festa com nosso irmão padre Bira (Dom Antônio), todos nós empenhamos para acolher a todos que vieram para este grande evento. Hoje nossa cidade é a nossa capital católica, por tudo que o padre Bira é, e representa para nós”, enfatiza.

HOMILIA NA MISSA DE ORDENAÇÃO EPISCOPAL

Irmãos e irmãs, cidades de Ourém, Capitão Poço e tantas outras ligadas pela fé e o afeto ao acontecimento de Igreja que se celebra hoje nesta Paróquia, acolhidos que somos pelo Bispo Diocesano, Dom Jesús Maria Cizaurre Bergonces, que nos permitiu realizar aqui esta ordenação, e por toda a Diocese de Bragança do Pará, com a presença dos Bispos, Sacerdotes, Religiosos e Religiosas, pessoas consagradas a Deus, provenientes de tantos lugares e todo o Povo de Deus aqui reunido.

A hospitalidade desta terra nos edifica e faz brotar de nossos corações o agradecimento a todas as pessoas que se envolveram na preparação da ordenação episcopal. Saibam que a recepção oferecida no dia 29 de agosto ao Bispo eleito já correu o mundo, multiplicando a alegria de todos nós. Nosso olhar se volta especialmente para Dona Domingas de Assis Ribeiro, mãe da abençoada família de onze filhos. Do Céu, o Senhor Hipólito dos Santos Ribeiro acompanha esta Eucaristia, na comunhão com a Santíssima Trindade, com Nossa Senhora da Conceição, à qual confiamos o ministério do novo Bispo, com os anjos, com São João Bosco, São Domingos Sávio e todos os santos. Sejamos todos revestidos da glória de Deus, que nos envolve com a força de sua Palavra salvadora, a graça do Sacramento da Ordem no Episcopado e a Eucaristia, coração dos corações, o maior tesouro da Igreja.

Todos nós fomos convocados a esta praça pelo desígnio providente de Deus, através do amor do Papa Francisco, que chamou ao Episcopado nosso querido Monsenhor Antônio de Assis Ribeiro, paraense de boa cepa, autêntico Papa-Chibé, sacerdote salesiano até o mais profundo de suas convicções e o exercício de seu ministério de religioso e sacerdote. Nossas tradições religiosas, a cultura de nosso povo amazônico, tudo se eleva hoje como oferta no Altar do Senhor.

A Arquidiocese de Belém do Pará se alegra sobremaneira pelo amor infinito de Deus, que nos concede o novo Bispo, para cerrar fileira comigo e com Dom Irineu Roman no serviço ao povo que nos é confiado, a Igreja, esposa de Cristo. Todos estamos santamente orgulhosos porque Deus escolheu um filho da terra paraense para o Episcopado.

Ao dirigir-se à Arquidiocese de Belém, no dia de sua nomeação, 28 de junho de 2017, assim se expressou nosso irmão Monsenhor Antônio: “Deus me fez uma grande surpresa dando-me uma séria e exigente missão! Essa notícia me causou um forte impacto emocional. Minha primeira reação foi aquela impulsiva de questionar: por que eu?  Um forte sentimento de medo e ansiedade tomou conta de mim! Todavia, com discernimento e oração, também emergiu em mim a consciência vocacional e, com ela, o sentimento de confiança, de esperança, de serenidade e de gratidão. Sou consciente da minha pequenez, de ser pecador e estar carregado de fragilidades, mas creio firmemente que a Misericórdia Divina é infinitamente maior do que tudo! Por isso, à Bondade Divina confio minha vida que ousou, por sua graça, me chamar para esse nobre serviço à Igreja, povo de Deus, em vista da promoção do Reino de Deus. Creio que Aquele que me chamou desde o ventre materno para ser seu servo,[1] por sua pura bondade [2] também continuará me dando os meios necessários para que eu possa servir com alegria, generosidade e ardor à nossa Igreja. Dela sou servo por vocação, não por mérito pessoal!”

Aqui estamos, caro Monsenhor Antônio, em terras do Padre Bira, para testemunhar a graça de Deus em sua vida. De fato, os desafios do tempo presente parecem desproporcionais à nossa capacidade. Jesus, na oração sacerdotal, estava preocupado com os discípulos que com ele saíam do Cenáculo, para atravessar a torrente do Cedron. Eles deveriam enfrentar o mal existente no mundo, onde o espírito da mentira vai contra a verdade, que é o próprio Cristo. A posição dos discípulos é muito delicada: devem permanecer no mundo, sem ser por ele contaminados. Seu sustento é a oração de Jesus, sua Palavra e seu Espírito. No dizer de Santo Agostinho,[3] “o que quer dizer ‘por eles eu me consagro’, senão que eu os santifico em mim mesmo, enquanto eles são eu mesmo? De fato, ele fala daqueles que são membros de seu corpo”. O discípulo para o qual o Senhor voltou seu olhar misericordioso e no qual Ele mesmo quer se fazer presente se chama Antônio. Nomeado Bispo, foi-lhe dito que a partir dali não teria mais agenda, tinha que mais uma vez deixar tudo, para de novo entender o que significa agir na pessoa de Cristo! Você entendeu que, consagrado a Deus, é chamado à santidade, mas pelos irmãos. Você sabe que não está galgando degraus de uma carreira, mas entregando tudo por amor a todos os irmãos e irmãs que encontrar. Você é feito profeta, para levar o Evangelho a todos. Seja santo, consagrado, por amor!

Ninguém pode se arvorar o direito do Episcopado, a não ser que seja chamado, num ato livre de amor da parte de Deus, na mediação da Igreja. Monsenhor Antônio, caros irmãos e irmãs, sabe do mistério com o qual Deus tocou sua vida. O Evangelho que ouvimos ressoa em seu ouvido e em seu coração: “Não fostes vós que me escolhestes; fui eu que vos escolhi e vos designei para dardes fruto e para que o vosso fruto permaneça”.[4] O que a Igreja e todos nós esperamos dele é a disponibilidade total para o serviço do Evangelho, e os frutos virão, pela graça de Deus!

Desejamos que ele permaneça no amor, para ser  pastor! A medida do amor que Deus derrame no coração do novo Bispo e também de todos nós está numa palavra tão breve quanto importante: “Como”. A medida está no Céu, na vida da Santíssima Trindade, e não aqui na terra. Amar como Jesus amou, amar por primeiro com o amor que ele trouxe da eternidade, amar como a si mesmo, amar sem medidas, amar a todos, amar os inimigos, cultivar o amor recíproco, fazer-se um com todos, enfim, dar a vida, sem reservar nada para si. Há de ser construtor de um novo relacionamento entre as pessoas, o homem da convivência, da iniciativa. Basta constatar o que Deus já fez em sua vida. Os primeiros dias de convivência em Belém, desde sua chegada, têm testemunhado o trato pessoal, guardando nomes, recordando contatos anteriores, porque sabemos que veio para amar! Um rosto e um jeito de ser muito salesiano! Servo por amor!

Trata-se de um belo programa de vida, que São João Paulo II expressou de forma magnífica: “Fazer da Igreja a casa e a escola da comunhão: eis o grande desafio que nos espera. Antes de programar iniciativas concretas, é preciso promover uma espiritualidade da comunhão, elevando-a ao nível de princípio educativo em todos os lugares onde se forma o homem e o cristão, onde se educam os ministros do altar, os consagrados, os agentes pastorais, onde se constroem as famílias e as comunidades. Espiritualidade da comunhão significa em primeiro lugar ter o olhar do coração voltado para o mistério da Trindade, que habita em nós e cuja luz há de ser percebida também no rosto dos irmãos que estão ao nosso redor. Espiritualidade da comunhão significa também a capacidade de sentir o irmão de fé na unidade profunda do Corpo místico, isto é, como “um que faz parte de mim“, para saber partilhar as suas alegrias e os seus sofrimentos, para intuir os seus anseios e dar remédio às suas necessidades, para oferecer-lhe uma verdadeira e profunda amizade. Espiritualidade da comunhão é ainda a capacidade de ver antes de tudo o que há de positivo no outro, para acolhê-lo e valorizá-lo como dom de Deus: um “dom para mim”, como o é para o irmão que diretamente o recebeu. Por fim, espiritualidade da comunhão é saber “criar espaço para o irmão”, levando “os fardos uns dos outros” [5] e rejeitando as tentações egoístas que sempre nos insidiam e geram competição, arrivismo, suspeitas, ciúmes. Não haja ilusões! Sem esta caminhada espiritual, de pouco servirão os instrumentos exteriores da comunhão. Revelar-se-iam mais como estruturas sem alma, máscaras de comunhão, do que como vias para a sua expressão e crescimento”.[6]

Para viver tudo, isso, só com a graça de Deus! E esta vem do alto, é unção do Espírito para a fecundidade espiritual, a fim de que o novo Bispo leve a boa nova aos humildes, cure as feridas da alma, pregue a redenção aos cativos e a liberdade aos que estão presos.[7]

Por isso, é de São João Damasceno a prece que queremos fazer em seu nome, caro irmão: “Tu me criaste, Senhor, do corpo de meu pai e me formaste no seio de minha mãe; tu me trouxeste à luz, criancinha nua, porque as leis da nossa natureza seguem perpetuamente os teus decretos. Com a bênção do Espírito Santo, ordenaste minha criação e existência, não por vontade do homem ou desejo da carne, mas por tua graça inefável. Ordenaste o meu nascimento com um cuidado superior ao das leis naturais; adotando-me como filho, conduziste-me à luz e me incluíste entre os discípulos da tua Igreja santa e imaculada. Tu me alimentaste com o leite espiritual de tuas palavras divinas. Tu me sustentaste com o alimento sólido do corpo de Jesus Cristo, nosso Deus, teu santíssimo Unigênito, e me inebriaste com o cálice divino do seu sangue vivificante, derramado pela salvação do mundo inteiro. Ó Cristo, meu Deus, te humilhaste, levando-me em teus ombros como ovelha perdida, e me apascentaste em verdes pastagens; tu me refizeste com as águas da verdadeira doutrina por meio de teus pastores que, alimentados por ti, alimentam por sua vez o teu nobre e escolhido rebanho. Agora me chamas, Senhor, pela imposição das mãos de teu pontífice para servir os teus discípulos. Não sei por que razão me escolheste; só tu sabes. Torna, Senhor, mais leve o peso de meus pecados. Purifica minha inteligência e meu coração. Sê para mim como uma lâmpada luminosa que me conduz pelo caminho reto. Dá-me palavra fácil e concede-me uma linguagem clara e fluente, mediante a língua de fogo de teu Espírito, a fim de que tua presença sempre me assista. Sê meu pastor, e pastoreia comigo, Senhor, para que meu coração não se incline nem para a direita nem para a esquerda; que o teu Espírito bom me conduza pelo caminho reto e as minhas obras se realizem segundo tua vontade, até à última delas”. [8]

Como Jesus manifestou aos seus discípulos na última Ceia, tudo isso é dito para que nós todos, junto com o novo Bispo, tenhamos a perfeita alegria. [9] Nós desejamos que, feito servo do Senhor por amor, [10] seu ministério seja repleto de felicidade e santidade, caro irmão! [11]

[1] Cf. Is 49,1
[2] Cf. Gl 1,15
[3] Cf. Lectio divina per ogni giorno dell’anno, Queriniana, Brescia, 2002, pag. 404
[4] Jo 15,16
[5] Gl 6,2
[6] Novo millenio ineunte 43
[7] Cf. Is 61,1-3
[8] Da Exposição sobre a Fé, de São João Damasceno, presbítero (Cap. 1: PG 95, 417-419 – Séc. VIII)
[9] Jo 15, 11-17.
[10] Cf. Jo 15,15
[11]Simbolismo das insígnias acenado na Homilia em itálico: Unção do Espírito – Óleo do Crisma; Anúncio profético da Palavra de Deus: Evangelho; Cuidar da Igreja, esposa de Cristo: Anel; Santidade: Mitra; Pastoreio: Báculo

Dom Alberto Taveira Corrêa

Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará