A Solenidade de Todos os Santos e a Comemoração dos Fiéis falecidos me trouxe à mente a experiência de escoteiro, na infância e adolescência, em tempos de Seminário Menor. Aproveito para reconhecer o valor do escotismo, o Grupo Escoteiro católico conduzido em Icoaraci pela Comunidade Sementes do Verbo, além dos demais grupos desse Movimento que suscita excelentes frutos na sociedade, assim como o Escotismo Católico brasileiro, cuja coordenação nacional mantém contatos comigo. O escoteiro deve estar sempre pronto para cumprir os seus deveres para com Deus, a Pátria e o Próximo.
Entretanto, justamente a saudação dos escoteiros – Sempre Alerta! – pareceu-me adequada para ilustrar as consequências do Evangelho do Domingo que estamos para celebrar (Mc 13, 24-32). A Igreja nos propõe o tema da vigilância para as semanas finais do Ano Litúrgico. De fato, a Liturgia faz reconhecer o Senhor sempre vivo e atuante na Igreja e é também a lei da vida cristã, pois a fé professada se traduz em virtudes praticadas e coerentes com o que cremos.
Os textos da Escrituras em linguagem apocalíptica, segundo sábia orientação da Igreja e a prática dos bons biblistas, nunca sejam lidos “ao pé da letra”, mas levados em conta o tempo em que foram redigidos, o contexto cultural, a língua e outros detalhes, a fim de que estes não sejam compreendidos como ameaças às pessoas e eventuais anúncios de vinda iminente do juízo final, que chegará quando aprouver a Deus, pelo que ninguém precisa apavorar-se ou perder sono!
A vigilância nos remete ao fato de que Deus é Criador, cuja providência nos conduz e há de ser levada em conta. Primeiro dever é o amor a Deus com todas as forças, o coração e a inteligência. A oração é expressão ao amor a Deus, a ser vivida com simplicidade, humildade e confiança. Vale para a oração litúrgica, cuja maior expressão é a Santa Missa, a leitura orante da Palavra de Deus, as fórmulas, como o Pai nosso, ensinado por Jesus. Cumpri-lo significa não andar ao léu pela vida afora. Vale como sinal iniciar o dia “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”, o que significa uma escolha de viver não em nome de nossas decisões egoístas, ou, quem sabe, optar por buscar apenas o dinheiro, fechar-se aos interesses do próximo e da comunidade, mas para amar a Deus e os irmãos. E muitas outras vezes durante o dia poderemos fazer nosso sinal de alerta, o sinal da Cruz.
Vigilância pede estar atentos às presenças de Deus no dia a dia. Ele está no mais íntimo de nós. Visitar esta presença nos fará encontrar a voz suave e firme do Espírito Santo, e fará bem ouvir aquela voz. Depois, cada próximo encontrado pode ser uma visita àquele que garantiu estar “escondido” e ao mesmo tempo exuberante, de forma que os gestos feitos a ele nos irmãos, até um copo d’água dado por amor, serão lembrados. Quando as pessoas se reúnem, ou numa família unida para uma festa ou um passeio, também a vida cotidiana junto com os outros expressa a presença do Senhor. É vigilância nossa certeza de que onde dois ou mais estão reunidos em seu nome, ali está ele (Cf. Mt 18, 20).
Como se não bastasse, aos seus apóstolos garantiu que quem os ouvisse encontraria sua própria voz e presença (Cf. Lc 10, 16), e estes continuam sua missão através de seus sucessores, o Papa e os Bispos. E vivemos num tempo privilegiado, no qual a palavra e o ensinamento diário nos chegam cotidianamente com incrível rapidez.
No Evangelho (Cf. Mc 13, 14-32) o Senhor nos alerta para os sinais dos tempos, diante dos quais devemos tomar decisões, também com a certeza de que suas palavras, que são de vida eterna, não passarão. As atitudes do cristão, diante do Evangelho, serão sempre de sadio otimismo, identificando nos fatos os apelos do Senhor, sempre resumidos no amor a Deus e ao próximo.
Com a certeza de que Jesus Cristo é o mesmo, ontem e sempre, podemos sim, cantar com serenidade a música de Antônio Carlos Santini e gravada de forma magnífica e ungida por Monsenhor Jonas Abib: “Vigia, esperando a aurora, qual noiva esperando o amor, é assim que o servo espera a vinda do seu Senhor. Ao longe, um galo vai cantar seu canto, o Sol, no céu, vai estender seu manto, na madrugada eu estarei desperto que j á vem perto o dia do Senhor. Vigia, esperando a aurora, qual noiva esperando o amor, é assim que o servo espera a vinda do seu Senhor. A minha voz vai acordar meu povo, louvando a Deus que faz um mundo novo, não vou ligar se a madrugada é fria, que um novo dia logo vai chegar. Vigia, esperando a aurora, qual noiva esperando o amor, é assim que o servo espera a vinda do seu Senhor. Se é noite escura, acendo a minha tocha, dentro do peito o Sol já desabrocha. Filho da luz, não vou dormir: Vigio! Ao mundo frio vou levar o amor! Vigia, esperando a aurora, qual noiva esperando o amor. É assim que o servo espera a vinda do seu Senhor.”
E em cada Eucaristia, presença maior e certa da presença do Senhor, aclamaremos felizes: “Anunciamos, Senhor, a vossa Morte e proclamamos a vossa Ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!”. Na comunhão podemos dizer “Amém” ao receber o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo! Nele e com Ele, já estamos no final dos tempos, no tempo completo, o tempo, desde que Ele veio!
Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.
Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.
Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.