É preciso compreender, antes de tudo, que a natureza da Igreja é sinodal. O que isto significa? Sínodo, como já sabemos, palavra de origem grega – sin-hodos – que significa “juntos no caminho”, isto é, todos caminhando juntos rumo à meta estabelecida. Com mais exatidão, sínodo significa que a experiência eclesial não envolve apenas os diáconos, padres, bispos, isto é, a hierarquia da igreja, mas sim todo o povo de Deus. Na barca de Pedro, somos o povo de Deus chamado a caminhar em unidade. De fato, somente se caminhamos juntos nós somos e nos tornamos igreja-povo de Deus; caso contrário, nos tornamos uma simples organização social, como tantas outras Ongs existentes mundo afora.
A convocação do sínodo arquidiocesano e todo o processo que ele envolve é uma real experiência eclesial de comunhão para “ouvir o que o Espírito Santo diz à nossa Igreja” (cf. Ap 2,7), é tempo de escuta de todas as forças vivas que compõem o povo de Deus e também de outras entidades da sociedade civil organizada. Muitos são os motivos para considerarmos este período como “tempo de graça” para compreendermos melhor as várias dimensões eclesiais da ação evangelizadora da Igreja Católica nesta nossa região amazônica. Eis algumas delas:
1. Caminhar em unidade para realizar um efetivo serviço de evangelização. Muitas atividades evangelizadoras e missionárias acontecem em todo o território de nossa arquidiocese; contudo, se mostram, com frequência, ações isoladas e restritas sem força de eficaz transformação social. “Caminhar juntos” na mesma direção pode consolidar a mudança que precisa acontecer. A evangelização, se realizada em forma sinodal, certamente colocará a Arquidiocese de Belém no espírito de Igreja em saída, o movimento tão enfatizado pelo Papa Francisco nos últimos anos.
2. A necessidade da cultura do acolhimento. Várias pesquisas mostram que, nos últimos anos, aumentou o número de católicos que abandonaram a religião ou mudaram de igreja. Este fato nos põe a pergunta: para onde essas pessoas foram? Por que elas mudaram de religião? Certamente entram muitas coisas nesta questão, como tantas situações de sofrimento, morte de familiares e doenças que motivaram as conversões para outras denominações cristãs. Isso nos leva a crer que há uma lacuna no acolhimento, na experiência do ser família que faltou para essas pessoas quando pertenciam à Igreja católica. O Sínodo arquidiocesano propõe uma reflexão séria a respeito desse assunto tão sensível. Acolher não é uma necessidade apenas para evitar a perda de fiéis, mas para manter a saúde da vida comunitária nas paróquias e permitir que as pessoas se sintam cada vez mais plenas e seguras por estarem inseridas na família de Deus. E isso é responsabilidade de todos nós!
3. Fortalecer a catequese e a formação para a iniciação à vida cristã. Na preparação para o sínodo da arquidiocese de São Paulo, uma pesquisa trouxe um dado que muito chamou atenção de todos. Dos católicos, apenas 64,4% disseram crer na Ressurreição de Cristo e também manifestaram uma certa confusão de conceito quando se fala de reencarnação. Em nossa região, de modo geral, também é flagrante a ignorância religiosa. O Novo Diretório da Catequese, recentemente publicado, propõe a catequese – não apenas naquele modelo, tipo escolar, por muito tempo oferecido às crianças – mas sim uma catequese que realmente seja um caminho de iniciação à vida crista. Nas assembleias das nossas Regiões Episcopais, e na assembleia geral do Sínodo, precisamos refletir e avançar concretamente nas propostas desta catequese como iniciação à vida crista para todos os fiéis.
4. Formar discípulos-missionários. “A alegria do Evangelho, que enche a vida da comunidade dos discípulos, é uma alegria missionária”, diz o Papa Francisco na Evangelii Gaudium. O aspecto missionário é uma consequência natural de quem vive a experiência com Jesus. Nesta perspectiva, o compromisso de estimular e formar as pessoas para a missão é, sem dúvida, o grande pano de fundo do Sínodo Arquidiocesano.
Não percamos esta chance de viver este “tempo de graça” em nossas paróquias, em nossas Regiões Episcopais, em nossa Arquidiocese.
Padre Hélio Fronczak
Secretário do Sínodo da Arquidiocese de Belém
Vigário Episcopal da Região Nossa Senhora do Ó
Pároco da Paróquia Nossa Senhora do Carmo