O contato de Jesus com as pessoas abrange um círculo cada vez mais aberto, no qual entram as multidões, das quais emergem os discípulos chamados a espalhar a boa nova, assim como os doentes, os mais distantes, vindos de outros ambientes, inclusive do paganismo, os pecadores de toda classe, ricos e pobres. Ele quer atingir a todos, fazendo-lhes chegar o convite ao Reino de Deus. Basta acompanhar, com o Evangelho de São Marcos (Cf. Mc 1,29-39), a chamada “Jornada de Cafarnaum”, quando vai à Sinagoga, depois à Casa de Simão e André, acolhe as multidões, recolhe-se em oração, madrugada afora, para ir depois a outros lugares, pois para isso ele veio. E sua fama se espalhou! A Igreja, por ele fundada, recebeu a missão de sair pelo mundo e estender tal convite até os confins da terra, indo ao encontro da sede de Deus, plantada pelo Espírito Santo no coração de todos, para ser casa acolhedora para toda a humanidade. Igreja em saída, casa e mãe acolhedora para todos!
O Concílio Vaticano II, na Constituição sobre a Igreja (Lumen Gentium 2 e 16), traz preciosos e oportunos ensinamentos sobre a vocação da Igreja, a fim de que se dedique a envolver toda a humanidade. Diz o Concílio que o Eterno Pai criou todo o universo, em sua sabedoria e bondade, e decretou elevar os homens à participação da vida divina. Quando caíram, na pessoa de Adão, jamais os abandonou, mas, em atenção a Cristo Redentor que é a imagem de Deus invisível, primogênito de toda a criação (Cl 1,15) sempre concedeu os auxílios para se salvarem. Aos eleitos, o Pai, antes de todos os séculos os discerniu e predestinou para reproduzirem a imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito de uma multidão de irmãos (Rm 8,29). E, aos que creem em Cristo, decidiu chamá-los à santa Igreja, que foi constituída no fim dos tempos e manifestada pela efusão do Espírito, e será gloriosamente consumada no fim dos séculos. Então, todos os justos depois de Adão, desde o justo Abel até ao último eleito, se reunirão em Igreja universal junto do Pai (Cf. Lumen Gentium 2).
A Igreja olha para os outros cristãos que têm em comum conosco o mesmo Batismo, para depois buscar uma resposta à pergunta a respeito dos que se encontram distantes (Cf. Lumen Gentium 16). É magnífica a palavra da Igreja: Aqueles que ainda não receberam o Evangelho, estão de uma forma ou outra orientados para o Povo de Deus. Em primeiro lugar, aquele povo que recebeu a aliança e as promessas, e do qual nasceu Cristo segundo a carne (Cf. Rm 9,4-5), povo que segundo a eleição é muito amado, por causa dos Patriarcas, já que os dons e o chamamento de Deus são irrevogáveis (Cf. Rm 11,28-29). Mas o desígnio da salvação estende-se também àqueles que reconhecem o Criador, entre os quais vêm em primeiro lugar os muçulmanos, que professam seguir a fé de Abraão, e conosco adoram o Deus único e misericordioso, que há de julgar os homens no último dia. E o mesmo Senhor nem sequer está longe daqueles que buscam, na sombra e em imagens, o Deus que ainda desconhecem; já que é ele quem a todos dá vida, respiração e tudo o mais (Cf. At 17,25-28) e, como Salvador, quer que todos os homens se salvem (Cf. 1 Tm 2,4). Com efeito, aqueles que, ignorando sem culpa o Evangelho de Cristo, e a sua Igreja, procuram, contudo, a Deus com coração sincero, e se esforçam, sob o influxo da graça, por cumprir a sua vontade, manifestada pelo ditame da consciência, também eles podem alcançar a salvação eterna. Nem a divina Providência nega os auxílios necessários à salvação àqueles que, sem culpa, não chegaram ainda ao conhecimento explícito de Deus e se esforçam, não sem o auxílio da graça, por levar uma vida reta. Tudo o que de bom e verdadeiro neles há, é considerado pela Igreja como preparação para receberem o Evangelho, dado por aquele que ilumina todos os homens, para que possuam finalmente a vida. Mas, muitas vezes, os homens, enganados pelo demônio, desorientam-se em seus pensamentos e trocam a verdade de Deus pela mentira, servindo a criatura de preferência ao Criador (Cf. Rm 1,21-25), ou então, vivendo e morrendo sem Deus neste mundo, se expõem ao desespero final. Por isso, para promover a glória de Deus e a salvação de todos estes, a Igreja, lembrada do mandato do Senhor, de pregar o Evangelho a toda a criatura (Mc 16,16), procura zelosamente impulsionar as missões.
Algumas consequências brotam para todos nós. A todos cheguem nosso olhar e nossos gestos de atenção. Se apenas olharmos para as pessoas, não como potenciais inimigas, competidoras ou agressoras, mas candidatas à comunhão com Deus e com os irmãos, já mudaremos um pouco o mundo. Antes de serem conhecidas e se tornarem amigas, elas são feitas parceiras na mesma aventura da fraternidade! Amá-las sem julgamentos suscitará, mais cedo ou mais tarde, uma pergunta a respeito das motivações que nos movem, gerando o testemunho explícito.
Entretanto, não é possível a omissão diante do mandato missionário de Jesus, cuja força envolve todos os batizados. São Paulo assim o entendeu (1 Cor 9,16-23): “Ai de mim, se eu não anunciar o evangelho! Se eu o fizesse por iniciativa minha, teria direito a uma recompensa. Mas se o faço por imposição, trata-se de uma incumbência a mim confiada. Então, qual é a minha recompensa? Ela está no fato de eu anunciar o evangelho gratuitamente, sem fazer uso do direito que o evangelho me confere!” Como o bem se difunde por si mesmo, brota de dentro das pessoas que professam a fé o desejo e o dever de comunicar aos outros a verdade. É bom perguntar-nos se alguém já se aproximou de Jesus Cristo através de nosso modo de viver!
E ele aponta um método de trabalho evangelizador, para ir ao encontro de todos que, às vezes sem o saberem, procuram Jesus. Continua o Apóstolo no mesmo texto da Carta aos Coríntios, a ser lido neste final de semana nas missas dominicais: “Livre em relação a todos, eu me tornei escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível. Com os judeus, me fiz judeu, para ganhar os judeus. Com os súditos da Lei, me fiz súdito da Lei – embora não fosse mais súdito da Lei –, para ganhar os súditos da Lei. Com os sem lei, me fiz um sem lei – eu que não era sem a lei de Deus, já que estava na lei de Cristo –, para ganhar os sem lei. Com os fracos me fiz fraco, para ganhar os fracos. Para todos eu me fiz tudo, para certamente salvar alguns. Por causa do evangelho eu faço tudo, para dele me tornar participante”.
A meta é alcançar a todos, sabendo que “todos o procuram” (Mc 1,37). Todos os que professam a fé cristã se sintam positivamente incomodados e convidados a saírem de si mesmos e descobrirem novas formas para fazer a Igreja presente nos diversos ambientes. O caminho é fazer-nos um com os outros, o que se faz com aproximação e diálogo, valorização do bem que existe no coração das pessoas. Vale ainda aproveitar as oportunidades para convidar e acompanhar as pessoas às atividades de Igreja. As Pastorais, Movimentos e Serviços de nossas Paróquias podem ampliar seus horizontes de atividade, abrindo novas fronteiras para a evangelização. De acordo com os dons recebidos, perguntem-se sobre os campos novos ou a serem renovados pela sua atuação. Pode ser a infância, a adolescência e juventude, a família, a luta pelo valor da vida, a promoção humana. Descubra cada um o seu lugar, porque todos procuram Jesus!
Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.
Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.
Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.