A devoção a Nossa Senhora das Graças em Belém ganhou projeção a partir de 1949, quando um fato extraordinário aconteceu: um quadro com a imagem de Nossa Senhora verteu lágrimas na casa de uma senhora chamada Zenóbia Castro, situada à Av. Conselheiro Furtado, entre 9 de janeiro e 3 de Maio. Este episódio sacudiu o povo de Belém, pois se repetiu várias vezes atraindo um grande número de fiéis que, em caravanas, chegavam de várias partes do interior do Estado. Segundo testemunhas, até milagres aconteceram.
Em Icoaraci, então chamada Vila do Pinheiro, com uma população estimada em Dez mil habitantes, a comunidade católica apesar de ter como padroeiro São João Batista, reverenciava também dois outros santos: São Raimundo Nonato e São Benedito a tal ponto de lhes dedicar uma festividade com arraial em frente à matriz, procissões, etc. que durava 15 dias, do final do mês de agosto à primeira semana de setembro.
O ponto forte do arraial eram os leilões de objetos doados pela comunidade destinados a angariar fundos para o trabalho evangelizador e social da Paróquia. Havia também as barraquinhas de comidas e bebidas, jogos, brincadeiras como roda gigante, barquinhos puxados à corda, pescaria, mão na cumbuca e bandas de música para alegrar os devotos, o que atraia muita gente, sobretudo nos fins de semana.
O episódio do “choro da imagem” mudou a face da devoção em Icoaraci.
Muitas romarias passaram a ser organizadas desde o Pinheiro para a residência de D. Zenóbia, lideradas por devotos como José Maria Cunha (Braga), Bento Castro, Orlando Cunha, José Sobral e outras tantas pessoas que iam de trem até São Brás e de lá a pé, até o local do “milagre”. Ali presenciavam curas e outros fatos extraordinários operados, segundo os devotos, pela Santa.
A devoção em torno e Nossa Senhora das Graças cresceu tanto que no local foi construída uma capela, até hoje ali existente.
A partir daí surgiu a ideia de trazer a devoção para a Vila. Nesse tempo a paróquia era dirigida pelos Missionários da Sagrada Família. O pároco era o Padre José Edmundo Endres e o Vigário Padre Jacob Schiller. Ouvindo os apelos da comunidade, programaram para o ano de 1952 uma grande procissão que passaria a denominar-se CÍRIO, bem ao estilo do Círio de Nossa Senhora de Nazaré.
O primeiro Círio foi realizado no 2º. Domingo de novembro de 1952, ocasião em que foi construída na lateral direita da Matriz uma capela especial com um nicho para colocar a imagem de Nossa Senhora das Graças. A procissão foi acompanhada por um grupo expressivo de pessoas que participaram com fé e devoção. Esse acontecimento se deu na gestão do Sr. José do Couto Rodrigues (“Zé Papudo”) que juntamente com os diretores Edilberto Santos Dumont e Leandro Plácido Ferreira organizaram a procissão sob a coordenação geral do Pároco. Foi o Sr. Leandro que compôs a letra do Hino de Nossa Senhora das Graças.
A primeira berlinda da Santa foi doada pela direção da Santa Casa de Misericórdia do Pará. Na verdade, foram dois carros fúnebres que, depois de desinfetados foram adaptados para colocar sobre ele o nicho-berlinda. O outro serviu para o Carro dos Anjos. O carro da berlinda foi usado até o ano de 1989, quando foi substituído por um maior doado pelo Sr. José da Silva Barros.
A festividade de Nossa Senhora das Graças conviveu com a de São Benedito e São Raimundo Nonato durante vários anos. Porém, o crescimento da devoção e da festividade de Nossa Senhora, que também durava 15 dias, aos poucos foi esvaziando a dos dois santos até ser encerrada nos meados da década de 1960. Dos dois santos apenas as suas imagens na Igreja Matriz guardam a lembrança de sua festa e devoção.
Ao substituir os padres da Sagrada Família, Monsenhor José Maria Azevedo, sacerdote diocesano e paraense, desde 1959, incrementou ainda mais a festa, colocando à frente dela pessoas de sua estima e amizade que se dedicavam totalmente à sua organização. Esses abnegados organizaram a festa até 1977.
Foi neste período que surgiu o Hino de Nossa Senhora das Graças, autoria do Sr. Leandro Pinheiro.
Ao assumir a Paróquia em 1977 o Padre Jaime Sidônio procurou dar-lhe um cunho mais pastoral e evangelizador, dando início aos terços da alvorada (às 05h30 da manhã), motivando também para uma preparação mais intensa do Círio. Todos os anos, desde 1977, se reflete sobre um tema durante as celebrações em torno da festa.
Em 1989 foi criada a Guarda de Nossa Senhora das Graças com o objetivo de ajudar e apoiar a organização da romaria do Círio juntamente com a diretoria da festa.
Em 1990 a chamada Barraca da Santa que funcionava ao lado da Matriz passa a para o Salão Paroquial; Em 1994, foram introduzidas as peregrinações nas capelas e residências de Icoaraci e ilhas adjacentes.
Em 1995, a imagem da Santa que saía da Capela do Colégio de Lourdes no dia da Trasladação para a capela de São Sebastião, passa ser levada na antevéspera do Círio para a Matriz da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, no bairro da Agulha, em carreata. De lá, após celebração da Santa Missa sai a Trasladação para a Capela de São Sebastião, no Cruzeiro.
Em 2002, foi celebrado o 50º. Círio. Alguns eventos marcaram esta data. A denominação da Paróquia, por força da grande devoção a Nossa Senhora passa a ser Paróquia São João Batista e Nossa Senhora das Graças, por uma concessão de Dom Vicente Zico.
Também foram iniciadas as novenas de Nossa Senhora. No dia 27 de cada mês, a começar de fevereiro se celebra a Novena de Nossa Senhora. Até 2005 as novenas eram celebradas na Matriz, passando em 2006 a ser celebradas nas comunidades.
Também foram iniciadas em 2003 as peregrinações da imagem nas escolas e empresas e instituições de Icoaraci, o que tem proporcionado um incremento na devoção. As escolas encerram as celebrações na sexta-feira antes do Círio com uma expressiva participação.
Todas essas mudanças só serviram para melhorar o aspecto do Círio em todos os sentidos e a esclarecer a vivência da fé de nosso povo.Percebe-se isso através do aumento da participação das pessoas nos eventos relacionados à festividade: Semana Mariana, peregrinações, trasladação, Círio, quinzenário, homenagens, etc…