Ave Maria, cheia de graça! Há alguns meses, apresentamos jubilosos o Cartaz do Círio de Nazaré 2020, proclamando felizes: “Aparecem as flores no campo. Levanta-te, minha amada, minha bela, e vem! Mostra-me o teu rosto e a tua voz ressoe aos meus ouvidos, pois a tua voz é suave e o teu rosto é lindo!” (Cf. Ct 2, 12-14).
Deus preparou com amor, em previsão dos méritos de Cristo, aquela que devia ser a Mãe do Redentor, fazendo-a Imaculada (Cf. Lc 1, 28), luminosa, toda pura, cheia de graça! Em torno dela tudo se torna mais belo e melhor! O cartaz do Círio de Nazaré 2020 nos remeteu à esplêndida luminosidade que brota daquela que é imaculada. Em torno de Maria, as flores proclamam a beleza interior e exterior de Maria. A ela, Mãe e Modelo da Igreja, aplicam-se também as palavras do Apocalipse: “Apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida com o sol, tendo a lua debaixo dos pés e, sobre a cabeça, uma coroa de doze estrelas” (Ap 12, 1).
Entretanto, a Imaculada que “passou na nossa frente” e já chegou ao Céu, pela bondade de Deus, permanece também aqui conosco, na graça do Círio de Nazaré. Sua “casa”, a Berlinda, passa pelas nossas ruas e entra em nosso coração no mês de outubro. Como já estamos vivendo o Círio, a Imaculada, em seu cartaz, está circundada de Anjos que oferecem flores e a transformam num belo caramanchão. O caramanchão está quase transparente de luzes, pois na casa da Imaculada são acolhidos todos aqueles que acreditam que “Deus nos escolheu, antes da fundação do mundo, para sermos santos e imaculados diante dele, no amor. Conforme o desígnio benevolente de sua vontade, ele nos predestinou à adoção como filhos, por obra de Jesus Cristo, para o louvor de sua graça gloriosa, com que nos agraciou no seu bem-amado” (Ef 1, 4-6).
As luzes da Salvação já estavam brilhando junto de Deus, quando foi escolhida aquela que foi toda transparente aos planos de seu amor pela humanidade. Em Nazaré, na Anunciação resplandeceu o plano de Deus, na escolha da Virgem, preparada antes dos séculos, em previsão dos méritos de Cristo. Em Nazaré, a casa da Sagrada Família foi toda iluminada pela ação do Espírito Santo, na docilidade daquela que, chamada Sede da Sabedoria, é Mãe de Família. Em Nazaré, José, um homem justo e bom, iluminava o trabalho e a convivência com seu exemplo. Em Nazaré, o Verbo de Deus feito Carne, chamado Filho do Carpinteiro, ele mesmo, é a Luz do Mundo.
Em Nazaré, a casa da Virgem Maria brilha desde sempre, seus raios luminosos atravessam os séculos e preenchem todos os espaços. De lá brota a luz intensa que se espalha entre nós. E não pode existir paraense nem belenense sem Nossa Senhora de Nazaré e sem a luz do Círio acesa em nossos corações, na Basílica de Nazaré, em nossas ruas e em nossas casas. Será muito difícil encontrar qualquer casa sem uma imagem, um quadro ou um cartaz de Nossa Senhora de Nazaré e de seu Círio.
Se os meses passados no recolhimento de nossas casas nos fizeram viver nas Igrejas domésticas que se abriram e se multiplicaram, a escuridão não tomou conta de nós. Nossa devoção a Nossa Senhora de Nazaré iluminou nossa vida e nos fez desfiar as contas do Rosário, contemplando com o Coração e o olhar de Maria os mistérios de Cristo. Com toda certeza, a superação dos momentos mais difíceis de sofrimento, e muitos ainda continuam a nos preocupar, aconteceu no regaço da Virgem Maria.
Sabemos também que muitas pessoas queridas, das quais agora fazemos memória, ao terminarem sua caminhada na terra durante estes meses, puderam cantar, ao entrar no Céu: “Com minha Mãe estarei na santa Glória um dia, junto à Virgem Maria, no Céu triunfarei. No Céu, no Céu, com minha Mãe estarei. Com minha Mãe estarei, aos anjos me ajuntando, do onipotente ao mando, hosanas lhe darei. Com minha Mãe estarei, palavra deliciosa, que em hora trabalhosa sempre recordarei. Com minha Mãe estarei, mas já que hei ofendido, ao seu Jesus querido, as culpas chorarei”. Céu e terra estão unidos, na aventura da vida cristã, mesmo ao passar pelo vale da sombra da morte.
E aqui, desejamos assumir juntos a responsabilidade de realizar o Círio de Nazaré de 2020, vivendo a fé em Cristo sem distâncias. Nosso modelo e nossa intercessora é a Virgem Maria, Nossa Senhora de Nazaré! Pelas estradas da vida, nunca estamos sozinhos, como cantamos muitas vezes. Conosco, pelo caminho, vai Santa Maria de Nazaré. Com sua companhia, mesmo que os homens caminhem sem se conhecerem, nunca negaremos as mãos aos que encontrarmos, como fazemos todos os anos, nas multidões que fazem o Círio. Mesmo que alguém diga que nada podemos mudar, o povo do Círio luta por um mundo novo de unidade e paz e nunca desanima. Se alguns disserem que é inútil nosso caminhar pelas ruas de Belém, nós abrimos caminho e muitos nos seguirão!
Para nós, o Círio vai acontecer e deve acontecer, ainda que tenhamos muitas adaptações a fazer. Durante estes meses, consultamos as autoridades do Estado e do Município, constituímos uma comissão de médicos para nos assessorarem, a Diretoria do Círio de Nazaré se debruçou com seriedade sobre as decisões a serem tomadas, junto com os Bispos, para seguirmos todas as normas vigentes e medidas preventivas necessárias, a fim de que nossa grande festa se realize sem colocar em risco a saúde das pessoas. Será necessário reduzir as ocasiões de concentração de pessoas, nas modalidades que serão explicadas pouco a pouco. Não poderemos realizar da forma costumeira as procissões que caracterizam o Círio de Nazaré, pois simplificaremos os eventos do segundo final de semana de outubro, vindo depois a se realizar a quinzena do Círio, que será a grande ocasião de evangelização e formação. Todas as pessoas que tiverem promessas a serem cumpridas poderão fazê-lo durante toda a quadra nazarena. Um Círio diferente, tarefa de todos nós, cristãos católicos que o assumimos como missão, dando exemplo a todos de que somos capazes de abraçar também as cruzes e limitações que nos vieram durante este período! O Círio do final de semana vai se estender pela quadra nazarena!
Várias localidades em nossa região e em outras paragens tiveram que cancelar seus eventos e festividades. Nós optamos por fazer o Círio, do jeito que for possível e com a compreensão, colaboração e participação de todos! Muitas pessoas nos perguntam sobre os ícones do Círio: Imagem peregrina, Procissões da transladação e do Círio, Corda! Mesmo com muita dor no coração, cabe-me dizer que não poderemos fazer tudo de acordo com nossos costumes e nossa linda tradição! Sabemos que não será possível ter a multidão pelas ruas do jeito que gostamos e é próprio do povo paraense.
No entanto, deveremos acolher um outro tipo de laços, vindos do amor do Senhor, no dizer do Profeta Oséias: “Sim, fui eu quem ensinou Efraim a andar, segurando-o pela mão. Só que eles não percebiam que era eu quem deles cuidava. Eu os lacei com laços de amizade, eu os amarrei com cordas de amor; fazia com eles como quem toma uma criança ao colo e a traz até junto ao rosto. Para dar-lhes de comer eu me abaixava até eles” (Os 11, 3-4). Deus vem até nós e cuida de nós com seu amor, nos amarra com as cordas da fraternidade e da devoção mariana, consola as nossas dores e sofrimentos, acende em nós a chama da esperança, marca conosco o compromisso dos muitos Círios que virão. Nossa fé não conhece distâncias!
Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.
Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.
Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.