Jesus Cristo morreu! Jesus Cristo ressuscitou! Jesus Cristo é o Senhor! Jesus Cristo há de voltar! Diante de tal anúncio, desde sempre nasce a pergunta e a consequente resposta, inspirada pelo Espírito Santo: “Quando ouviram isso, ficaram com o coração compungido e perguntaram a Pedro e aos outros apóstolos: ‘Irmãos, que devemos fazer?’ Pedro respondeu: ‘Convertei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para o perdão dos vossos pecados. E recebereis o dom do Espírito Santo. Pois a promessa é para vós e vossos filhos, e para todos aqueles que estão longe, todos aqueles que o Senhor, nosso Deus, chamar’” (At 2,37-39). Sabemos que no correr dos séculos tal anúncio e a esperança de sua vinda têm força para suscitar a mudança de vida e o espírito apostólico e missionário, para que a Boa Nova do Evangelho alcance os confins da terra e dos corações. Comecemos com a disposição à conversão!
Em cada Celebração Eucarística renovamos nossa certeza da plenitude da vida, quando o Senhor se manifestar em sua glória: “Todas as vezes que comemos deste pão e bebemos deste cálice, anunciamos, Senhor, a vossa morte, quanto esperamos a vossa vinda!” E nós o fazemos no tempo que nos é dado, no dia a dia do mundo e da Igreja. Tempo! O tempo do calendário, do relógio ou da agenda cheia de compromissos, o ano que corre mais do que esperávamos, o tempo físico. Entretanto, temos a viver o tempo da graça. É do Apóstolo São Paulo a recomendação: “Exortamos-vos a não receberdes em vão a graça de Deus, pois ele diz: ‘No momento favorável, eu te ouvi, no dia da salvação, eu te socorri’. É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação” (1Cor 6,1-2). Como viver o tempo da Esperança, que muitos de nós chamamos “Tempo do Espírito”, na certeza de que o Espírito Santo explica todas as coisas e nos inspira as respostas a serem dadas diante dos desafios do cotidiano?
No tempo favorável dado por Deus, recordemos o ensinamento da Carta aos Hebreus: “Cuidai, irmãos, que não se ache em algum de vós um coração transviado pela incredulidade; que ninguém se afaste do Deus vivo. Antes, animai-vos uns aos outros, dia após dia, enquanto ressoar esse “hoje”, para que nenhum de vós fique endurecido pela sedução do pecado, pois tornamo-nos parceiros de Cristo, contanto que mantenhamos firme até o fim a nossa constância inicial” (Cf. Hb 3,12-14).
“Não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá sua própria preocupação! A cada dia basta o seu mal” (Mt 6,34). Viver bem cada dia, aproveitando todas as oportunidades para amar a Deus e ao próximo. Há poucos dias recordamos em Belém o oitavo aniversário da Páscoa pessoal de Dom Vicente Joaquim Zico. Muitos se lembraram do anúncio que lhe foi feito, com o agravamento de sua enfermidade, quando recordamos que o anjo da Igreja lhe dizia: “Ditosos os mortos, os que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, que era hora de descansar de suas fadigas, pois suas obras os acompanham” (Ap 14,13). Sua resposta ressoa em nossos ouvidos: “Não tenho receio de me apresentar diante de Deus. Nesta terra, amei a Deus de todo o coração!”
Para adquirir tamanha serenidade, faz-se necessário discernimento, capacidade de identificar como e quando será necessário falar ou agir. Sem atenção, escuta, paciência, serenidade, virão os atropelos, a improvisação e a precipitação nas decisões, comprometendo o bem a ser feito. Discernimento se faz escutando a voz interior, com a qual o Espírito Santo nos conduz, seguindo as inspirações de nossa consciência, que foi criada e direcionada por Deus para o bem e a verdade. Discernimento se faz com a luz da Palavra de Deus, lida, rezada e vivida, com a qual ela orienta e corrige os rumos de nossas decisões. Discernimento acontece com a escuta de pessoas mais vividas e bem vividas nos caminhos do Evangelho, conselheiros e conselheiras, quando a presença de Jesus entre aqueles que se reúnem em seu nome ilumina os passos a serem dados.
Há perguntas e dificuldades interiores a serem superadas. Guardar problemas, sem buscar com sinceridade a orientação necessária, significa “criar cobra dentro de casa”. Há algum tempo o Papa recordou uma expressão conhecida, que afirma ser “melhor ficar com o rosto queimando ou vermelho de vergonha, ao abrir o coração, do que ficar amarelo o resto da vida”. Coragem para pedir ajuda ou socorro é fundamental em nosso caminho para a realização, a felicidade e a santidade.
Na vida interior, no relacionamento com a família, ou irmãos e irmãs na comunidade cristã, assim como no dia a dia das atividades correspondentes à vocação ou situação de cada pessoa, enquanto esperamos a vinda do Senhor, no tempo que vai da Ascensão e o Pentecostes até o fim dos tempos, cabe-nos enxergar mais o que é positivo do que colocar em relevo coisas negativas das pessoas e da vida. Há que se superar a maldade refinada de sempre acrescentar um, “porém”, sem abraçar o que existe de bom nas outras pessoas. Apenas um exemplo pode ajudar: quando nosso olhar está carregado de julgamentos, exercitar a lembrança de algo positivo da pessoa em questão, até porque ninguém é totalmente mau ou incompetente!
A virtude da Esperança, dada de presente no Batismo, haverá de infundir em nós o sentido de nossa história pessoal e da história do mundo, “porque não temos aqui cidade permanente, mas estamos à procura da que está para vir” (Hb 13,14). “Se é só para esta vida que pusemos a nossa esperança em Cristo, somos, dentre todos os homens, os mais dignos de compaixão. Como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos serão vivificados” (Cf. 1 Cor 15, 19-22). Se afirmamos na profissão de fé que acreditamos na Ressurreição da Carne, na Remissão dos Pecados e na Vida Eterna, não nos é lícito deixar de pensar na eternidade. Estamos certos de que a plenitude está lá, junto de Deus, e um dia deveremos apresentar-nos diante do Senhor. Aguardamos, sim, a sua vinda. Não reduzir nossa esperança a esta terra, saber que as dificuldades serão superadas, um mundo novo vem mais de Deus do que de nossas próprias forças. Por isso, aclamamos com a Igreja o Mistério da Fé: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa Ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!”
Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.
Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.
Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.