Os discípulos de Cristo estão no mundo, mas haverão de tomar consciência, no seu dia a dia, de não serem do mundo (Cf. Jo 17,1-21). Cabe-lhes caminhar entre as coisas visíveis, como se estivessem vendo as invisíveis (Cf. Hb 11,27-40). É sua responsabilidade anunciar valores do Reino de Deus, provocando, em torno de si, com seu testemunho e sua palavra, a irrupção de um mundo possível, novo e diferente, sejam quais forem as situações em que se encontrem. E nesta semana, dois Corações chamam nossa atenção e nos conduzem a aprofundar a missão dos cristãos no mundo: a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus e a Festa do Imaculado Coração de Maria.
Voltemos os nossos olhos para o Crucificado. Dois corações batem em uníssono! O Filho de Deus e Filho de Maria não guardou nada para si. Até a mãe, que lhe era própria, ele deu a João e à humanidade ali representada. Maria acolhe mais uma missão, quando, no lugar de seu Filho único, acolhe uma humanidade chagada e frágil, que viria a ser como que o seu Jesus dali para frente! João e a humanidade a acolhem entre aquilo que lhes pertence. Não será mais possível ser autêntico discípulo de Cristo sem levar Maria consigo!
Logo depois, sabendo que tudo estava consumado, Jesus entregou o Espírito! (Cf. Jo 19,28-37) Do alto do trono do amor maior, o Filho eterno do Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, e amado até o fim (Cf. Jo 13,1), teve o seu lado aberto pela lança do soldado. Dali nasce a Igreja, na Água e no Sangue, que nos remetem a dois Sacramentos fundamentais, o Batismo e a Eucaristia. Abriu-se uma torrente de graças que brota incansavelmente, para que todos possam saciar-se da vida que brota daquele que pode dar água viva. Espetáculo de comunhão e missão, cujos detalhes só poderiam brotar da eterna poesia da Trindade! Mais adiante, a primeira Carta de São João (1 Jo 5,7-8) atesta que o Espírito, a Água e o Sangue dão testemunho dele! E no final de tudo (Cf. Ap 22,8-21), o Espírito e a Esposa-Igreja clamam “Vem, Senhor Jesus”! O Céu e a Terra definitivamente comprometidos! Eis a raiz da devoção profundamente bíblica ao Coração traspassado de Cristo.
A vida de Deus foi entranhada na realidade humana! Olhar para as muitas e variadas figuras, com as quais a imaginação e a arte desejaram expressar o Coração de Jesus se torna um belo exercício de aproximação da realidade que supera a arte! A imagem mais comum mostra o peito aberto de Jesus, com o Coração chagado e exposto, algumas vezes até cercado pela coroa de espinhos. Coração bom, coração mole, coração duro, são expressões usuais entre nós. Mostrar o coração é gesto de abertura, significa descobrir o que está dentro de nós. Em Jesus, quando seu coração se mostra, significa que assumiu e acolheu tudo o que é nosso. O Filho de Deus quis sentir a vida e todas as coisas do nosso lado, com os sentimentos que nos são próprios. De nós, só não teve o pecado, mas tomou sobre si o peso de nossas falhas e pecados. Contemplar o Coração de Jesus é ato de confiança e liberdade. Nele podemos absolutamente confiar, pois participa de nossa vida e de nossos sonhos, elevando-os às alturas da eternidade, para que ninguém tenha receio de se aproximar da fonte de graças.
Outra figura, esta descrita no Evangelho de São João (Jo 20,19-29), é a experiência dos apóstolos após a Ressurreição. As portas estão fechadas, Jesus lhes aparece e mostra seu lado aberto e as chagas das mãos e dos pés. Do Cristo ressuscitado nasce a paz – “Shalom” –, brota a fonte do perdão e da reconciliação e nasce a missão, com a qual os discípulos de todos os tempos levarão a Boa Nova do Evangelho até os confins da terra. É extremamente humano o gesto de Jesus, com a marca da ternura que lhe é própria. Coração chagado, coração ressuscitado.
Outro Coração, o Imaculado Coração de Maria, desde o início da magnífica aventura da Encarnação do Verbo, para chegar à Morte e Ressurreição do Senhor, é colocado diante de nossos olhos no sábado que se segue à Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Já identificamos estes dois corações batendo em uníssono! Maria de Nazaré, simples e humilde, mas decidida em sua resposta a Deus, empreendeu uma caminhada de fé, que passou pela resposta corajosa, levou-a às montanhas de Judá, conduziu-a a Belém, de novo Nazaré, uma fuga para o Egito, poucas investidas em lugares mais distantes, sempre “Maria, porém, guardava todas estas coisas, meditando-as no seu coração” (Lc 1,19). Um coração repleto das maravilhas operadas pelo Senhor em sua vida, coração e ventre que a fizeram Arca da Aliança do Novo Testamento, para levá-la ao martírio da alma, aos pés da Cruz, para chegar, coração orante da Igreja Apostólica, ao derramamento do Espírito Santo.
Do Coração de Jesus para o Coração de Maria, queremos ainda chegar, nesta semana, ao amor do Coração de Cristo, que é o sacerdote, no dizer do Santo Cura D’Ars. De fato, o Dia do Sagrado Coração de Jesus é a Jornada Mundial de orações pela santificação dos Sacerdotes. O mundo inteiro reza pelos padres nestes dias! E nós queremos sentir-nos orantes responsáveis por aqueles que Deus escolheu para este grande ministério. O povo pode e deve sustentar, com sua oração, a vida do padre de sua Paróquia, chamado a conduzir a Comunidade na pregação da Palavra, nos Sacramentos e no Pastoreio, a modo do próprio Cristo. Primeira oração é a ação de graças por aquilo que o padre realiza, e dou testemunho do zelo de nossos padres. Rezar também para que os padres superem as eventuais dificuldades e vençam as tentações que os rodeiam! Rezar pela perseverança e fidelidade dos padres! Pedir ao Senhor, por intercessão de Maria, Rainha dos Apóstolos, a saúde física e espiritual de nossos padres. Enfim, cultivar um apreço carinhoso e respeitoso pelos padres, ajudando-os a viver bem a própria missão.
Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.
Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.
Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.