Na chamada Oração Sacerdotal (Jo 17,1-26), Jesus rezou pelos seus discípulos de todas as gerações, sabendo que estes permanecem no mundo, mas não pertencem ao mundo, no sentido negativo. Outras vezes o Evangelho se refere ao mundo como o campo da atuação do amor de Deus e de todos os cristãos: “De fato, Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3,16-17). Diante de todos os desafios e contradições presentes em nosso tempo, cabe-nos buscar os caminhos para a vida cristã, no Tempo do Espírito, que vai da Ascensão e Pentecostes até a volta gloriosa do Senhor, vividos por nós na Liturgia dos últimos dias do Tempo Pascal, para que “ajudados por sua misericórdia, sejamos sempre livres do pecado e protegidos de todos os perigos, enquanto, vivendo a esperança, aguardamos a vinda do Cristo Salvador” (Cf. Liturgia da Missa).
Trata-se de buscar um roteiro a ser assumido nos diversos estados de vida e vocações de cada cristão. Queremos indicar alguns passos destinados a fortalecer a vida cristã, chamada a ser sal, luz e fermento em nosso tempo. O ponto de partida é justamente a certeza de que somos habitados pela vida da Trindade, Pai e Filho e Espírito Santo, pela graça do Batismo. Cada cristão que ama a Deus e guarda os mandamentos, pode até colocar sua mão no peito, como sinal externo do que lhe passa na alma, e tome posse da promessa de Jesus: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra; meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada” (Jo 16,23). O mundo deixa de ser um deserto inabitado para ser, com nossa presença pessoal, uma incontável procissão de gente que leva Deus onde quer que se encontre. Somos portadores e responsáveis pela sua presença. O mundo de hoje, não o de antigamente ou do futuro, este é o nosso campo de apostolado, pois vamos adiante seguindo os mesmos rastros e atitudes dados por Jesus aos primeiros discípulos, com uma certeza no coração: “No mundo tereis aflições. Mas tende coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16,33).
Com tal consciência, nasce outro passo, a responsabilidade diante das pessoas com as quais convivemos. Com muita simplicidade, ninguém passe em vão ao nosso lado! Algumas vezes, bastará um cumprimento educado, outras vezes um pequeno gesto, como oferecer o próprio lugar num coletivo, ou numa fila de banco. Muitas pessoas saberão aproveitar um encontro aparentemente fortuito para um diálogo, capacidade de escuta, esvaziar-se de si mesmas para que o outro abra o coração.
O cristão saberá ir além, transformando a presença de Deus, com o Espírito Santo que o conduz, em compromisso com gestos de caridade e participação em iniciativas e obras que expressem a caridade. Ninguém se exclua dessa responsabilidade, a de realizar gestos de serviço, de acordo com os dons, as posses e a disponibilidade de tempo que a vida lhe proporciona. Não exerceremos os mesmos serviços e tarefas, mas teremos a necessária criatividade para não desperdiçar as oportunidades de presença social, especialmente em atenção aos mais pobres e excluídos. Propomos que cada cristão, homem ou mulher a quem foi dada a graça da fé, assuma, em primeira pessoa, sem delegar a outros, uma atitude permanente e um compromisso de amor ao próximo concreto! Saibamos estar abertos ao Espírito Santo, que suscitará as iniciativas.
Vida cristã é vocação ao serviço de Deus e do próximo. A iniciação cristã, Batismo, Crisma e Eucaristia, traz consigo o chamado de Deus às vocações específicas. A partir da família, ampliando-se para todo o Corpo Eclesial, deverá crescer a pergunta sobre o que Deus quer de cada um de nós. Lembremo-nos de que as famílias, com suas qualidades e também com suas lutas e eventuais limites, devem ser o espaço originário cristão para a descoberta da vocação pessoal e específica, já que não existe cristão sem vocação, que é o olhar de Deus para cada um de seus filhos e filhas.
A vida de batizados leva à experiência comunitária. Comunidades, Paróquias, Movimentos de Igreja, Grupos de Oração, Grupos de Fé e Vida, Grupos de Leitura orante da Palavra de Deus, Grupos de Novena ou preparação do Círio e das festas paroquiais, Grupos de Casais, Encontro de Casais com Cristo, Equipes de Nossa Senhora, e a lista pode crescer! As diversas Pastorais que envolvem a Catequese, Crianças, Jovens, Casais, Pessoas consagradas a Deus, Novas Comunidades de Vida e Aliança, Grupos ligados à espiritualidade das Ordens e Congregações Religiosas, e daí por diante. Cada pessoa descubra o seu espaço e não se isole!
Muitos de nós estarão envolvidos nos Movimentos Sociais existentes em nosso tempo, participarão dos Conselhos existentes na Sociedade, outros irmãos e irmãs terão a vocação para um engajamento político maduro e equilibrado, aprendendo a ser homens e mulheres atuantes num campo tão desafiador e carregado de extremismos, como o tempo em que vivemos.
Para que não nos percamos no meio do mundo, mas sejamos sinais de uma realidade diferente e muito melhor, todas as propostas aqui apresentadas sejam alimentadas com uma vida sacramental consistente, na Participação Eucarística Dominical, o Sacramento da Penitência e a Oração pessoal, familiar e Comunitária. O Domingo, dia do Senhor e do Povo de Deus, há de ser a festa do encontro na fé e na caridade, alimentando-nos com a Palavra e o Corpo e Sangue do Senhor. Da Missa Dominical, saiam aquelas que já chamamos de uma imensa procissão de portadores de Deus!
Ao final de nossa caminhada na terra, não seremos tomados de orgulho, pois saberemos dizer com humildade: “Somos simples servos; fizemos o que devíamos fazer” (Lc 17,10). E, da parte do Senhor, poderemos ouvir: “Parabéns, servo bom e fiel! Como te mostraste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da alegria do teu senhor!” (Mt 25,21).
Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.
Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.
Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.