Com muita alegria temos visto presépios montados nas casas, em escolas, casas de comércio. E são positivamente provocantes aqueles estilizados com lâmpadas que iluminam nossas ruas. Desejamos que tudo isso faça brilhar a estrela que conduz a Belém, ao autêntico presépio, sempre atual, que inspirou São Francisco a encenar pela primeira vez o acontecimento que mudou radicalmente a história da humanidade. Nestes dias, ousamos afirmar que mesmo as pessoas que não conhecem Jesus diretamente tenham a alegria de encontrar alguém que professa a fé para vestir-se de estrela viva e apontar o caminho, a fim de que resplandeça para todos a salvação!
Nosso presépio vivo começou alguns meses antes do nascimento de Jesus. Maria sua Mãe recebeu a visita do Anjo Gabriel, emissário de Deus. Ali, na escondida e simples Nazaré, Maria revestiu-se de responsabilidade e deu assentimento ao Plano de Deus. Tudo começa no alto, no projeto de Deus que fez acontecer a plenitude dos tempos. O presépio começa com um “desenho” elaborado com arte divina no seio da Trindade.
A mesma Maria pavimentou a estrada que a conduziu à casa de Zacarias e Isabel (cf. Lc 1,39-45) com ladrilhos de caridade, pois teve a presteza de percorrer aqueles cerca de cento e vinte quilômetros apenas para servir e amar. No seu ventre, a nova “Arca da Aliança” (cf. Hb 9,4), trazia o Pastor de Israel, a Palavra de Deus feita carne e o verdadeiro Pão da Vida, novo Maná, que seria dado para a vida do mundo. De fato, a “montagem” de nosso ambiente de Natal exige que o amor existente na Trindade, mandamento novo revelado depois por Jesus, se transforme em encontro recíproco de doação de vida, alegria e exultação. Se veio do alto o projeto de Deus, ele continua a ser composto por homens e mulheres de fé, capazes do estupor, abertura à novidade, olhar interior que transborda em sorrisos e aclamações, para que muita gente proclame o Magnificat, canto carregado da esperança de muitos séculos. Cada pessoa pode escolher um verso a ser entoado, de acordo com sua história e suas autênticas expectativas. Perece que começa a se formar um verdadeiro coral de vozes maviosas no qual todos podem entrar, portando o bilhete da bem-aventurança da fé: “Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu”!
Carregada com o peso leve da fé e da caridade, a Maria da Esperança retorna a Nazaré (cf. Mt 11,28-30). Nós a vemos preparando um enxoval para o Menino, como tantas mãe de nosso tempo. Foi elaborado com tecidos de família pobre e extremamente digna, com dedos que harmonizavam olhares dirigidos ao futuro, perguntas muito humanas nascidas de um jovem coração, assim como os parcos e honestos recursos advindos do trabalho do jovem esposo São José. Com toda certeza a pequena Nazaré foi também pontilhada por comentários, alguns inocentes e outros maldosos, a respeito da inusitada história daquele casal. Presépio que se preze traz consigo também pedrinhas, às vezes pontiagudas, a serem depois aproveitadas, depois de lavadas, para cimentar o ambiente.
Mas o lugar do nascimento é Belém. Mais uma viagem, certamente cansativa, mas carregada da esperança dos séculos. A cidade e as hospedarias são excessivamente pequenas para o tamanho daquele que deveria nascer. A estrebaria talvez represente, com seus acessos capazes de deixar entrar o gado, as portas abertas. Já vimos como nossos presépios parecem grutas escancaradas! Chamem-se ovelhas, bois, burros, o galo que cantava nas vigílias da noite, ou o que quisermos, é hora de vestirmos nossos trajes, como nossas crianças que nestes dias devem ter representado em escolas o nascimento de Jesus. E quem estiver positivamente inquieto ou curioso, olhe para o alto, pois as estrelas já mostram o local. Se tiver boa vontade, como os pastores dos arredores de Belém, apure seus ouvidos e escute os anjos que lhe dizem ser o Natal infinitamente maior do que os presentes, as festas ou os gastos do fim de ano. Eles querem glorificar a Deus e também que os homens e mulheres de boa vontade se reconheçam amados por Deus, para que venha a paz sobre a terra!
Está pronto nosso presépio de dois mil e vinte e quatro! Venham as crianças para introduzir o Menino Jesus. Tragam a Imagem, mas aprendam, e nós com as crianças, a reconhecer vivo o presépio de hoje. De fato, Jesus está vivo na Eucaristia. O primeiro lugar para viver o Natal é a Casa do Pão da Santa Missa! E o Natal acontece quando reconhecemos o Senhor Jesus no próximo, pois “todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes!” (Mt 25,40). E é Natal quando estamos reunidos em seu nome, para a oração ou para a convivência, como garantiu o Senhor: “Eu vos digo mais isto: se dois de vós estiverem de acordo, na terra, sobre qualquer coisa que quiserem pedir, meu Pai que está nos céus o concederá. Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles.” (cf. Mt 18,19-20). Será Natal quando entrarmos no mais íntimo de nosso coração, onde ninguém vê, e sentirmos como os discípulos de Emaús: “Não estava ardendo o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?” E logo depois, foi Natal “pascal” para eles quando encontraram a Igreja reunida: “Levantaram-se e voltaram para Jerusalém, onde encontraram reunidos os Onze e os outros discípulos. E estes confirmaram: “Realmente, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!” Então os dois contaram o que tinha acontecido no caminho, e como o tinham reconhecido ao partir o pão’” (Lc 24,32-35).
Não falta Natal! E o que desejamos a todos é a vivência plena do encontro maior, que muda a nossa vida e a vida do mundo!
Presidente da Rede Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.
Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.
Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.