Sagrada Família

“Ó Deus, vós unis a mulher ao marido e dais a esta união estabelecida desde o início a única bênção que não foi abolida nem pelo castigo do pecado original, nem pela condenação do dilúvio”. Assim reza a Igreja na bênção nupcial dada após o consentimento dos dois, homem e mulher, que recebem o Sacramento do Matrimônio. Queremos chamar hoje de sagrada a graça da constituição da família. É claro que resplandece como modelo aquela que dizemos ser a Sagrada Família, Jesus, Maria e José, mesmo que nossa reflexão se volte, em torno do dia dos pais e o mês das vocações, para a vocação muito humana do matrimônio.

A família é sagrada por espelhar aqui na terra o que Deus é, pois a Trindade Santa é a melhor comunidade e o melhor relacionamento que possa existir, tanto que Jesus, ao revelar o “seu mandamento”, assim se expressou, com palavras de fogo: “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros” (Jo 13, 34). Mais adiante, abre sua alma para dizer: “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15, 12-13). A família tem o privilégio da reciprocidade, pois ela se funda na disposição de dar a vida uns pelos outros. Pode ser uma antecipação do Paraíso!

A família é sagrada porque corresponde ao plano de Deus, que concede ao homem e a mulher a graça de participar de sua obra criadora. A perpetuação da espécie é confiada a quem participa do ato que é próprio de Deus. Através da mediação humana na união conjugal, Deus realiza a sua obra, contando com a liberdade do casal. A união do homem e da mulher há de ser um ato de livre consentimento, por sinal, uma condição para que a entrega se torne um sacramento, como o Senhor o quis, no dizer de São Paulo e na doutrina da Igreja: “O homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e os dois serão uma só carne. Este mistério é grande – eu digo isto com referência a Cristo e à Igreja” (Ef 5, 31-32). Deixar o pai e a mãe não significa um ato de desprezo, mas de multiplicação da vida e do amor, já que a nossa vida não se destina a um fechamento no próprio mundo ou nos próprios interesses, mas sempre à abertura para a novidade que expressa o amor infinito de Deus. A união do homem e da mulher é santa pela sua fecundidade. Existe no coração humano o desejo, plantado pelo próprio Deus, de gerar vida, e o matrimônio e a família, como a Igreja entende, realizam de forma magnífica este projeto do próprio Deus.

Os atos sexuais que expressam o amor conjugal são santos, começando pelo fato de serem realizados pelo homem e a mulher, que são templos do Espírito Santo. São santos por expressarem a doação recíproca de corpo e alma, numa complementação de entrega mútua que antecipa realidades do próprio Céu. São santos por expressarem, na plenitude de sua realização sacramental, a unidade e exclusividade da entrega que os dois fazem de si mesmos. Os casais que experimentam esta radicalidade e exclusividade da entrega recíproca do corpo e da alma podem testemunhar diante de tantas pessoas, especialmente da juventude, a beleza de tal forma de vida. E as pessoas que se convertem a este modo de vivência da sexualidade e da afetividade a descobrem como a forma mais perfeita de uma plena realização conjugal.

A família é sagrada porque tem a vocação de “Igreja Doméstica”, como fomos quase forçados a descobrir e experimentar em tempos de recolhimento em nossas casas. A Igreja doméstica pode cultivar os mandamentos! Pode reconhecer o amor de Deus, presente entre aqueles que se amam, doam a vida uns pelos outros, podendo dizer que Jesus está no meio deles (Cf. Mt 18, 20). Pode viver a santificação do dia do Senhor, mesmo quando somos privados da participação presencial nas Missas dominicais. E quanto se redescobriu a sede e a fome da Eucaristia durante estes meses de portas fechadas e Igrejas abertas! A honra devida aos pais e mães, a fidelidade ao compromisso matrimonial, a verdade e a sinceridade experimentadas no cotidiano! São valores familiares a serem redescobertos na sacralidade da família. E se por si mesmo a família é sagrada pelos laços sacramentais com as quais se constitui, a oração em família expressa tal dignidade de forma única. Quanta gente começou a rezar o terço em família. Ressoou de novo um tema de uma campanha antiga e sempre nova: “A família que reza unida, permanece unida”.

Unidade na família pede fidelidade! A sacralidade da família se expressa da mais alta na fidelidade do homem e da mulher. E mais uma vez ouvimos São Paulo: “Cada qual a sua mulher, e cada mulher, o seu marido. Cumpra o marido o seu dever conjugal para com a esposa, e a esposa, do mesmo modo, para com o marido. Não é a mulher que dispõe de seu corpo, mas o seu marido. Do mesmo modo, não é o marido que dispõe de seu corpo, mas a sua mulher. Não vos recuseis um ao outro, a não ser de comum acordo e por algum tempo, para vos entregardes à oração. Voltai depois à convivência normal, para que Satanás não vos tente, por vossa falta de domínio próprio. O que acabo de dizer é uma concessão, não uma ordem. Aliás, gostaria que todos fossem como eu. Mas cada um recebe de Deus um dom particular, um este, outro aquele. Digo, pois, aos não-casados e às viúvas, que é bom para eles ficarem assim, como eu. Se, porém, não conseguem dominar-se, casem-se, pois é melhor se casar do que abrasar-se em desejo.  Aos casados ordeno, não eu, mas o Senhor: a mulher não se separe do marido e caso tenha havido a separação, que ela fique sem se casar ou, então, que faça as pazes com o marido. E o marido não pode despedir sua mulher” (1 Cor 7, 2-11).

Podemos chegar então àquilo que tenho a alegria de chamar e convocar em muitos ambientes, a pastoral vocacional para o matrimônio. Justamente do coração do Bispo nasce este apelo a que especialmente os casais, assumam com a Igreja de Belém o compromisso de serem propagandas vivas do casamento, e que se engajem, no ambiente que lhes é possível, a fazerem um trabalho com a juventude em prol do matrimônio santo, único, fecundo e indissolúvel. Entrego nas mãos dos casais esta tarefa. Acolham-na especialmente as Equipes de Nossa Senhora, o Encontro de Casais com Cristo, o Movimento familiar Cristão, os Encontros Matrimoniais, mais ainda, a Pastoral Familiar da Arquidiocese de Belém. E ressoe este apelo nos corações de todos os casais de nossa Igreja!

Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.

Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.

Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.

Dom Alberto Taveira Corrêa

Arcebispo Metropolitano de Belém

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