Durante o Tempo do Advento a Igreja nos oferece três companhias preciosas. É um período em que se lê muito o Profeta Isaías, por sinal um livro que pode ser conhecido integralmente com muito proveito, nesta quadra do ano litúrgico. Depois, a grande figura de São João Batista, a quem foi dado preparar os caminhos mais próximos da manifestação do Messias. João abriu estradas para o Jesus adulto, no início de seu ministério público. Depois, diante da Luz verdadeira que vem a este mundo, foi desaparecendo, até perder a cabeça, sendo imolado por causa da verdade! Mais ainda, irrompe a figura da Virgem Maria, que vai ocupar o espaço litúrgico e de nossa oração, de modo especial na última semana antes do Natal. Como gostamos de insistir, Jesus virá nos últimos tempos que nos fazem clamar “Vinde, Senhor Jesus” em todas as Missas, ele vem em nosso dia a dia nas múltiplas manifestações com que nos brinda, e ele veio, nascido em Belém de Judá, cujo memorial celebramos no Tempo do Natal!
Para iluminar nossa vivência do Advento, é oportuno notar que quando irrompe diante de nossos olhos uma novidade, surgem com ela as interrogações e provocações a uma reação. Pensemos nas guerras de nossos dias, as convulsões políticas que acompanhamos recentemente e nossa violência ou as escandalosas desigualdades sociais que assistimos. Também os fatos mais corriqueiros, positivos ou negativos, podem ser compreendidos como sinais que pedem nossa resposta, tanto que um mínimo de consciência pessoal e social causa indignação quando se espalha a indiferença e a insensibilidade. Passar pela rua e ver um acidente de trânsito suscita curiosidade, dela se vai à pergunta sobre as causas, verifica-se a ocorrência de ajuda às pessoas envolvidas, provoca-se a coragem de parar e perguntar se se pode fazer algo. É um processo que pode durar segundos ou horas, mas faz parte de nossa humanidade desejar envolver-nos e participar, responder com gestos concretos aos fatos que nos cercam.
Diante do fato mais significativo de toda a história, o mistério do Verbo de Deus encarnado, em torno do qual gira o tempo, não é possível ficar indiferentes. Ao preparar a estrada do mundo e dos corações para a manifestação de Jesus Cristo, seu precursor João Batista (cf. Lc 3,10-18) suscitou na multidão a pergunta que muda a vida: “Que devemos fazer?” Nos tempos que correm, quando a humanidade deve, de novo, dar as boas-vindas ao Menino de Belém de Judá, nosso Senhor Jesus Cristo, Redentor da humanidade, repete-se a mesma interrogação. Das respostas dadas por João Batista, colhemos indicações precisas e atuais.
Prepara-se a vinda de Jesus e se estabelece o clima para com ele conviver, quando quem “tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo!” Existem no mundo recursos para uma vida digna de todos os seus habitantes. A natureza pode oferecer o necessário para alimentar sua população. São conceitos de uma “demografia” diferente, que parte da partilha e da comunhão, semelhante à coleta feita por São Paulo: “De fato, quando existe a boa vontade, ela é bem aceita com aquilo que se tem; não se exige o que não se tem. Não se trata de vos pôr em aperto para aliviar os outros. O que se deseja é que haja igualdade: que, nas atuais circunstâncias, a vossa fartura supra a penúria deles e, por outro lado, o que eles têm em abundância complete o que acaso vos falte. Assim, haverá igualdade, como está escrito: Quem recolheu muito não teve de sobra, e quem recolheu pouco não teve falta” (2 Cor 8,12-15). Fala-se tanto de uma crise mundial, e não poucos alertam para sua possível chegada às nossas plagas, e chegará mesmo, porque a era do individualismo, da ganância e do consumo descontrolado veio na frente. Independente das eventuais crises, realiza-se como pessoa humana quem se lança na aventura da partilha e da comunhão! Não fique sem reação o apelo constante do Papa Francisco por uma mudança de mentalidade e de prática na administração dos bens das pessoas, dos governos e dos povos!
E a palavra de João Batista se torna atual também em outras circunstâncias:
“Produzi frutos que mostrem vossa conversão, e não comeceis a dizer a vós mesmos: ‘Nosso pai é Abraão!’, pois eu vos digo: Deus pode das pedras suscitar filhos para Abraão. O machado já está posto à raiz das árvores. Toda árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo.” Conversão significa mudar de rota, escolher caminhos novos! Como acontece com organizações da sociedade que no final do ano avaliam suas atividades, mais motivos temos nós, pela ação do Espírito Santo, para fazer um corajoso exame de consciência e projetar os nossos passos de crescimento na vida cristã, contando também com as graças do Jubileu da Esperança, que se aproxima.
Como “até alguns publicanos foram para o batismo e perguntaram: ‘Mestre, que devemos fazer?’, João respondeu: ‘Não cobreis nada mais do que foi estabelecido.’” Se existe um mal a ser corrigido em nosso tempo, como em quase toda a história da humanidade, é a corrupção e o uso indevido das verbas públicas! Não é segredo para ninguém saber da quantidade de dinheiro que escapa pelo ralo em nosso tempo, e como até figuras de proa por este país afora encontram formas para receber propinas! E, por falar em dinheiro, podemos voltar ao assunto da partilha do pão, para observar o que se publica frequentemente sobre o desperdício de alimentos, dando conta que já seria suficiente para resolver o problema da fome a reversão de tal tendência!
Extremamente atual a recomendação de João, quando “alguns soldados também lhe perguntaram: ‘E nós, que devemos fazer?’ João respondeu: ‘Não maltrateis a ninguém; não façais denúncias falsas e contentai-vos com o vosso soldo’”. Parece um trecho de noticiário de nossos dias! Conversão é coisa para todos e para todas as profissões e os diversos estados de vida!
Renovamos a proposta já apresentada neste Advento de uma arrumação geral da casa de nossa vida, nossas Comunidades, nossas Paróquias e de toda a Igreja, para clamarmos com autenticidade: “Vinde, Senhor Jesus!”
Presidente da Rede Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.
Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.
Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.