Estamos para encerrar o Ano Litúrgico da Igreja, no qual percorremos as diversas etapas do Mistério da Salvação, como discípulos que se fazem missionários, aprendendo a testemunhar com a palavra e com a vida a força do Evangelho e a transformação que opera em nós.
Neste final de semana, algumas realidades da vida cristã nos alertam, convidando à necessária coragem e firmeza, como sinal de coerência na vida cristã. Na Arquidiocese de Olinda e Recife, o Brasil estará reunido para o Décimo Oitavo Congresso Eucarístico Nacional, com o tema “Pão em todas as mesas”, providencialmente realizado quando a Igreja inteira celebra o Sexto Dia Mundial dos Pobres, com o tema “Jesus Cristo se fez pobre por nós”. E a Liturgia do trigésimo terceiro Domingo do Tempo Comum nos convida à vigilância e à prontidão.
E tudo acontece dentro de nosso mundo e em nosso tempo altamente provocante, como observa o Papa Francisco: “Jesus Cristo se fez pobre por vós” (2 Cor 8, 9). Com estas palavras, o apóstolo Paulo dirige-se aos cristãos de Corinto para fundamentar o seu compromisso de solidariedade para com os irmãos necessitados. O Dia Mundial dos Pobres volta este ano como uma sadia provocação para nos ajudar a refletir sobre o nosso estilo de vida e as inúmeras pobrezas da hora atual. Há alguns meses, o mundo saía da tempestade da pandemia, mostrando sinais de recuperação econômica que se esperava voltasse a trazer alívio a milhões de pessoas empobrecidas pela perda do emprego. Abria-se uma nesga de céu sereno que, sem esquecer a tristeza pela perda dos próprios entes queridos, prometia ser possível tornar finalmente às relações interpessoais diretas, encontrar-se sem embargos nem restrições. Mas eis que uma nova catástrofe assomou ao horizonte, destinada a impor ao mundo um cenário diferente. A guerra na Ucrânia veio juntar-se às guerras regionais que, nestes anos, têm produzido morte e destruição. Aqui, porém, o quadro apresenta-se mais complexo devido à intervenção direta duma superpotência, que pretende impor a sua vontade contra o princípio da autodeterminação dos povos. Vemos repetir-se cenas de trágica memória e, mais uma vez, as ameaças recíprocas de alguns poderosos abafam a voz da humanidade que implora paz. Quantos pobres gera a insensatez da guerra! Para onde quer que voltemos o olhar, constata-se como os mais atingidos pela violência sejam as pessoas indefesas e frágeis. Deportação de milhares de pessoas, sobretudo meninos e meninas, para os desenraizar e impor-lhes outra identidade… Milhões de mulheres, crianças e idosos veem-se constrangidos a desafiar o perigo das bombas para pôr a vida a salvo, procurando abrigo como refugiados em países vizinhos. Entretanto, aqueles que permanecem nas zonas de conflito têm de conviver com o medo e a carência de comida, água, cuidados médicos e sobretudo com a falta de afeto familiar. Nestes momentos, a razão fica obscurecida e quem sofre as consequências é uma multidão de gente simples, que vem juntar-se ao número já elevado de pobres. Como dar uma resposta adequada que leve alívio e paz a tantas pessoas, deixadas à mercê da incerteza e da precariedade?” (Cf. Mensagem do Papa para o Sexto Dia Mundial dos Pobres).
E nossas guerras urbanas, a fome e a miséria de tantas pessoas, aqui mesmo, perto de nós, tudo clama resposta. O Congresso Eucarístico, realizado numa região extremamente desafiadora e carregada de problemas sociais, quer ser uma escola de partilha, nascida na mesa eucarística. Além disso, existem as divisões e conflitos em nossa sociedade, coisas que fazem muitos pensarem no “fim do mundo”! E Jesus alerta para não seguirmos gente que proclama a proximidade do fim!
Jesus, no Evangelho proclamado em nossas Missas do final de semana (Lc 21,5-19), constata a realidade daqueles dias e dos nossos: “Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu!’, e ainda: ‘O tempo está próximo’. Não andeis atrás dessa gente! Quando ouvirdes falar em guerras e revoluções, não fiqueis apavorados. É preciso que essas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim”. E Jesus continuou: “Há de se levantar povo contra povo e reino contra reino. Haverá grandes terremotos, fomes e pestes em vários lugares; acontecerão coisas pavorosas, e haverá grandes sinais no céu’”.
Como permanecer firmes? Confiança absoluta em Deus, que é o Senhor da história e não nos abandona. Lançar-se cada dia de novo nas mãos da Providência de Deus, apostando tudo nele. Permanecer firmes na vida de Igreja, por sabermos que as portas do inferno não prevalecerão contra ela (Cf. Mt 16,18). Ela é a casa edificada sobre a rocha, e a fidelidade ao Papa e aos Bispos nos sustenta. Ideias ou práticas outras não nos devem abalar. É toda uma história da Igreja, com os vendavais e terremotos dos tempos, mantendo-se firme a Igreja de Cristo.
Permanecer firmes na prática da caridade, com a capacidade de olhar ao nosso redor, descobrindo os caminhos da partilha e da solidariedade, para que haja pão em todas as mesas, como nos indica o tema do Congresso Eucarístico.
Permanecer firmes e perseverantes na vigilância! Quer dizer olhar para os muitos sinais dos tempos, com os quais Deus quer chamar-nos a fazer o bem que depende de nós. Vigiar significa prestar atenção do testemunho dos outros, valorizar as palavras de pessoas cheias de sabedoria que nos aconselham. Quer dizer também a busca da Palavra de Deus com mais afinco, superando a verdadeira tentação de orientar a vida pelas muitas e às vezes loucas ideias e propostas correntes nas redes sociais.
Vigiar… e orar! Ao invés de nos desesperarmos com os acontecimentos e as muitas ameaças de toda ordem, reforçar nossa vida de oração. Quanto tempo passamos sem a graça do Sacramento da Penitência? E ali, do tribunal em que a sentença é sempre de misericórdia e perdão, a alma e a vida se restauram e se fortalecem. E a oração mais importante de todas, a Missa Dominical, há de ser o ponto alto de nossa vida, o sustento de nossa caminhada, com o alimento que é Pão da Vida. Tudo isso pode e deve ser acompanhado pela devoção à Virgem Orante, Nossa Senhora da Esperança, cujo manto há de cobrir nossas lutas e a vitória que vem de Deus!
Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.
Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.
Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.