Na Escola da Oração

A vida cristã é um aprendizado contínuo, até o momento de nossa Páscoa pessoal na morte, quando aprenderemos a entregar nossa vida nas mãos de Deus. O cristão aprende a se fazer próximo dos outros (Cf. Lc 10,25-37), deve escolher a melhor parte (Cf. Lc 10,38-42), que é o discipulado de Jesus Cristo, e será alimentado cotidianamente pela oração (Cf. Lc 11,1-13), passos indicados pela Liturgia da Igreja em vários domingos desse período.

Sabemos que “Jesus contou uma parábola, para mostrar aos discípulos a necessidade de orar sempre, sem nunca desistir” (Lc 18,1), mesmo e especialmente quando se faz escuridão no horizonte de nossa existência. É necessário aprender a orar! Entremos juntos nesta Escola, para aprender com o Senhor Jesus (Cf. Jose Rivera e Jose Maria Iraburu, Espiritualidad Catolica, páginas 728-729). Jesus foi um homem orante, que se retirava em lugares solitários para rezar (Cf. Lc 5,16). Ação e contemplação se alternavam em sua vida de forma flexível e harmoniosa: “Jesus passava os dias no templo ensinando; saindo dali, pernoitava no monte chamado das Oliveiras” (Lc 21,37). Sua vida de Mestre ambulante era muito ocupada, mas sabia estabelecer limites em sua atividade exterior, para entregar-se à oração: “Depois de os despedir, subiu a montanha para orar” (Mc 6,45). Sabemos inclusive que adotava certas atitudes exteriores para orar, de acordo com os costumes de seu povo. Rezava elevando as mãos, olhando para o Céu e até com o rosto por terra (Mt 26,39; Lc 22,41; Jo 11,41; Jo 17,1).

Os Evangelhos nos descrevem a vida de oração de Jesus. Ele estava em oração na manifestação acontecida no Batismo do Jordão (Lc 3,21). Diz o Evangelho que passou a noite em oração antes da escolha dos doze apóstolos (Lc 6,12). Estava orando antes de suscitar a confissão de fé feita por Simão Pedro (Lc 9,18). Quando ensinou o Pai Nosso, antes estava em oração (Lc 11,1). Jesus orou por Pedro antes da hora da provação (Lc 22,32). E nós o vemos rezando, manifestando o máximo de sua alegria: “Naquela mesma hora, ele exultou no Espírito Santo e disse: ‘Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, assim foi do teu agrado’” (Lc 10,21). No mais profundo da angústia pela qual passou, está em oração: “Minha alma está perturbada. E que direi? ‘Pai, livra-me desta hora?’ Mas foi precisamente para esta hora que eu vim. Pai, glorifica o teu nome!” Veio, então, uma voz do céu: ‘Eu já o glorifiquei, e o glorificarei de novo’” (Jo 12,27-28). No Getsemani e na Cruz predomina completamente o Cristo orante! Está sempre voltado para o Pai, aceitando o cálice da dor, perdoando aos seus algozes e entregando-se totalmente, quando tudo estava consumado.

Uma imprecisa concepção da oração pode entendê-la apenas como pedido e súplica, quase como quem quer uma esmola. Entretanto, ao ver Jesus em oração, compreendemos que esta é a linguagem própria e interna da vida da Santíssima Trindade. Com Jesus, entramos na família da Trindade, e de lá podemos beber os sentimentos, as palavras, a ação de graças e o louvor a serem expressos em nossa vida de oração!

E o Senhor nos ensina a rezar com o exemplo e com as palavras. Ele nos introduz num relacionamento filial com o Pai, pondo em nossa boca as palavras com as quais podemos rezar com amor e confiança (Cf. Lectio Divina per ogni giorno dell’anno, Queriniana, Vol. 15, página 135). Podemos chamá-lo de Pai, aproximando-nos, “seguros e confiantes, do trono da graça, para conseguirmos misericórdia e alcançarmos a graça do auxílio no momento oportuno” (Hb 4,16). Santificar o nome do Pai significa desejar que Deus seja reconhecido por aquilo que nos foi revelado. Pedir que venha o seu Reino é esperar que a humanidade seja governada pela sua Graça e sua Palavra, que difunde verdade, justiça, amor e paz. O pão que pedimos é tudo o que necessitamos para a vida do corpo e do espírito. Perdão é o que suplicamos e nos comprometemos a oferecer aos outros. Que sejamos livres da tentação faz parte de nossa vida espiritual, e Jesus a enfrentou e venceu, podendo vir em nosso auxílio (Cf. Hb 2,18; 4,15; 12,1-7).

O Pai Celeste vai além do amigo, que pode se sentir importunado com os pedidos. Vai infinitamente além do juiz, que é convidado a atender a viúva para não ser mais incomodado. Ele sabe do que precisamos e nos dá, não apenas coisas boas, mas nos dá prontamente, se pedimos com confiança, o Espírito Santo (Lc 11,13; 18,8). Portanto, nossa oração se torna ousada e corajosa. Acolhamos a proposta do Senhor: “Pedi e vos será dado; procurai e encontrareis; batei e a porta vos será aberta. Pois todo aquele que pede recebe; quem procura encontra; e a quem bate, a porta será aberta” (Lc 11,9-10).

E vamos à família dos filhos de Deus, que é a Igreja. Vejamos a preciosidade dos ensinamentos de São Paulo VI: “O que faz a Igreja? Para que serve a Igreja? Qual é a sua manifestação característica? Qual é a plena atividade que justifica e distingue a sua existência? A Igreja é uma comunidade de oração. A Igreja é uma Comunhão no Espírito (Cf Fl 2,1; Santo Agostinho, Sermo 71, 19 em: PL 38, 462). A Igreja é a humanidade que encontrou, por meio de Cristo, único e sumo Sacerdote, o modo autêntico de rezar, isto é, de se dirigir a Deus, de falar com Deus e de falar de Deus. A Igreja é a família dos adoradores do Pai “em espírito e verdade” (Jo 4, 23). Nesta altura, seria interessante estudar o motivo do uso ambivalente da palavra Igreja, que é atribuída ao edifício construído para a oração e à assembleia dos fiéis, que são Igreja, quer estejam dentro ou fora do templo que os reúne em oração. O edifício material, destinado a acolher os fiéis em oração, pode e não só deve ser um lugar de oração, “Casa de Oração”, mas também um sinal de oração, um edifício espiritual, uma oração, uma expressão de culto, uma arte para o espírito. De tudo isto nasce a necessidade de construir locais de culto, para dar a oportunidade ao povo cristão de se reunir e de rezar. E seja reconhecido o mérito daqueles que se esforçam por construir as novas igrejas, destinadas a acolher e educar, na oração, as novas comunidades que não possuem as indispensáveis Casas de Oração” (Cf. São Paulo VI, Audiência Geral do dia 22 de abril de 1970).

Rezemos a oração que o Senhor nos ensinou: “Pai nosso que estais nos céus, santificado seja o vosso nome, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia nos dai hoje; perdoai-nos as nossas ofensas. Assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido; e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal.” Amém!

Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.

Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.

Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.

Dom Alberto Taveira Corrêa

Arcebispo Metropolitano de Belém

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