No coração do tempo do Advento, tempo da esperança, encontramos personagens, mensageiros que nos ajudam com seu testemunho, a acolher a vinda do Senhor. O profeta Isaías nos abre o coração com palavras consoladoras e fortes: “Consolai, consolai o meu povo!”, diz o vosso Deus. Falai ao coração de Jerusalém, anunciai-lhe: seu cativeiro terminou, sua culpa está paga, da mão do Senhor já recebeu por suas faltas o castigo dobrado. Grita uma voz: “Preparai no deserto o caminho para o Senhor! No ermo rasgai estrada para o nosso Deus! Todo vale seja aterrado, toda montanha, rebaixada, para ficar plano o caminho acidentado e reto, o tortuoso” (Is 40,1-4).
Preparar no deserto o caminho do Senhor! Ainda que muita gente viva ao nosso lado, não é raro sentir-nos num verdadeiro ermo, onde faltam ouvidos para ouvir o que o Senhor diz, sendo-nos lançado o grande desafio a abrir estradas. Aterrar os vales da falta de fé e confiança em Deus, abaixar os montes do orgulho e da vaidade, acertar o que está torto. Cabe-nos assumir estas tarefas com ousadia, criatividade e coragem.
Quando a Igreja insiste em considerar-nos missionários, deseja que cada pessoa encontre e ocupe o espaço que lhe cabe, correspondendo aos dons que foram concedidos. Alguns de nós deverão ir à frente, abrindo nas matas da vida os espaços para a estrada do Senhor. São homens e mulheres corajosos, dispostos a dar a própria vida, e nisso são referências para nós os mártires de todos os tempos, inclusive de nossos dias. Não são poucas as pessoas que se arriscaram, indo ao encontro dos mais sofredores no corpo ou na alma, e estas são exemplos luminosos. Entre nós existem obras de serviço ao próximo que surgiram quase do nada e resplandecem como testemunho vivo da ação de Deus através da Igreja. Outras pessoas estarão na retaguarda, sendo apoio para os que estão na frente de batalha, e aqui sejam colocadas em relevo aquelas que carregam a força maior, a da oração!
Anunciar que o cativeiro terminou! Nossa boca deve ser portadora da mensagem de paz, anunciando a misericórdia a todas as pessoas. Se olharmos para quem está nas periferias geográficas, sociais ou religiosas, há um grito, às vezes até surdo e mudo, mas real, de gente que não é encontrada, nem amada e nem ouvida! Podemos pensar de modo especial nos drogados, na população de rua, naqueles que não têm onde morar! Mas podemos também olhar ao nosso redor, pois podem existir parentes e vizinhos gritando, às vezes apenas com os olhos, e que suplicam atenção! Podemos aproveitar para desenvolver em nossas comunidades um ministério, o da consolação, tão necessário em tempos como os nossos.
De Isaías para João Batista, o precursor, outro mensageiro emblemático (Mc 1, 1-8), com o qual se abre o Evangelho de São Marcos, que nos acompanhará neste novo Ano Litúrgico. Veio à frente do Senhor para preparar o caminho. Nele se realiza o que Isaías tinha profetizado. João Batista é voz que clama, para que se prepare nos desertos da vida um caminho para o Senhor. Sua pregação pede a conversão! É uma mudança de rumo na existência, quando se reconhece que as estradas estão erradas. Conversão significa primeiro mudar dentro de nós, mudar o jeito de pensar, e a fonte oferecida abundantemente pela Igreja é a Palavra de Deus. Colocar-se continuamente a pergunta sobre o que Jesus faria se estivesse em nosso lugar pode ser um método rápido, seguro e exigente. E há muitas pessoas que escolhem a cada dia um versículo da Palavra de Deus para transformá-lo em vida, sem complicações, sem maiores interpretações!
A Liturgia do Segundo Domingo do Advento pode oferecer um caminho prático para este dia ou para a semana: “Qual não deve ser o vosso empenho numa vida santa e piedosa, enquanto esperais a apressais a vinda do Dia de Deus?” (2 Pd 3,11-12). Se muitos ficam preocupados com o dia do Senhor, queremos apenas viver bem o dia a dia, de forma santa e piedosa. O dia chegará quando Deus quiser, pois Deus usa de paciência para conosco! Viver esta palavra significa esforçar-nos para que Deus nos encontre numa vida pura e sem mancha, e em paz, não desperdiçar qualquer oportunidade para fazer o bem, tomar iniciativa de ir ao encontro dos outros, experimentar a grandeza do perdão, libertar-nos dos preconceitos e julgamentos, saber ir ao encontro dos que falham, com sinceridade e correção fraterna, sem destruir a fama de ninguém, rezar uns pelos outros, ter um coração bom e generoso!
E a Liturgia do Advento nos abre ainda uma proposta: “Veio João, batizando no deserto e pregando um batismo de conversão, para o perdão dos pecados. A Judéia inteira e todos os habitantes de Jerusalém saíam ao seu encontro, e eram batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados” (Mc 1,4-5). Temos um tesouro na Igreja que é o Sacramento da Penitência ou da Reconciliação, quando a graça de Deus é oferecida em abundância! Durante este período de Advento, chegue a todos o convite a buscarem este Sacramento. Preparar-se para o Natal experimentando o encontro com o amor misericordioso de Deus, arrumar a nossa casa interior! Deus nos conduza nesta estrada de conversão!
Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.
Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.
Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.