A Igreja tem por missão levar a Boa Nova do Evangelho a todos os recantos, falando a linguagem de todos, conhecendo e amando toda a riqueza cultural de todos os povos. Cabe-lhe a tarefa de ser servidora de todos, oferecendo o que tem de melhor, a Lei de Cristo! O maravilhoso e desafiador mistério da liberdade humana está à disposição de todos, e a nós é entregue a responsabilidade de anunciar esta liberdade e criar as condições para que todos a experimentem de verdade.
Vale a proclamação da Sagrada Escritura: “Se quiseres guardar os mandamentos, eles te guardarão; se confias em Deus, tu também viverás. Diante de ti, ele colocou o fogo e a água; para o que quiseres, tu podes estender a mão. Diante do ser humano estão a vida e a morte, o bem e o mal; ele receberá aquilo que preferir” (Eclo 1516-18). Todos os mandamentos da Lei de Deus são portadores de plena realização para todos, sem exceção. Deus não é autor do mal e do pecado, e a ele não agrada a perdição de nenhum de seus filhos! Acolher a proclamação da novidade de Cristo, a perfeição da Lei, é o caminho da felicidade.
Entretanto, nossa missão se realiza num mundo desafiador, onde as próprias práticas religiosas são muito questionadas e podem ainda desgastar-se, tornando-se apenas observâncias rituais, muitas vezes vazias de sentido, quando ficam na superfície. A autenticidade de nossa fé, no seguimento autêntico de Jesus Cristo, é colocada em xeque a cada dia. E é a esta luz que nossa Igreja se dispõe, em seu Primeiro Sínodo Arquidiocesano, a rever sua vida e seu anúncio do Evangelho, na busca de novos caminhos para a Evangelização.
O Sermão da Montanha, considerado uma espécie de Carta de Princípios ou de Constituição do Reino de Deus e de sua Igreja, oferece ensinamentos adequados para purificar nossa fé, de forma a tornar mais límpido nosso testemunho. Sabemos que o amor, a caridade, é o cumprimento pleno de toda a lei (Cf. Rm 13,10), pelo que amando a Deus e ao próximo, todas as normas e os mandamentos estarão incluídos e levados à perfeição. Nas palavras pronunciadas por Jesus, podemos encontrar o modo adequado de praticar as exigências de uma vida cristã verdadeira. Com a luz do Evangelho a ser proclamado na Igreja neste final de semana (Mt 7, 17-37), podemos entrever algumas delas, a partir de uma espécie de refrão repetido por Jesus: “Eu, porém, vos digo”.
Os temas da família, separação, divórcio, adultério, tão atuais quanto desafiadores, comparecem no Evangelho. É muito fácil chegar ao divórcio, se consideradas as normas legais civis da atualidade. Entretanto, quando Jesus se refere ao assunto, fala de um adultério no coração. De fato, o Evangelho pode e quer conduzir-nos a refletir sobre o divórcio do coração, que antecede, e muito, a eventual separação física. É ali que desejamos conduzir a mensagem da Boa Nova, contribuindo para que as famílias de nosso ambiente se deixem converter no coração, acolhendo a proposta de maior proximidade e ternura, com a qual podem estar prevenidas contra separação, abandono dos filhos, divórcio, dramas terríveis que se nos apresentam no dia a dia. Um caminho de Evangelização será a valorização de todas as pastorais, movimentos e serviços que se interessam pela família, suas relações internas e relações com a sociedade. De modo especial haveremos de encontrar as estradas para chegar aos casos mais delicados e dar a devida atenção aos mais pobres e sofredores. A família é um caminho de Evangelização em nossas terras amazônicas.
“Ouvistes o que foi dito: ‘Não matarás’. Eu, porém, vos digo: todo aquele que se encoleriza contra o seu irmão será réu em juízo” (Mt 5, 21). A resposta à violência reinante na sociedade pode até parecer ingênua, mas é a única estrada capaz de mudar o mundo e os corações: “Quando estiveres levando a tua oferenda ao altar e ali te lembrares que teu irmão tem algo contra ti, deixa a tua oferenda diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão. Só então, vai apresentar a tua oferenda” (Mt 5, 23). Nossa Igreja, se quer evangelizar de verdade, há de encontrar a prática da reconciliação entre os próprios fiéis e tornar-se também agente de reconciliação e de paz na sociedade. Nossa Igreja deverá colocar-se à disposição para mediar conflitos, escutar partes neles envolvidas, dialogar com quem é diferente.
“Ouvistes também que foi dito aos antigos: ‘Não jurarás falso’, mas ‘cumprirás os teus juramentos feitos ao Senhor’. Ora, eu vos digo: não jureis de modo algum… Seja o vosso sim, sim, e o vosso não, não. O que passa disso vem do Maligno” (Mt 5, 34.36). O compromisso com a verdade, a transparência dos cristãos em seus negócios, a limpidez na prática administrativa nas Paróquias, a coragem para falar a verdade, a sinceridade! São caminhos preciosos e sempre novos para a Evangelização, a serem buscados com dedicação. Ninguém relaxe nas exigências da retidão e lisura pedidas aos cristãos, e sabemos o quanto podemos fazer para purificar nossas práticas e afastar da vida das pessoas, das estruturas de Igreja e da sociedade o terrível mal da corrupção! Este é um serviço que nossa Igreja quer e deve oferecer ao nosso tempo, e o desafio será encontrar os caminhos!
“Se teu olho direito te leva à queda, arranca-o e joga para longe de ti! De fato, é melhor perderes um de teus membros do que todo o corpo ser lançado ao inferno. Se a tua mão direita te leva à queda, corta-a e joga-a para longe de ti! De fato, é melhor perderes um de teus membros do que todo o corpo ir para o inferno” (Mt 5, 29-30). O Senhor não nos pede a mutilação física de nossos membros, mas exige a escolha radical do bem. A liberdade a ser alcançada em Cristo não combina com relaxamento, diminuição das exigências da fé. Antes, pede uma escolha de santidade, disposição para mirar para frente e para o alto. Podemos olhar ao nosso lado e descobrir que há muita gente boa e santa, há tesouros de santidade presentes em nossas Paróquias. Para nós, evangelizar será também descobrir tais tesouros, valorizá-los, abrir espaços para que coloquem à disposição da Igreja os seus dons. E aqui, evangelizar será também superar radicalizações ideológicas, com as quais se podem queimar pessoas e opções de espiritualidade. Em nossa Igreja, quem procurar a verdade, quem desejar ser santo ou santa, quem estiver pronto a anunciar e testemunhar Jesus Cristo, saiba que terá seu lugar. O que será necessário, sem dúvida, é o respeito e a valorização dos outros e das múltiplas estradas suscitadas pelo Espírito Santo!
Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.
Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.
Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.