Ir, ver, experienciar para, então, contar

“’Vem e verás’ (Jo 1,46). Comunicar encontrando as pessoas onde estão e como são”. Com este tema, o Papa Francisco dirigiu sua mensagem para o 55° Dia Mundial das Comunicações Sociais (DMCS), celebrado hoje, Solenidade da Ascensão do Senhor.

O convite a ir e ver – que no Evangelho foi resposta à dúvida dos discípulos e de Natanael – é também convite aos comunicadores para não se apoiarem somente no que ouviram dizer, ainda que isso exija mudança dos hábitos e processos já estabelecidos de serviço. O chamado a encontrar as pessoas onde estão e como são, é também um chamado a relembrar que a comunicação envolve pessoas que devem ser ouvidas, seja para agregar ao conteúdo do comunicador, quanto para aquilo que foi produzido chegar até o público, a partir de uma escolha madura dos meios e formas de comunicação.

Sim, a mensagem deste 55° DMCS que pretende provocar uma verdadeira mudança de rota. Se antes, para os profissionais de comunicação, bastava receber algumas informações via whatsapp, telefone ou e-mail, agora pede-se que vá e veja, numa comunicação de experiência, e não como espectador externo:

“Mas, se não nos abrimos ao encontro, permanecemos espectadores externos, apesar das inovações tecnológicas com a capacidade que têm de nos apresentar uma realidade engrandecida onde nos parece estar imersos. Todo o instrumento só é útil e válido, se nos impele a ir e ver coisas que de contrário não chegaríamos a saber, se coloca em rede conhecimentos que de contrário não circulariam, se consente encontro que de contrário não teriam lugar.”

Quando ter um texto apenas descritivo das atividades paroquiais era o suficiente para que a Pastoral da Comunicação fizesse uma postagem nas redes sociais, agora é lembrado que os gêneros de entrevista e reportagem enriquecem a informação que mostra a Igreja viva, e pode chegar a muitos, seja em um encontro pessoal ou a partir das redes:

“Para poder contar a verdade da vida que se faz história, é necessário sair da presunção cômoda do ‘já sabido’ e mover-se, ir ver, estar com as pessoas, ouvi-las (…)”

“Graças à rede, temos a possibilidade de contar o que vemos, o que acontece diante dos nossos olhos, de partilhar testemunhos”

Os cristãos, ligados ou não à comunicação profissional ou pastoral, com a boa vontade de compartilhar notícias que recebem e julgam importantes, são também chamados a compartilhar também de seu testemunho de vida, que, por si só, comunica, evangeliza e aproxima de Cristo. Desta forma, fala-se não somente do que está fora, mas da sua própria experiência com o Senhor:

“A fé cristã começa assim; e comunica-se assim: com um conhecimento direto, nascido da experiência, e não por ouvir dizer. ‘Já não é pelas tuas palavras que acreditamos; nós próprios ouvimos…’: dizem as pessoas à Samaritana, depois de Jesus Se ter demorado na sua aldeia (cf. Jo 4, 39-42)”

“Todos os instrumentos são importantes, e aquele grande comunicador que se chamava Paulo de Tarso ter-se-ia certamente servido do e-mail e das mensagens eletrônicas; mas foram a sua fé, esperança e caridade que impressionaram os contemporâneos que o ouviram pregar e tiveram a sorte de passar algum tempo com ele, de o ver durante uma assembleia ou numa conversa pessoal. Ao vê-lo agir nos lugares onde se encontrava, verificavam como era verdadeiro e frutuoso para a vida aquele anúncio da salvação de que ele era portador por graça de Deus. E mesmo onde não se podia encontrar pessoalmente este colaborador de Deus, o seu modo de viver em Cristo era testemunhado pelos discípulos que enviava (cf. 1 Cor 4, 17)”

O alvo comum dessas transformações na comunicação revela que a finalidade não está na informação compartilhada por um meio ou outro, e sim na experiência prévia do comunicador/cristão que foi, viu, viveu, e agora compartilha às pessoas onde estão e como são, e também as chama para ir e ver. Os jornalistas, a quem o Papa elogia por “gastar as solas dos sapatos”, em nada perderiam o rigor profissional ao noticiar alguma atividade com esta perspectiva; pelo contrário, o Verbo também estaria ali, visível nos sacramentos, ou invisível nos fatos, nas falas, nas experiências que só são observadas por quem encontrou com o Senhor e com o seu povo, “onde ninguém mais vai”.

Hoje permanece expressivo o número daqueles que precisam restabelecer sua fé, voltar seu olhar para a ação de Deus ainda nesses tempos, perceber que as aflições deste mundo são componentes indissociáveis na vida do Cristão, e que no fim, Cristo sempre vence. E, para o comunicador que exerce o seu papel no Corpo de Cristo, a transformação na vida do outro passa pela sua comunicação que convida a seguir o Senhor, que também o chama a ir e ver.

“Filipe não procura convencê-lo com raciocínios, mas diz-lhe: ‘vem e verás’ (cf. 1, 45-46). Natanael vai e vê, e a partir daquele momento a sua vida muda.”

Belém, 16 de maio de 2021
Solenidade da Ascensão do Senhor
55° Dia Mundial das Comunicações Sociais

Arte de destaque: CNBB


Laís do Valle Corrêa Vasconcelos
Articuladora regional da Pastoral da Comunicação – Pascom Norte 2
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – Regional Norte 2

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