Tendo celebrado o Tríduo Pascal, a Igreja nos oferece cinquenta dias de aprofundamento da fé no Cristo, Morto e Ressuscitado. Na primeira semana, nossos olhos se voltaram para as aparições do Senhor aos seus discípulos. Em seguida, o tema do Batismo, no diálogo de Jesus com Nicodemos, convidando-nos ao olhar da fé, reconhecendo naquele que foi elevado na Cruz, depois ressuscitado, o Senhor e Salvador. Continuando a formação que acontece nas celebrações e na vivência da fé, a Eucaristia e o discurso do Senhor sobre o Pão da Vida. E durante todo o Tempo Pascal, muitas das palavras de Jesus na última Ceia nos são oferecidas. Pouco a pouco, a promessa e a ação do Espírito Santo ocupam o espaço e nos conduzem a meditar, rezar e viver o Mistério da Igreja. Depois de celebrarmos a Ascensão, ouviremos e rezaremos juntos a Oração Sacerdotal de Jesus, preparando-nos para o Pentecostes, a ser comemorado no último domingo do mês de Maio.
Nos domingos que se seguiram à Oitava da Páscoa, revivemos o episódio dos discípulos de Emaús, para que corações ardentes se pusessem a caminho! Mais adiante, Jesus Bom Pastor foi apresentado de novo, para que, conduzidos por ele, estejamos juntos e unidos na Igreja e para a vida do mundo. Para que ninguém se desfaleça na busca do conhecimento do Pai, ele se apresentou há poucos dias como Caminho, Verdade e Vida. Como podemos ver, a lei da fé e a lei da oração caminham juntas e nos formam na estrada da fidelidade dos discípulos missionários de Jesus Cristo.
Providencialmente, quando celebramos o Dia das Mães, no próximo domingo, a Igreja quer oferecer-nos a participação responsável na missão. “Acaso uma mulher esquece o seu neném, ou o amor ao filho de suas entranhas? Mesmo que alguma se esqueça, eu de ti jamais me esquecerei! Vê que escrevi teu nome na palma de minha mão, tenho sempre tuas muralhas diante dos olhos” (Is 49,15-16). É que as mães são lições permanentes e fiéis do amor, como sinais do amor do próprio Deus, na coragem e na dedicação com que vivem a própria missão.
O Beato João Paulo I surpreendeu o mundo quando, em seu brevíssimo pontificado, comparou justamente o amor de Deus ao amor materno, e teve tempo para um profundo ensinamento sobre o amor: “‘Meu Deus, com todo o coração e acima de todas as coisas vos amo, bem infinito e nossa eterna felicidade, e por vosso amor amo o meu próximo como a mim mesmo e perdoo as ofensas recebidas. Senhor, que eu vos ame cada vez mais’. É oração conhecida, com expressões bíblicas embutidas. Amar significa viajar, correr com o coração para o objeto amado. Diz a Imitação de Cristo: quem ama corre, voa e se alegra (Imitação de Cristo, 1. III, c. V, n. 4). Amar a Deus é portanto um viajar com o coração para Deus. Viagem belíssima, embora comporte por vezes sacrifícios. Mas estes não nos devem fazer parar. Jesus está na cruz: queres beijá-lo? Não o podes fazer sem te debruçares sobre a cruz e deixar que te fira algum espinho da coroa, que está na cabeça do Senhor (Cf. São Francisco de Sales, Oeuvres, Annecy, t. XXI. p. 153). O amor a Deus é também viagem misteriosa: isto é, eu não parto se Deus não toma primeiro a iniciativa. Ninguém, disse Jesus, pode vir a mim, se o Pai não o atrair (Jo 6, 44). Perguntava Santo Agostinho a si mesmo: Mas, então, e a liberdade humana? Deus, que decidiu que ela existisse e construiu essa liberdade, sabe muito bem como respeitá-la, levando os corações ao ponto que tinha em vista: “Deus te atrai não só de modo que tu mesmo venhas a querer, mas até de modo que tu gostes de ser atraído” (Santo Agostinho, In Io. Evang. Tr. 26, 4). Com todo o coração. Ser totalitário, em política, é feio. Na religião, pelo contrário, quanto a Deus, está muitíssimo bem dizer que devemos ser totalitários. Foi escrito: ‘Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. E trarás gravadas no teu coração todas estas palavras que hoje te ordeno. Tu as repetirás com insistência a teus filhos e delas falarás quando estiveres sentado em casa ou andando a caminho, quando te deitares ou te levantares. Tu as prenderás como sinal à tua mão e as colocarás como faixa entre os olhos; tu as escreverás nas entradas da tua casa e nos portões da tua cidade’. (Dt 6, 5-9)”. (Cf. Beato João Paulo I, no dia 27 de setembro de 1978).
Não confundir o amor verdadeiro, capaz até de dar a vida pelo outro, com sentimentos fluidos e passageiros. “Se me amais, observareis os meus mandamentos” (Jo 14,15), diz o Senhor. Amar é um ato de inteligência e vontade. Saber que fomos feitos para amar e servir, sair de nós mesmos para procurar o bem de Deus e dos outros é caminho de realização. Quem ama vai além dos limites, toma iniciativa, escolhe fazer o bem, e por isso é feliz. A busca insaciável de si mesmo, dos próprios prazeres e satisfações levará necessariamente à destruição da própria pessoa.
Jesus não fazia “torcida” para chegar a hora de sua entrega na Cruz. Sendo homem, sofreu, chorou, suou sangue, mas foi coerente com o plano de Deus, desde toda a eternidade pensado no seio da Trindade. Ninguém tirou sua vida, ele a entregou livremente e venceu o sofrimento, a dor e a morte. Pelos seus méritos e graça, nós também podemos percorrer uma estrada semelhante. Com muita simplicidade, mas em plena verdade, temos a possibilidade de conhecer o Pai e Jesus, seu Filho amado, na força do Espírito prometido que habita em nós, pois diz o Senhor que “quem acolhe e observa os meus mandamentos, esse me ama. Ora, quem me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele” (Jo 14,21).
O amor leva a ser concretos na prática dos mandamentos, sem desculpas, tantas vezes esfarrapadas. Uma consequência pode ser o testemunho que damos da fé, segundo a proposta de São Pedro: “Estai sempre prontos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que a pedir” (1 Pd 3,15). O testemunho é dado com a escolha dos valores que orientam nossa vida e também com a palavra, de tal forma que nosso modo de agir suscite perguntas positivas nas outras pessoas. Tudo nasce da graça de Deus, mas exige nossa resposta livre e inteligente, sem complicações nem desejos de experiências ou revelações extraordinárias. Basta ver o testemunho de tantas mães!
Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.
Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.
Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.