Homilia da Posse de Dom Possidônio

À BEIRA DO MAR: À beira mar, ou à margem do Rio Caeté, vindos de outros rios e estradas, na Amazônia, aqui estamos reunidos, como Povo amado de Deus, para viver a alegria da posse de Dom Raimundo Possidônio. Nossas saudações a Dom Jesús Cizaurre Berdonces, a Dom Luís Ferrando e a todos os Bispos, Sacerdotes, Diáconos, Religiosos, Religiosas e Pessoas Consagradas. Mais do que tudo, nossa saudação afetuosa ao Povo que Deus ama, desta Diocese e de outros lugares. A Arquidiocese de Belém vem entregar-lhes um pescador, não de peixes, mas de homens e mulheres. Tiramos de nosso tesouro o que temos de melhor, e esta é a nossa alegria, ao fazermos este gesto de docilidade ao Papa Francisco e de amor a esta Igreja Irmã.

A BARCA DE PEDRO: Estamos todos na Barca de Pedro, que é a Igreja, acompanhando a aparição de Jesus ressuscitado aos seus discípulos, às margens do Mar da Galileia (Jo 21,1-9). Simão Pedro e outros companheiros se dirigem ao mar para pescar peixes, quando já tinham recebido a missão de pescadores de homens. Tiveram que aprender que não se pode retornar à vida de antigamente, depois de conhecer e seguir Jesus. Pescaria boa e abundante, só com Jesus presente. Aliás, é assim que a Barca de Pedro, a Igreja, pode navegar pelos mares revoltos da história, sem naufragar. Alie-se a esta imagem aquela da rocha, com a qual Jesus mudou o nome de Pedro. Estamos seguros e certos de que as forças do inferno não prevalecerão contra ela, mesmo quando nossas fragilidades nos fazem ter medo do vento, da chuva ou de uma pescaria malsucedida. No final das contas, virá a luz do amanhecer e o Senhor sempre estará com a mesa preparada para sua família.

SEGUE-ME: Os primeiros discípulos de Jesus receberam a missão de ir aos confins da terra com o anúncio da Boa Nova. Em Simão Pedro, antes do definitivo “segue-me”, foi necessário proclamar por três vezes o amor ao Senhor, recompondo a unidade de amor e confiança, depois da terrível experiência da negação, à qual se sucedeu o banho nas lágrimas do arrependimento. Aqui, Simão Pedro, e nós com ele, devemos afirmar duas, três ou milhares de vezes que o Senhor sabe tudo, e sabe de nosso amor. Será por amor que Pedro apascentará o rebanho do Senhor, será por amor que viria a glorificar a Deus, com seu martírio. É consolador saber que o Senhor virá sempre ao nosso encontro, pelas brumas das madrugadas sofridas de nossas crises e inconstâncias, para afirmar o amor, perguntar pelo amor, a fim de chegarmos à entrega total, mergulhados no mar do infinito amor de Deus.

NO CORAÇÃO DA IGREJA, SEREI O AMOR: O Evangelho de João relata ainda a pergunta de Pedro a respeito de João (Jo 21,21-23) que pode conduzir-nos à compreensão da diversidade de formas com a quais podemos contribuir no cuidado com o rebanho do Senhor. Esta palavra – cuidado – pode ser uma chave preciosa para nossa vocação pessoal e comunitária. Não há que rejeitar o jeito das outras pessoas servirem ao Senhor e ao seu Reino! Atenção para não negarmos aos outros a fidelidade que descobriram em sua estrada vocacional pessoal. No jardim plantado por Deus cabe uma imensa variedade de vocações, todas elas encontradas no lugar que Santa Terezinha descobriu para si: “No coração da Igreja, serei o amor”.

A DIVERSIDADE DE VOCAÇÕES E SERVIÇOS: Na belíssima diversidade existente na Igreja, valem algumas recomendações. Quem passa ao nosso lado seja amado em primeiro lugar e em primeira pessoa. São Paulo VI, no lugar em que se realizou este episódio, observou que o meio para colocá-lo em prática e não deixar que qualquer pessoa passe em vão ao nosso lado, é amar a todos! Cabe a cada um de nós o cuidado do olhar, das palavras e dos gestos! E esta atenção nos levará a alcançar os últimos e os mais pobres ou necessitados. Cada um de nós encontre um modo pessoal para ir ao encontro dos mais sofredores. Para uma pessoa, isso significará a visita e o serviço aos enfermos. Outra descobrirá uma família a ser acompanhada e servida com amor. Os que descobrem o chamado à pastoral carcerária, visitarão diuturnamente os presos, coisa que outros não saberão fazer. Nas Paróquias e Comunidades, alguém poderá ser o servidor que abre as portas da Igreja, fisicamente ou pastoral e espiritualmente, indicando o caminho da Comunidade Eclesial para os mais afastados. Haverá gente cuja contribuição será dar alegria e o presente do bom humor aos outros. Outros apascentarão com uma vassoura, ajudando concretamente para que as pessoas se sintam bem na Igreja. Haverá benfeitores explícitos ou anônimos que ofertarão suas posses, seu tempo ou seu suor para construir novas igrejas e capelas e cuidar das obras sociais da Igreja!

E O NOVO BISPO? Aqui podemos perguntar a Jesus a respeito de Dom Cid. O que será dele?

RECONHECER O SENHOR: João de hoje, no meio do lusco-fusco das madrugadas e dificuldades de toda ordem, é você, caro Cid. Reconheça o Senhor e, com você, ninguém duvide! Cabe-lhe dizer milhares de vezes: É o Senhor! Com o texto do Apocalipse proclamado hoje, reconheça continuamente o Cordeiro Imolado, digno de receber o poder, a riqueza, a sabedoria e a força, a honra, a glória e o louvor. Reconheça o seu vulto, acolha-o com amor, e a pescaria será abundante, pois suas chagas são gloriosas.

LANÇAR AS REDES: Podemos também voltar à outra narrativa da pesca milagrosa, no Evangelho de São Lucas (Lc 5,1-11): “Na tua Palavra, lançarei as redes!” Caríssimo Bispo, a rede abundante é a do Batismo, o alimento na praia só pode ser dado por Jesus, e é Jesus! Tenha como um só livro o Evangelho, pois sua missão é evangelizar, sua lei seja o mandamento novo de Jesus, que o levará a ser construtor da unidade, com a presença de Jesus em nosso meio, ele que garantiu estar entre aqueles que se reúnem em seu nome.

ANUNCIAR COM LIBERDADE: Como os apóstolos na primeira leitura de hoje, seja obediente mais a Deus do que aos homens, para anunciar com liberdade o querigma, a morte e a ressurreição do Senhor, o mistério pascal que por Deus foi instituído parava nossa salvação.

UNIDADE: O Papa Francisco, quando comemorou cinquenta anos de ordenação sacerdotal, propôs aos padres, e vale para o presbitério que com Dom Jesús e seu coadjutor aqui se encontra, três vizinhanças a serem cultivadas, dentro do estilo de comunhão sinodal a que somos hoje chamados: proximidade com Deus, numa intensa vida litúrgica e de oração; proximidade entre os Bispos e com os presbíteros, dos quais o Bispo há de cuidar com especial atenção; proximidade afetiva e efetiva com o Povo de Deus.

PROGRAMA DE VIDA PASTORAL: Enfim, como sua vida recente foi povoada por Sínodos, três palavras que apontam para o Sínodo de 2023, e que podem se transformar em programa de vida: Comunhão, Participação e Missão!

NAS MÃOS E NO CORAÇÃO DE MARIA: E agora, confiamos seu ministério a Nossa Senhora do Rosário, pedindo que o Espírito Santo lhe conceda a graça de contemplar sempre, com o olhar da Virgem Maria, os Mistérios de Cristo, para anuncia-los a todos, pois sua missão é evangelizar!

Foto de destaque: Salim Wariss

Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.

Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.

Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.

Dom Alberto Taveira Corrêa

Arcebispo Metropolitano de Belém

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