Caríssimos irmãos sacerdotes diocesanos e religiosos da Arquidiocese de Belém. Caríssimos irmãos e irmãs que nos acompanham de suas casas através da nossa Rede Nazaré de Comunicação e outros Meios de Comunicação.
Hoje a Palavra de Deus convoca esta Assembleia de uma forma diferente, pela primeira vez reunida e unida sem a possibilidade da presença física dos fiéis. Aqui celebramos os laços sacramentais que nos unem, simbolizados pelos Santos Óleos. Aqui o ministério exercido pelos presbíteros, sacerdotes queridos de nossa Igreja, é renovado e adquire novo vigor para a missão. Aqui, nesta Igreja Catedral, queremos de novo tomar posse de nosso ser “Igreja de Portas Abertas”, para que “as nossas cidades se encham de alegria” , pois, mesmo na dor e nos limites que nos são impostos pela grave situação pela qual passa todo o planeta, este é um novo e inesperado capítulo de nosso Primeiro Sínodo Arquidiocesano. Desejamos vivê-lo com intensidade espiritual.
Permitam-me os fiéis que nos acompanham de casa dirigir-me hoje, em primeiro lugar, aos padres da Arquidiocese, os que aqui se encontram e os que, por fazerem parte de grupos de risco, nos acompanham de suas casas. Sim, porque todos estamos no mesmo barco, do mesmo modo que toda a população.
Quem somos nós? Somos parte de um povo sacerdotal , marcados pela graça batismal e também pelo sacramento da ordem. Fomos ungidos pelo Espírito Santo para a missão. Trazemos em nossa história as marcas de nossa humanidade. Não somos melhores do que os outros, mas temos o santo orgulho de ter sido chamados, com um olhar de predileção, pelo Senhor. Agradeçamos a Deus porque ele nos resgatou com amor de misericórdia, não olhando para nossos limites e pecados. Louvemos ao Senhor nesta manhã pela história pessoal de nossa vocação, que desejamos colocar como oferenda na Santa Missa, junto com o pão e o vinho que serão apresentados. Todos os detalhes, mesmo os que parecerem mais insignificantes, estejam presentes no coração de cada padre no dia de hoje. Tudo teve e tem sentido redentor, na história de sua vida cristã.
Esta é uma oportunidade, quando estamos reunidos em família sacerdotal, para que Dom Antônio e eu manifestemos reconhecimento e a gratidão por tudo aquilo que cada padre é e faz pelo bem de nossa Igreja. Os dias que correm têm sido manifestação clara do empenho, criatividade, dedicação e seriedade com que os nossos sacerdotes têm exercido o seu ministério. Vivemos tempos difíceis, e o horizonte ainda está nublado, sabe Deus por quanto tempo! Certamente passaremos por muitas dificuldades, em todos os sentidos. Nossas paróquias já estão aprendendo o caminho da sobriedade, o corte daquilo que for supérfluo, os frutos da carestia. No entanto, damos testemunho de quanto nosso presbitério está dando testemunho corajoso e firme, pelo qual damos graças e entregamos nas mãos de Nosso Senhor todo o bem que é feito.
Podemos ainda fazer outra pergunta. O que devemos fazer? Nestes dias, uma expressão usada pelo Papa Francisco para falar da missão da Igreja – “Hospital de Campanha” – ressoa por toda parte, pois são muitos os efetivos hospitais assim entendidos que estão e serão edificados. Pois bem, nosso hospital de campanha, cada Paróquia ou outro campo de atividade dos padres, pode encontrar na liturgia de hoje a sua missão. “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu; enviou-me para dar a boa-nova aos humildes, curar as feridas da alma, pregar a redenção para os cativos e a liberdade para os que estão presos; para proclamar o tempo da graça do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus; para consolar todos os que choram, para reservar e dar aos que sofrem por Sião uma coroa, em vez de cinza, o óleo da alegria, em vez da aflição”, proclamar o ano da graça do Senhor. Onde quer que estivermos, seremos chamados a reconstruir vidas, renovar as cidades, como ministros do nosso Deus, sacerdotes do Senhor! Cada vez que a Palavra for proclamada em nossas igrejas, seja possível dizer: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir”
Onde encontraremos a força para tão exigente tarefa, maior ainda quando os desafios se multiplicam? Certíssima é a garantia da unção vinda do Senhor. Ao ungir os catecúmenos, para depois batizá-los, e aqui vejo toda a ingente tarefa da Iniciação Cristã, reconheçamos que agimos na pessoa de Cristo, malgrado nossos eventuais limites. Aos enfermos que receberão de nossas mãos o sacramento, e podem ser muitos e muitos os riscos dos próximos tempos, chegue nossa palavra e nossos gestos de encorajamento. Se porventura tivermos que dar por eles a vida, do Espírito do Senhor venha a necessária ousadia. Recordemos palavras de fogo do Santo Cura d’Ars: “O Sacerdote é o amor do Coração de Jesus. Se um padre vier a morrer em consequência dos trabalhos e sofrimentos suportados pela glória de Deus e a salvação das almas não seria nada mal. O Sacerdote só será bem compreendido no céu. Se o compreendêssemos na terra, morreríamos, não de pavor, mas de amor.”
O óleo do Crisma, que ungiu nossas mãos na ordenação e com o qual ungimos os batizados, seja o sinal de que somos chamados a ser “outro Cristo”. Trago aqui palavras de Bento XVI, no Ano Sacerdotal: “Alter Christus, o sacerdote está profundamente unido ao Verbo do Pai que, encarnando, assumiu a forma de servo, se tornou servo. O presbítero é servo de Cristo, no sentido que a sua existência, configurada com Cristo, adquire uma índole essencialmente relacional: ele vive em Cristo, por Cristo e com Cristo ao serviço dos homens. Precisamente porque pertence a Cristo, o presbítero encontra-se radicalmente ao serviço dos homens: é ministro da sua salvação, nesta progressiva assunção da vontade de Cristo, na oração, no “estar coração a coração” com ele. Assim, esta é a condição imprescindível de cada anúncio, que exige a participação na oferenda sacramental da Eucaristia e a dócil obediência à Igreja. Com as lágrimas nos olhos, o Santo Cura d’Ars repetia com frequência: “Como é assustador ser sacerdote!”. E acrescentava: “Como é lastimável um sacerdote que celebra a Missa como se fosse um fato ordinário! Como é desventurado um sacerdote sem vida interior!” Todos os presbíteros se identifiquem totalmente com Jesus crucificado e ressuscitado para que, à imitação de São João Batista, estejam prontos a “diminuir” a fim de que ele cresça; a fim de que, seguindo o exemplo do Cura d’Ars, sintam de maneira constante e profunda a responsabilidade da sua missão, que é sinal e presença da misericórdia infinita de Deus”
Algumas atitudes podem ser consequências do mistério hoje celebrado. Primeiro, dar graças a Deus por aquilo que somos, e tudo vem dele! Depois, dar o melhor de nós mesmos, ainda que não tenhamos chegado à perfeição. Empenhemo-nos em ser perfeitos no amor de misericórdia, especialmente uns com os outros. Com dedicação, saibamos ser humanos, porque também o somos, e assim reconheçamos o povo que nos foi confiado, indo ao encontro de todos, principalmente os mais pobres, pecadores e os que estão ou se sentem marginalizados. Os ministérios que nos são confiados, o pastoreio, a palavra e os sacramentos, nos encontrem dedicados com toda a nossa alma.
E agora, caríssimos irmãos e irmãs que nos seguem de suas casas, Igrejas domésticas, pelos nossos Meios de Comunicação, como acompanharam a dedicação que a Igreja espera dos padres, eu os convido a retribuírem amor com amor, reconhecendo a grandeza e a dedicação com que realizam a missão, descobrindo cada dia a missão que cabe a todos os cristãos e rezando pelos nossos padres. Vocês são “raça escolhida, o sacerdócio régio, a nação santa, o povo que Deus adquiriu, a fim de proclamar os grandes feitos daquele que nos chamou das trevas para a sua luz maravilhosa. São aqueles que antes não eram povo, agora, porém, são povo de Deus; os que não eram objeto de misericórdia, agora, porém, alcançaram misericórdia”.
Foto: Luiz Estumano
Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.
Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.
Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.