Há datas significativas nascidas da prática da Igreja e do exemplo dos santos. Neste final de semana, celebramos São Vicente de Paulo, cujo nome influenciou na escolha do “Dia do Ancião”, em alguns lugares “Dia da Caridade”. Celebra-se nestes dias também a “Semana do Idoso”, com iniciativas positivas na atenção àquilo que alguns chamam “melhor idade”. De fato, São Vicente de Paulo deixou com seu exemplo marcas indeléveis, e podemos pensar na Congregação da Missão, os Padres Lazaristas, ou a Companhia das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, as Irmãs Vicentinas, tão presentes em nossa Arquidiocese e por todo o Brasil e o mundo, ou a Sociedade São Vicente de Paulo, nascida tempos depois de São Vicente à luz de sua espiritualidade. Outras comemorações entraram nas diversas culturas através do exemplo de cristãos, homens e mulheres, que deixaram seu rastro na história. Sinal de que o Evangelho faz cultura!
Para nós, cristãos católicos, este é também um tempo especial, pois mais uma vez será celebrada a Jornada Mundial dos Pobres, por convocação do Papa Francisco, de cuja mensagem trazemos alguns pontos, para que todos se envolvam em sua preparação e realização. “Estende a tua mão ao pobre” (Eclo 7, 32). Diz o Papa: “A sabedoria antiga dispôs estas palavras como um código sacro que se deve seguir na vida. Hoje ressoam com toda a densidade do seu significado para nos ajudar, também a nós, a concentrar o olhar no essencial e superar as barreiras da indiferença. A pobreza assume sempre rostos diferentes, que exigem atenção a cada condição particular: em cada uma destas, podemos encontrar o Senhor Jesus, que revelou estar presente nos seus irmãos mais frágeis” (Cf. Mt 25, 40). São inseparáveis a oração a Deus e a solidariedade com os pobres e os enfermos. Para celebrar um culto agradável ao Senhor, é preciso reconhecer que toda a pessoa, mesmo a mais indigente e desprezada, traz gravada em si mesma a imagem de Deus. De tal consciência deriva o dom da bênção divina, atraída pela generosidade praticada para com os pobres. Por isso, o tempo que se deve dedicar à oração não pode tornar-se jamais um álibi para descuidar o próximo em dificuldade. É verdade o contrário: a bênção do Senhor desce sobre nós e a oração alcança o seu objetivo, quando são acompanhadas pelo serviço dos pobres. Manter o olhar voltado para o pobre é difícil, mas tão necessário para imprimir a justa direção à nossa vida pessoal e social. Não se trata de gastar muitas palavras, mas antes de comprometer concretamente a vida, impelidos pela caridade divina. Todos os anos, com o Dia Mundial dos Pobres, volto a esta realidade fundamental para a vida da Igreja, porque os pobres estão e sempre estarão conosco (Cf. Jo 12, 8) para nos ajudar a acolher a companhia de Cristo na existência do dia a dia”.
Estender a mão ao pobre significa olhar ao nosso redor, para encontrar as pessoas mais necessitadas. Não se trata de exercício de filantropia, ainda que elogiável e importante. O fundamento se encontra na certeza, vinda da fé, a respeito da dignidade inalienável de toda pessoa humana, e que Deus quer que todos tenham a vida, e vida em abundância (Cf. Jo 10,10). Este olhar deve ser marcado por um profundo respeito e verdadeira veneração.
Impressiona a força das convicções de São Vicente de Paulo: “Cristo quis nascer pobre, escolheu pobres para seus discípulos, fez-se servo dos pobres e de tal forma quis participar da condição deles, que declarou ser feito ou dito a ele mesmo tudo quanto de bom ou de mau se fizesse ou dissesse aos pobres. Deus ama os pobres, também ama aqueles que os amam. Quando alguém tem um amigo, inclui na mesma estima aqueles que demonstram amizade ou prestam obséquio ao amigo. Por isto esperamos que, graças aos pobres, sejamos amados por Deus. Visitando-os, pois, esforcemo-nos por entender os pobres e os indigentes e, compadecendo-nos deles, cheguemos ao ponto de poder dizer com o Apóstolo: Fiz-me tudo para todos (1Cor 9,22). Por este motivo, se é nossa intenção termos o coração sensível às necessidades e misérias do próximo, supliquemos a Deus que derrame em nós o sentimento de misericórdia e de compaixão, cumulando com ele nossos corações e guardando-os repletos. Deve-se preferir o serviço dos pobres a tudo o mais e prestá-lo sem demora. Se na hora da oração for necessário dar remédios ou auxílio a algum pobre, ide tranquilos, oferecendo a Deus esta ação como se estivésseis em oração. Não vos perturbeis com angústia ou medo de estar pecando por causa de abandono da oração em favor do serviço dos pobres. Deus não é desprezado, se por causa de Deus dele nos afastarmos, quer dizer, interrompermos a obra de Deus, para realizá-la de outro modo” (Dos Escritos de São Vicente de Paulo, presbítero – Correspondance, Entretiens, Documents, ed. P. Coste, Paris 1920-1925, passim).
Estender a mão ao pobre significa que todos nós, sem exceção, somos chamados a tomas iniciativas de serviço ao próximo. Uma proposta pode ser que cada pessoa encontra uma forma para expressá-lo. Para alguém, será a prática da visita aos enfermos. Outra pessoa se comprometerá com uma Obra Social em seu Bairro. Pode acontecer que alguém se ponha à disposição ao serviço voluntário. O sacerdote continuará a abençoar, visitar, consolar, dar os sacramentos! Em tempo de pandemia, quantas pessoas transformaram sua habilitação no campo da saúde em verdadeiro exercício de caridade, indo ao encontro dos que mais sofrem. Entre nós, quantos são os gestos de serviço e amor à população de rua! A criatividade suscitada pelo Espírito que age em nós mostrará o caminho! “O clamor silencioso de tantos pobres deve encontrar o povo de Deus na vanguarda, sempre e em toda parte, para lhes dar voz, defendê-los e solidarizar-se com eles face a tanta hipocrisia e tantas promessas não cumpridas, e para os convidar a participar na vida da comunidade”. E continua o Papa: “Estender a mão leva a descobrir, antes de tudo a quem o faz, que dentro de nós existe a capacidade de realizar gestos que dão sentido à vida”.
O Dia Mundial dos Pobres está sendo preparado em nossa Arquidiocese com atividades formativas, partilha de experiências, gestos concretos de serviço, dedicação de todos. Ninguém se exclua! Seja um tempo de mãos estendidas!
Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.
Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.
Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.