Escutar, ser amados, ser conhecidos e seguir o Bom Pastor

Deus não se repete. Ele é sempre novo e projeta sua Igreja e a humanidade para o alto e para a frente. Cada sucessor de Pedro eleito manifesta e na comunhão que se estabelece em torno de seu ministério, a resposta que o Senhor, Bom Pastor, quer oferecer a cada tempo, primeiro àqueles que, pela adesão da fé e a graça do Batismo entraram na comunhão de vida, que é a própria Igreja, para chegar até os confins da terra, sem excluir ninguém, pois somos todos testemunhas e agentes do amor infinito de Deus, que deseja para todos cheguem o conhecimento da verdade, que é o seu próprio Filho amado. Nosso olhar, nosso afeto e nosso amor universal se dirigem a “uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar” (Ap 7,9). Aonde chega o amor de Deus às pessoas, até lá a Igreja alcança com seu zelo apostólico! Não tenhamos receio de sonhar alto: “Nunca mais terão fome, nem sede. Nem os molestará o sol, nem algum calor ardente. Porque o Cordeiro, que está no meio do trono, será o seu pastor e os conduzirá às fontes da água da vida. E Deus enxugará as lágrimas de seus olhos” (cf. Ap 7,9.14b-17).         

Estes foram dias de escuta atenta da voz de Deus, no discernimento realizado entre as quatro paredes da Capela Sistina, onde foi eleito o Papa Leão XIV, mas a mesma voz disseminada por todo o mundo, pois o Espírito sopra onde quer! Escutamos a Palavra da Escritura, proclamada na Liturgia, lida e rezada na oração pessoal e nas Comunidades de Fé! Nós escutamos a voz de Deus que inspira no mais íntimo de cada um, para identificar o que o Espírito diz à Igreja. Nós escutamos os irmãos e irmãs em suas alegrias, esperanças e sofrimentos, que podem ser fontes de sabedoria, para conduzir-nos a uma nova etapa de crescente fidelidade a Deus, já que todos os acontecimentos estão, como que, grávidos da ação do Espírito. Ao acolher o novo Sucessor de Pedro, o Papa Leão XIV, é tempo de uma profunda profissão de fé no instrumento de discernimento, anúncio e profecia que a Igreja recebe, oferecendo-lhe nossa adesão sincera, nosso apoio incondicional e nossas fervorosas orações. A ele nossa Igreja de Belém oferece imediata adesão e promessa de fidelidade, condição para sua autenticidade, à qual se une o fato de que nela se encontra um legítimo sucessor dos Apóstolos, onde se celebra validamente a Eucaristia e assim é presença da única Igreja de Cristo.

O novo Pontificado se inicia sob a égide da figura do Bom Pastor, festa celebrada cada ano no quarto Domingo da Páscoa (cf. Jo 10,1-30). São na realidade textos que ficaram conhecidos como “Parábola do Bom Pastor”, num contexto extremamente desafiador para Jesus, em confronto com autoridades de seu tempo, renitentes em acolher um novo modo de agir, quando o Pastor não se faz dominador do rebanho, mas por ele se entrega com plena liberdade, coerente com seu projeto de vida plena a ser oferecida por todos os homens e mulheres de todos os tempos. Jesus Bom Pastor é um só Deus com o Pai e o Espírito Santo, enviado à humanidade para partilhar tudo conosco, menos o pecado, do qual nos libertou com sua Morte e Ressurreição. Trouxe à terra o estilo de vida da Santíssima Trindade expresso no que disse: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (cf. Jo 13,34-35; Jo 15,12-27). Juntamente com o Papa Leão XIV, escolhido como Sucessor de Pedro, toda a Igreja deverá resplandecer pelo amor recíproco e pela disposição de dar a vida pela humanidade. E nossos tempos são ainda mais complexos e exigentes. Entretanto, contamos com o Senhor, que não abandona a sua Igreja.

O Bom Pastor “entra pela porta” (cf. Jo 10,7-10) e ele mesmo é a Porta das ovelhas. Toda a Igreja deseja chegar aos confins da terra passando pela porta que é Jesus e, ao mesmo tempo, nele tornar-se cada vez mais porta aberta para todos, a fim de que todos tenham vida em abundância. Junto com o Papa, cada porção de Igreja e cada fiel deverá ter coração aberto e mãos prontas para a obra da Evangelização e o cuidado amoroso, como Igreja em saída, dos mais pobres e sofredores, sem discriminar ninguém! Contribuiremos para que se realize a visão do Apocalipse: “Vi uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar”. (cf. Ap 7,9.14b-17). O caminho pastoral que se abre com a eleição do Papa Leão XIV, foi expresso magnificamente no projeto de Paulo e Barnabé, cuja leitura é proclamada no Domingo do Bom Pastor: “Vamos dirigir-nos aos pagãos. Porque esta é a ordem que o Senhor nos deu: ‘Eu te coloquei como luz para as nações, para que leves a salvação até os confins da terra’. Os pagãos ficaram muito contentes, quando ouviram isso, e glorificavam a palavra do Senhor. Todos os que eram destinados à vida eterna, abraçaram a fé. Desse modo, a palavra do Senhor espalhava-se por toda a região (cf. At 13,14.43-52). O desafio permanente à missão se renova em nosso tempo com novo ardor!

Atitudes de ovelhas, carneiros, cordeiros do rebanho do Senhor, expressões bem entendidas dentro do contexto em que foram pronunciadas e transmitidas, sejam constantes em nossa vida cristã neste tempo pascal. Escutar a voz do Senhor Bom Pastor, com a disposição para viver efetivamente a Palavra, aliada ao discernimento diante da profusão de vozes que nos chegam de toda parte, inclusive com a pretensão de julgamentos precipitados e injustos, tentando dividir o rebanho e suscitar polarizações de caráter ideológico.

Como “a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5), temos a certeza de que este amor se dirige a cada um de nós e a todos, e a vitória que vence o mundo é a nossa fé (cf. 1Jo 5,4-5), não queremos destruir ou derrotar ninguém, mas a todos envolver neste amor de Deus, que quer acolher o universo inteiro de povos e nações. Atitudes condenatórias, como se fosse de nossa competência jogar pessoas e grupos nas profundezas do inferno, não serão o programa da Igreja no futuro. Desejamos antes que o fogo do amor de Deus queime e purifique como o ouro e a prata ao crisol (cf. Pr 27,21), para que brilhe o bem com que Deus pensou e criou a todos os seus filhos e filhas.

Enfim, nosso propósito é o de seguir o Bom Pastor, que caminha sempre à frente e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz (cf. Jo10,4). Nossa adesão a Leão XIV, Bispo de Roma e Pastor Universal, legitimamente constituído, será nosso modo de viver como cristãos católicos, dando ao mundo o autêntico testemunho de unidade, “para que o mundo creia” (cf. Jo 17,21).

Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.

Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.

Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.

Dom Alberto Taveira Corrêa

Arcebispo Metropolitano de Belém

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