Uma antiga e sempre nova exclamação manifesta a certeza que se encontra presente em nossos corações e resume o que nos identifica como cristãos: “Cristo ressuscitou! Ressuscitou de verdade!” Na Vigília Pascal, com as velas acesas, para expressar a luz da fé que professamos, manifestamos que esta é a verdade fundamental, nossa identidade diante das pessoas e do mundo. Nesta ocasião, faz bem trazer o ensinamento da Igreja (Cf. Catecismo da Igreja Católica, 638-647), com fundamento na Escritura, em seus pontos essenciais.
“Nós vos anunciamos a Boa-Nova de que a promessa feita aos nossos pais, a cumpriu Deus para nós, seus filhos, ao ressuscitar Jesus” (At 13, 32-33). A ressurreição de Jesus é a verdade culminante da nossa fé, acreditada e vivida como verdade central pela primeira comunidade cristã, transmitida como fundamental, estabelecida pelos documentos do Novo Testamento, pregada como parte essencial do mistério pascal, ao mesmo tempo que a cruz: Cristo ressuscitou dos mortos. Pela sua morte venceu a morte, e aos mortos deu a vida. O mistério da ressurreição de Cristo é um acontecimento real: “Por que motivo procurais entre os mortos aquele que está vivo? Não está aqui, ressuscitou” (Lc 24, 5-6). “Eu vos transmiti-vos, em primeiro lugar, o mesmo que havia recebido: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras: a seguir, apareceu a Pedro, depois aos Doze” (1 Cor 15, 3-4)
Maria Madalena e as outras mulheres foram as primeiras mensageiras da ressurreição de Cristo. Em seguida, foi aos discípulos que Jesus apareceu: primeiro a Pedro, depois aos Doze. E é com base no seu testemunho que a comunidade exclama: “Realmente, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão” (Lc 24, 34.36). A fé está fundada no testemunho de homens concretos. Perante estes testemunhos, é impossível interpretar a ressurreição de Cristo fora da ordem física e não a reconhecer como um fato histórico. A fé dos discípulos foi submetida à prova da paixão e morte de cruz do seu Mestre. A sua fé na ressurreição nasceu, sob a ação da graça divina, da experiência direta da realidade de Jesus Ressuscitado.
Ele estabeleceu com os seus discípulos relações diretas, através do contato físico e da participação na refeição, convidou-os a verificar que o corpo ressuscitado, com o qual se lhes apresentou, era o mesmo que foi torturado e crucificado, com os vestígios da paixão. No entanto, este corpo possui as propriedades novas dum corpo glorioso: não está situado no espaço e no tempo, pode tornar-se presente onde e quando quer, porque a sua humanidade já não pode ser retida sobre a terra e já pertence ao domínio divino do Pai. Jesus Ressuscitado é soberanamente livre de aparecer como quer: sob a aparência dum jardineiro ou “com um aspecto diferente” (Mc 16, 12) daquele que era familiar aos discípulos, para lhes despertar a fé. Sua ressurreição não foi um regresso à vida terrena, como no caso das ressurreições que tinha realizado antes da Páscoa: a filha de Jairo, o jovem de Naim e Lázaro. É essencialmente diferente. O corpo de Cristo é, na ressurreição, cheio do poder do Espírito Santo; participa da vida divina no estado da sua glória. Ele é o “homem celeste”.
Após a Ressurreição, o Senhor escolhe para sua presença espaços inusitados aos olhos do mundo! Ele está presente nos irmãos e irmãs (Mt 25,31-46), está presente no íntimo de cada pessoa (Mt 6,6, Lc 24,32), na palavra da Igreja (Lc 10,16), quando os irmãos estão reunidos em seu nome no amor (Mt 18,20), na sua Palavra e no testemunho com o qual o encontramos (Jo 6,30-50; Jo 20,29) e na maior exuberância de sua presença, a Eucaristia (Jo 6,51;1 Cor 11,23-29). Quem acredita no Cristo ressuscitado nunca está sozinho e todos os dias poderá dizer: “Meus olhos viram vossa salvação, que preparastes ante a face das nações (Lc 2,30-31).
Consequência de nossa profissão de fé no Ressuscitado é a certeza de que a escuridão, a tristeza, a morte e o pecado não têm a última palavra, pois aquele que crê no Senhor também ressuscitará e terá a vida eterna. Nossa fé conduz à certeza de que “se à tarde vem o pranto visitar-nos, de manhã nos vem saudar a alegria” (Sl 29,6). Os cristãos sempre encontram a semente da vida e da alegria em todos os acontecimentos, o que os leva a ser homens e mulheres de soluções, nunca de palavra final de destruição.
Tal semente é plantada no coração com a graça do Batismo, com o qual fomos sepultados na morte com Cristo para ressuscitar com ele. “O Batismo purifica de todos os pecados, faz de quem é batizado um filho adotivo de Deus, tornado participante da natureza divina, membro de Cristo, coerdeiro com ele, templo do Espírito Santo. Confere aos batizados a graça santificante, a graça da justificação, que torna capazes de crer em Deus, esperar nele e o amar; dá o poder de viver e agir sob a moção do Espírito Santo e pelos dons do Espírito Santo, permite crescer no bem, faz de nós membros do Corpo de Cristo, incorporando-nos na Igreja (Ef 4,25). Das fontes batismais nasce o único povo de Deus da Nova Aliança, que ultrapassa todos os limites naturais ou humanos das nações, culturas, raças e sexos (Cf. Catecismo da Igreja Católica, 1265-1267).
Todas as vezes em que a Igreja celebra a Eucaristia, torna-se presente, com todos os seus frutos, a morte e a ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, especialmente no dia de Domingo, dia da Ressurreição. E anualmente celebramos a Páscoa, como estamos vivendo nestes dias, com a Semana Santa e as celebrações pascais que se prolongarão por cinquenta dias.
E neste ano, Semana Santa e Páscoa são vividas de forma diferente, com as dificuldades suscitadas pela pandemia em que o planeta inteiro se vê envolvido. Nossas casas, Igrejas Domésticas, tornam-se espaço privilegiado para viver e celebrar estes acontecimentos.
Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.
Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.
Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.