“Quando chegou a hora, Jesus pôs-se à mesa com os apóstolos e disse: “Desejei ardentemente comer convosco esta ceia pascal, antes de padecer. Pois eu vos digo que não mais a comerei, até que ela se realize no Reino de Deus’” (Lc 22, 14-16). Celebramos com grande alegria a Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, que costumamos chamar “Festa de Corpus Christi”. Passado o Tempo Pascal, quando a Eucaristia foi celebrada com tanta dignidade em todas as partes, do nascer ao pôr-do-sol, mesmo com as atuais e provocadoras circunstâncias de saúde pública em que nos encontramos, a sabedoria da Igreja nos faz contemplar e viver este Mistério que a acompanha, cume e fonte de toda a atividade apostólica.
Para as finalidades da Eucaristia – tornar-nos um só corpo e um só coração com Cristo – tudo converge, anúncio da Palavra, Catequese, organização da Igreja, e tudo nasce, como a vida na caridade, o anúncio do Reino de Deus e seus valores, o relacionamento com as pessoas e a sociedade, e também a profecia. Além disso, cada pessoa que comunga torna-se portador de Cristo, procissão viva, para que todos os que consomem seu tempo e sua capacidade de amar recebam misteriosamente o Senhor que nos sustenta a todos.
“Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem come deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne, entregue pela vida do mundo” (Jo 6, 51). Ao final de sua pregação sobre o Pão da Vida, Jesus faz uma revelação, certamente surpreendente, para a multidão e também para seus discípulos. O alimento que ele oferece é a sua carne e o seu sangue para a vida do mundo. Anunciava a sua presença permanente, que os outros três evangelistas descrevem na narrativa da última Ceia, assim como São Paulo, no magnífico texto da Primeira Carta aos Coríntios (1 Cor 11, 23-26): “Eu recebi do Senhor o que também vos transmiti: na noite em que ia ser entregue, o Senhor Jesus tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse: ‘Isto é o meu corpo entregue por vós. Fazei isto em memória de mim’. Do mesmo modo, depois da ceia, tomou também o cálice e disse: ‘Este cálice é a nova aliança no meu sangue. Todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em minha memória’. De fato, todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor, até que ele venha’”. Vale trazê-lo da memória, “na ponta da língua”, de “cor”, no coração, para ter presentes as palavras que são a referência para aquilo que a Igreja repete na Consagração, em cada Missa!
“A Igreja vive da Eucaristia. Esta verdade não exprime apenas uma experiência diária de fé, mas contém em síntese o próprio núcleo do mistério da Igreja. É com alegria que ela experimenta, de diversas maneiras, a realização incessante desta promessa: ‘Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo’ (Mt 28, 20); mas, na sagrada Eucaristia, pela conversão do pão e do vinho no corpo e no sangue do Senhor, goza desta presença com uma intensidade sem par. Desde o Pentecostes, quando a Igreja, povo da nova aliança, iniciou a sua peregrinação para a pátria celeste, este sacramento divino foi ritmando os seus dias, enchendo-os de consoladora esperança. O Concílio Vaticano II justamente afirmou que o sacrifício eucarístico é ‘fonte e centro de toda a vida cristã’. Com efeito, ‘na santíssima Eucaristia, está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, a nossa Páscoa e o Pão vivo que dá aos homens a vida mediante a sua carne vivificada e vivificadora pelo Espírito Santo’. Por isso, o olhar da Igreja volta-se continuamente para o seu Senhor, presente no sacramento do Altar, onde descobre a plena manifestação do seu imenso amor” (São João Paulo II, Ecclesia de Eucaristia, 1).
Não estamos diante apenas de uma lembrança, mas de uma presença viva e real, capaz de sustentar toda a nossa vida. Para nos aproximarmos da Eucaristia, Mistério da Fé, é necessário justamente esta atitude de fé, na certeza de que o Senhor mesmo nos garantiu sua presença neste Sacramento. Ainda se pede de cada pessoa que comunga a disposição do coração para estar em plena sintonia com o Senhor, a sua Palavra e a sua Igreja. Cada um reveja com sinceridade sua própria vida, antes de participar da Eucaristia. Não que já sejamos perfeitos, até porque não merecemos, mas precisamos do Senhor e de sua presença salvadora, Pão vivo descido do Céu, Pão para a caminhada nesta terra.
Uma das condições para comungar, e comungar bem, é viver na caridade com os irmãos e irmãs, prontos inclusive a nos reconciliar com as pessoas, restaurando a caridade com o próximo. E não se trata apenas de fazer as pazes com as outras pessoas, mas fazer as pazes com o sentido de caridade e fraternidade que deve caracterizar a vida cristã. Olhar ao nosso redor, com a sensibilidade apurada de quem não deixa qualquer pessoa passar em vão ao nosso redor, é uma boa estrada para preparar-nos bem à comunhão. Recordemo-nos que a Eucaristia é Sacramento do amor de Cristo por nós. Seu único Sacrifício se encontra ali presente, como fonte inesgotável de vida, para que todos tenhamos vida e para a vida do mundo.
A Eucaristia que nos sustenta é presença real do Senhor. Na Solenidade de Corpus Christi e em todas as nossas Paróquias, voltamo-nos para o Senhor, presente no Tabernáculo ou exposto diante dos fiéis, para adorá-lo. Edifica muito a todos nós a quantidade de pessoas, homens e mulheres, jovens, adultos, crianças, tanta gente que entra em nossas igrejas, buscando ansiosa a luz que indica o local do Sacrário, para visitar Jesus Sacramentado. Ele está ali, e quantas são as histórias alegres ou tristes, lamentações e desabafos, agradecimento e súplica, prolongados silêncios, olhares e recolhimento! Tudo diante dele, que está ali, porque antes ou depois entenderemos que nele está o Paraíso. Está ali, sempre a esperar-nos, para fazer-nos compreender, no silêncio, quando nos parece não podermos fazer mais nada, diante das dificuldades. Realizando por amor a sua vontade, momento por momento, com Jesus, chegamos a toda a humanidade. Ele está ali para fazer-nos compreender que não nunca estamos sós, que nossa casa é o Céu que quando vem a nós no Sacramento, ele entra em nós, e mais ainda, nós entramos nele. (Cf. Canção do Conjunto Gen Verde).
Todas as dimensões da Eucaristia, Sacrifício, Comunhão e Presença, estão presentes na sede e fome de Deus que estamos assistindo em nossas Paróquias! Desejo da Comunhão, Horas de adoração, acompanhamento das celebrações possíveis através dos meios de comunicação e agora, como fruto de um esforço de nossos padres e de tantas pessoas, o retorno progressivo às celebrações presenciais. Viva Cristo!
Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.
Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.
Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.