“Chegou o dia dos Pães sem Fermento, quando se devia sacrificar o cordeiro pascal. Jesus mandou Pedro e João, dizendo: ‘Ide fazer os preparativos para comermos a ceia pascal’. Eles perguntaram: ‘Onde queres que a preparemos?’ Jesus respondeu: ‘Quando entrardes na cidade, virá ao vosso encontro um homem carregando uma bilha de água. Segui-o até a casa onde ele entrar e dizei ao dono da casa: ‘O Mestre manda perguntar: ‘Onde está a sala em que poderei comer a ceia pascal com os meus discípulos? Ele então vos mostrará uma grande sala arrumada, no andar de cima. Preparai ali’. ‘Eles foram, encontraram tudo como Jesus tinha dito e prepararam a ceia pascal’” (Lc 22,7-13). Durante toda a Quaresma, os cristãos estiveram procurando o andar de cima de suas casas e da Casa de todos, a Igreja, para celebrar a Páscoa. Desde o Domingo de Ramos, estamos vendo a Casa da Páscoa, a Igreja, a partir de vários ângulos, recolhendo tudo o que é humano e divino, para viver o Mistério de Cristo, e passar com ele da morte para a vida.
Aprendemos com a Igreja que a Páscoa começa do alto, pois “a Liturgia é o exercício da função sacerdotal de Cristo. Nela, os sinais sensíveis significam e, cada um à sua maneira, realizam a santificação dos homens; nela, o Corpo Místico de Jesus Cristo – cabeça e membros – presta a Deus o culto público integral. Portanto, qualquer celebração litúrgica é, por ser obra de Cristo sacerdote e do seu Corpo que é a Igreja, ação sagrada por excelência, cuja eficácia, com o mesmo título e no mesmo grau, não é igualada por nenhuma outra ação da Igreja” (Cf. Sacrosanctum Concilium 7). E estamos vivendo o coração da Liturgia da Igreja, bebendo da fonte mais genuína da salvação. Esta semana é feita para o acolhimento do dom inefável da Salvação, na Páscoa de Cristo, de onde brota o Rio da Vida. Celebrar a Páscoa é extasiar-se com o dom de Deus, é contemplar!
Celebrar a Páscoa é mergulhar na vida Sacramental da Igreja, especialmente na Eucaristia. Nesta Quinta-feira Santa, na Páscoa da Ceia, acolhemos o Mandamento Novo de Jesus e o memorial permanente, que faz acontecer sua presença e que contém todo sabor, até que ele venha! É o nosso compromisso perene, reunir-nos em torno da Palavra e do Pão Eucarístico, Pão de Vida Eterna! Celebrar a Páscoa é participar da Ceia do Senhor!
Celebrar a Páscoa na Sexta-feira Santa, Páscoa da Cruz, é estar presentes ao sacrifício de Jesus em sua Morte, adorar o mistério de sua Cruz, ouvir de novo e de pé, como sinal de prontidão, a saga inigualável da sua Paixão, viver as trevas que cobriram a terra de meio-dia só até as três da tarde (Cf. Mc 15,33), sabendo que dali para frente a escuridão não pode mais dominar. Neste dia, celebrar a Páscoa é reconhecer em todas as dores, abandono, tristeza, angústias, perseguições, marcas do pecado, enfermidades, mortes de pessoas queridas, provações, tudo passa, porque mergulhado na entrega de Cristo em sua Cruz. É dia de doar tudo, não guardar ressentimentos e mágoas, reconhecer Jesus Crucificado e Abandonado em todas as dores, as mais absurdas em que possamos tocar. Nele e com ele aprendemos de novo a dizer “Em tuas mãos entrego o meu espírito” (Cf. Lc 23,46), e não guardar nada para nós. É hora de acolher o mistério do perdão, que vem ao nosso encontro, a misericórdia que jorra da Cruz de Cristo. Nada de lamentações, tudo de esperança, porque a luz vai surgir de novo. Esta é a nossa fé, esta é a nossa certeza.
Celebrar a Páscoa é entender que a Igreja nos pede para procurar o Sacramento da Penitência. Quem não se confessa sacramentalmente acaba por desabafar com alguém, ou em situação extrema, quer fazê-lo mergulhando nos vícios ou na busca insaciável de prazeres que esvaziam o corpo e a alma, em gestos ou conversas que nunca terminarão com as palavras certas e consoladoras do juízo de Deus: “Deus, Pai de Misericórdia, que pela morte e ressurreição de seu Filho reconciliou o mundo consigo e enviou o Espírito Santo para o perdão dos pecados, te conceda, pelo ministério da Igreja, o perdão e a paz. E eu te absolvo dos teus pecados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Que alegria poder dizer “Amém” depois de tal gesto de amor, através do ministério dos sacerdotes, portadores da graça e do perdão!
Celebrar a Páscoa é recolher-se em silêncio no Sábado Santo, aprofundando o mistério de Cristo em nosso coração e em nossa mente. Pode ser uma oportunidade para ler com calma os Cânticos do Servo Sofredor, no profeta Isaías (Is 42,1-7; 49,1-6; 50,4-9; 52,13–53,12). Experimentar o silêncio daquele que foi anunciado: “Era o mais desprezado e abandonado de todos, homem do sofrimento, experimentado na dor, indivíduo de quem a gente desvia o olhar, repelente, dele nem tomamos conhecimento. Eram na verdade os nossos sofrimentos que ele carregava, eram as nossas dores, que levava às costas. E a gente achava que ele era um castigado, alguém por Deus ferido e massacrado. Mas estava sendo traspassado por causa de nossas rebeldias, estava sendo esmagado por nossos pecados. O castigo que teríamos de pagar caiu sobre ele, com os seus ferimentos veio a cura para nós. Como ovelhas estávamos todos perdidos, cada qual ia em frente por seu caminho. Foi então que o Senhor fez cair sobre ele o peso dos pecados de todos nós. Oprimido, ele se rebaixou, nem abriu a boca! Como cordeiro levado ao matadouro ou ovelha diante do tosquiador, ele ficou calado, sem abrir a boca” (Is 53,3-7).
O povo de Israel aprendeu do Senhor: “Quando tiverdes entrado na terra que o Senhor vos dará, conforme prometeu, observareis este rito. Quando vossos filhos vos perguntarem: ‘Que significa este rito?’ respondereis: ‘É o sacrifício da Páscoa do Senhor, que passou ao lado das casas dos israelitas no Egito, quando feriu os egípcios e salvou as nossas casas’” (Ex 12,25-27). Na Páscoa cristã, celebramos o Cordeiro Pascal, Jesus Cristo, que se imolou uma vez por todas para nossa vida e salvação. Celebrar a Páscoa é entrar de coração na mãe de todas as celebrações litúrgicas, a Vigília Pascal na Noite Santa, proclamando aquele que é a luz do mundo e pelo qual damos graças a Deus. É noite para escutar a história da salvação, celebrar os sacramentos da Iniciação Cristã e alimentar-nos do Corpo e Sangue do Senhor, pois todas as vezes que comemos deste pão e bebemos deste cálice anunciamos a morte do Senhor e proclamamos a sua Ressurreição, até que ele venha! Por isso brota o aleluia pascal de nossos corações e de nossos lábios! Venha o Senhor Jesus a todo o seu povo, com a força de sua Ressurreição. Venha sobre todos nós a genuína vida nova recebida no Batismo, agora renovada.
Acolhamos como nosso programa de vida para esta Páscoa as palavra de São Paulo: “Como eleitos de Deus, santos e amados, vesti-vos com sentimentos de compaixão, com bondade, humildade, mansidão, paciência; suportai-vos uns aos outros e, se um tiver motivo de queixa contra o outro, perdoai-vos mutuamente. Como o Senhor vos perdoou, fazei assim também vós. Sobretudo, revesti-vos do amor, que une a todos na perfeição. Reine em vossos corações a paz de Cristo, para a qual também fostes chamados em um só corpo. E sede agradecidos. Que a palavra de Cristo habite em vós com abundância. Com toda a sabedoria, instruí-vos e aconselhai-vos uns aos outros. Movidos pela graça, cantai a Deus, em vossos corações, com salmos, hinos e cânticos inspirados pelo Espírito. E tudo o que disserdes ou fizerdes, que seja sempre no nome do Senhor Jesus, por ele dando graças a Deus Pai (Cf. Cl 3,12-17). São estes os nossos votos de santa e verdadeira Páscoa!
Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.
Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.
Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.