Ressoa pelos séculos afora o clamor alegre, nascido da boca dos pequeninos, que contagiou a população de Jerusalém, à entrada de Jesus em sua cidade: “Bendito o que vem em nome do Senhor!” De fato, “trouxeram o jumentinho até Jesus, puseram seus mantos em cima, e Jesus montou. Muitos estenderam seus mantos no caminho, enquanto outros espalharam ramos apanhados no campo. Os que iam à frente e os que vinham atrás clamavam: “Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito seja o Reino que vem, o Reino de nosso Pai Davi! Hosana no mais alto dos céus!” (Mc 11, 7-10).
A mais de dois mil anos de distância e proximidade, queremos clamar de novo a acolhida de Jesus e à obra infinita e eterna, gestada no seio da Trindade Santíssima. Em Jesus, nele, por ele e nele, em quem todas as coisas existem e ganham consistência, suba aos Céus nosso louvor e ação de graças. Estendamos nossos ramos e mantos para proclamar nosso canto de louvor, por toda a Criação e pela maravilha da Salvação.
Bendita seja a Obra de Deus todo poderoso, Criador do Céu e da Terra. Participamos da alegria do último dia da criação, pois, de fato “Deus viu tudo quanto havia feito, e era muito bom. Houve uma tarde e uma manhã: o sexto dia. Assim foram concluídos o céu e a terra com todos os seus elementos. No sétimo dia, Deus concluiu toda a obra que tinha feito; e no sétimo dia repousou de toda a obra que fizera” (Gn 1,31 – 2,2). Desejamos ver com bondade e alegria toda a beleza do que Deus fez, as plantas, os animais, a riqueza inumerável dos corpos celestes, planetas, estrelas, constelações, tudo feito com o selo de amor da Trindade. Bendita seja a fecundidade da terra, de onde a humanidade pode colher seu sustento e os meios para partilhar com todos os seus bens! E aprendemos com a Sabedoria que “Deus não fez a morte, nem se alegra com a perdição dos vivos. Ele criou todas as coisas para existirem, e as criaturas do orbe terrestre são saudáveis: nelas não há nenhum veneno mortal, e não é o mundo dos mortos que reina sobre a terra, pois a justiça é imortal” (Sb 1,13-15).
Bendito seja o Senhor Deus que criou o homem e a mulher para serem felizes nesta terra e na eternidade, chamados a fazerem o bem e se multiplicarem! Bendita seja a multiplicação da vida, nos homens e mulheres que assim participam da obra criadora do Senhor Deus. Bendita seja a família, tabernáculo do amor puro, sincero e fecundo onde o afeto se instala e se realiza, para que todos entendam que no amor praticado está o espelho do próprio amor de Deus. Ela é um espaço privilegiado para que o Céu desça à Terra, pois o Senhor proclamou: “Se observardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu observei o que mandou meu Pai e permaneço no seu amor. Eu vos disse isso, para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa. Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,10-13).
Bendito seja Deus por todas as vicissitudes da história da humanidade, onde virtude e o pecado tantas vezes se misturam, ainda que saibamos ser Deus e só Deus o Senhor da história. Deus seja louvado pelas contínuas lições que recebemos com as consequências de nossos atos, para aprendermos a caminhar pelas veredas da verdade e da justiça, indicadas pela Palavra de Deus, pela ação do Espírito Santo em nossa consciência e pela voz da Igreja.
Bendito seja o Pai de todos, pela variedade indescritível de todas as pessoas humanas, com sua história, dignidade e mistério pessoal, atraídas, sem exceção, para aquele que é Caminho, Verdade e Vida, Jesus Cristo, através de estradas, atalhos e meandros só conhecidos pela Providência Santíssima. Louvada seja a certeza de tantas e muitas surpresas que teremos, após a nossa Páscoa Pessoal, ao encontrar pessoas e histórias que nos tenham passado despercebidas!
E agora, nesta Semana Maior de 2024, no Domingo de Ramos, sejam convidadas as nossas crianças e começarem os gritos de “Hosana”, para contagiarem a todos! Despojemo-nos de nossas capas e mantos, muitas vezes destinados a esconder o que somos, transformando tudo em tapete estendido pelas vias de nossas cidades, para que não sejam ruas da amargura para Jesus e para nenhum dos filhos e filhas de Deus. Cubramos de amor os espaços até agora manchados com o sangue do pecado, da violência e da corrupção. Para tanto, digamos que Jesus Cristo é bendito porque vem em nome do Pai do Céu, do Espírito Divino e em seu próprio nome, ele que é um com as outras duas pessoas da Trindade Santa.
Em nossas mãos, estejam os ramos elevados. No verde que neles brilha, estabeleçamos laços de comunhão com a natureza que Deus criou. No simbolismo da fé, que eles expressam, eleve-se nosso coração e nossa vida a Deus, para caminharmos para frente e para o alto, como convém ao cristão. Esteja também junto de nós a palma do martírio e de todos os sofrimentos e cruzes oferecidos por tantos irmãos e irmãs, que derramaram sangue, suor e lágrimas pelo crescimento da Igreja e do Reino de Deus!
Desejamos que todas as portas das casas e dos corações proclamem bendito o que vem em nome do Senhor. Caiam os ferrolhos que porventura impeçam a entrada de Jesus, pois sabemos que estas portas só podem se abrir do lado de dentro, sem violência externa! Corra o vento da graça, expulsando toda a ação do maligno que possa estar presente na vida das pessoas. Venha a concórdia, tão desejada em nossas famílias!
O mundo se abra para a presença do Salvador! Onde Jesus é acolhido de verdade, cessam-se os conflitos, a violência e as guerras. Pacifiquem-se os opostos políticos e ideológicos que têm caracterizado nossa sociedade, fragmentando-a e fazendo com que as eventuais diferenças se transformem em inimizades e perseguições!
Percorrendo nossas ruas com a Procissão de Ramos, entraremos em nossas Paróquias, para atualizar o Mistério Pascal de Morte e Ressurreição de Jesus, onde proclamaremos: “Santo, Santo, Santo, Senhor Deus do Universo! O Céu e a Terra proclamam a vossa glória. Hosana nas alturas. Bendito o que vem em nome do Senhor. Hosana nas alturas!”
Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.
Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.
Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.