O terceiro Domingo do Advento, que celebramos neste final de semana, é chamado de Domingo da Alegria, abrindo-se a Liturgia justamente com estas palavras: “Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo: alegrai-vos! O Senhor está perto!” (Fl 4,4-5). Ensina o mesmo Apóstolo São Paulo: “O fruto do Espírito, porém, é: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, lealdade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não existe lei” (Gl 5,22-23). A alegria é, pois, um dos frutos do Espírito Santo. Não se reduz a manifestações externas, de sorrisos, risos ou gargalhadas, nem a exageros consequentes de exaltações suscitadas por preferências esportivas ou eventuais opções sociais ou políticas. Ela nasce da docilidade ao Espírito Santo, que conduz à serenidade e à paz diante das circunstâncias que nos provocam.
Constatamos em nossos dias que “a sociedade tecnológica conseguiu multiplicar as ocasiões de prazer, mas tem muita dificuldade em engendrar a alegria. Porque a alegria tem outra origem. É espiritual. Dinheiro, conforto, higiene, segurança material não faltam com frequência; porém, o tédio, a aflição, a tristeza fazem, infelizmente, parte da vida de muitos. Isso às vezes leva à angústia e ao desespero que nem a aparente despreocupação nem o frenesi da alegria presente ou dos paraísos artificiais conseguem evitar. Será que nos sentimos impotentes para dominar o progresso industrial e planejar a sociedade de maneira humana? Será que o futuro parece muito incerto e a vida humana muito ameaçada?… Em muitas regiões, e por vezes muito próximas de nós, a acumulação de sofrimentos físicos e morais torna-se opressiva: tantos famintos, tantas vítimas de combates estéreis, tantos deslocados! Estas misérias talvez não sejam mais graves do que as do passado, mas assumem uma dimensão planetária; são mais conhecidas, quando divulgadas pelos meios de comunicação social, pelo menos tanto quanto as experiências de felicidade; sobrecarregam as consciências, muitas vezes sem conseguir ver uma solução humana adequada e a acumulação de sofrimentos físicos e morais torna-se opressiva” (Cf. São Paulo VI, Gaudete in Domino 7).
Na preparação à vinda de Jesus, resplandece a personalidade austera de João Batista. Seu testemunho e seu estilo de vida suscitaram reações contraditórias, tanto que as invectivas de sua parte contra pessoas consideradas importantes em seu tempo foram muito duras. Ele propôs a abertura de um caminho exigente, destinado a proporcionar o encontro com o Messias prometido. Coube-lhe empunhar o instrumento da palavra e da pregação com fortaleza invencível, para abrir picadas no interior da floresta de corações endurecidos. A certa altura, diante da presença e ação daquele que devia vir para batizar com o Espírito Santo e com o fogo, brota de seus lábios a proclamação da verdadeira alegria: “Esta é a minha alegria, e ela ficou completa. É necessário que ele cresça, e eu diminua” (Jo 3,29-30). A alegria se completa quando João deve declinar, como o sol ao poente. Está contente por diminuir! Suas palavras e atitudes vão contra a correnteza! Encarcerado e alegre!
Estando preso, João Batista, um profeta e mais do que um profeta, no dizer de Jesus, manda emissários, com a pergunta sobre a chegada do Messias prometido. Jesus lhe envia a narrativa das manifestações de sua presença junto aos mais sofredores, fontes da verdadeira alegria: “Cegos recuperam a vista, paralíticos andam, leprosos são curados, surdos ouvem, mortos ressuscitam e aos pobres se anuncia a Boa-Nova” (Mt 11,5).
Diante de todas as mazelas existentes na sociedade, o cuidado e a cura dos enfermos expressam de forma impressionante o amor ao próximo, sendo fonte de alegria autêntica. Basta recordar as emoções das pessoas recuperadas e vivas nos tempos mais dolorosos da pandemia. E sabemos que o dom da cura é concedido por Deus a tantas pessoas. Um dos sinais de santidade comprovada é a intercessão dos irmãos e irmãs que já estão junto de Deus pela cura das enfermidades. Temos a certeza de que os milagres existem e Deus os realiza muito mais do que possamos tomar conhecimento. E não são poucos os profissionais da saúde que trabalham com extraordinária competência para a saúde das pessoas. Nem mesmo é difícil encontrar médicos que apontam aos doentes a oração pela cura extraordinária!
Dentre os sinais indicados por Jesus está a cura dos leprosos. Recordo com alegria São Damião de Molokai, trazendo algo de sua vida: uma carta de 1873 diz assim: “Eis-me aqui, em meio a meus queridos leprosos. São muito hediondos de ver, porém têm uma alma resgatada pelo preço do sangue adorável de nosso divino Salvador. Ele também, em seu divino amor, consolou os leprosos. Se eu não os posso curar como Ele, ao menos os posso consolar, e pelo santo ministério que Sua bondade me confiou espero que muitos entre eles, purificados da lepra da alma, apresentem-se ao seu tribunal em estado de entrar na sociedade dos bem-aventurados”. Noutra ocasião, assim escreveu: “Acabo de fazer um pedido ao Bispo para ampliar a capela. O odor infecto que emana de seus corpos e de suas feridas exigiria uma igreja grande para tornar o culto menos penoso. Algumas vezes me era difícil resistir durante a santa missa e no sermão. É como o ‘já cheira mal’ de Lázaro. Enfim: Nosso Senhor suportou isso, e eu também o posso. Oxalá pudesse conseguir, por esse sacrifício, a ressurreição espiritual dos que, entre eles, ainda não saíram da tumba do pecado para viver a vida de graça que o bom Deus a eles oferece todos os dias”. Molokai, chamada de Ilha Maldita, viu o milagre acontecer, com a evangelização da maioria de seus habitantes. O milagre foi o próprio ministério do santo, fonte de alegria verdadeira.
Cegos foram vários os curados por Jesus, assim como paralíticos, coxos, aleijados! Ninguém passava em vão ao seu lado. E feitos extraordinariamente milagrosos ou realizados pela caridade cotidiana, acompanham sempre a vida da Igreja.
Entretanto, a alegria maior, para quem goza de saúde física ou não, é que “Evangelização” quer dizer boa e alegre notícia! Que todos nós sejamos simples, pobres e esvaziados de nossas vaidades e orgulho, para entrar na lista de Jesus a ser enviada não só a João Batista, mas ao mundo todo! E feliz de quem não se escandaliza a respeito de Jesus! (Cf. Mt 11,6).
Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.
Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.
Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.