A Igreja recebeu do Senhor o mandato de anunciar o Evangelho até os confins da terra e implantar o Reino que ele veio trazer. Coube-lhe aprender todas as línguas, fazer-se um com todas as culturas, oferecer o chamado à conversão, formar e acompanhar comunidades, fermentar a sociedade com os valores do Reino de Deus, sonhar com um mundo novo, que é possível por causa da ação da graça, com a qual o Espírito Santo conduz todos os seus esforços. A cada tempo, a Igreja deve encontrar os métodos pastorais adequados, segundo a situação das pessoas e grupos.
A Igreja anuncia explicitamente o Evangelho, e conta, em sua história, com uma plêiade de missionários e pregadores da Boa Nova, bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas, leigos e leigas imbuídos da Palavra. Podemos pensar no ministério do Papa, cuja palavra chega a tantos recantos da terra, ressoando de forma tão competente, também através dos meios de comunicação social. E que dizer do sacerdote zeloso que anuncia o Evangelho, com fidelidade incansável, formando o povo de Deus? A Igreja torna Cristo presente através de sua Palavra, que tantas vezes aclamamos como Palavra “do Senhor” e Palavra “da Salvação”!
A Igreja torna Jesus Cristo presente através do serviço da caridade, sabendo que tudo o que se faz ao menor dos irmãos é feito a ele! Em nossa Igreja, quantas são as manifestações de caridade e serviço, através de obras sociais, creches e entidades que respondem com amor às necessidades do próximo. Vale recordar, só para valorizarmos o que existe em nossa Igreja, duas obras de grande significado. Uma delas, a Fazenda da Esperança, onde cerca de cinquenta acolhidos fazem a experiência da recuperação do vício das drogas através de um trabalho de evangelização, partilha e vida em comunidade. Outra, a Missão Belém, na qual acolhemos, junto com este maravilhoso carisma, em torno de duzentos e oitenta pessoas vindas de nossas ruas. Há algumas semanas, tive a alegria de celebrar a Crisma de homens que há pouco tempo viviam literalmente na sarjeta! É a Igreja presente, olhando ao redor e descobrindo o bem a ser feito, escolhendo o amor aos mais pobres e excluídos. É coisa nossa, feita por pessoas nossas, contando com muitos benfeitores, que se revelam como mãos providenciais enviadas por Deus!
A Igreja torna Jesus Cristo presente no diálogo com o mundo, com as pessoas que pensam diferente! Faz bem saber do respeito que nossos sacerdotes, religiosos e religiosas gozam diante de autoridades, como somos chamados a intervir em situações delicadas e críticas, podendo ver uma sensibilidade apurada em tantos dos membros de nossas Paróquias, Comunidades, Pastorais e Movimentos. Somos parte da sociedade e ajudamos a construir um mundo novo e possível.
A Igreja tem seu centro de referência no máximo da presença de Jesus Cristo, presença por excelência, que é a celebração eucarística. Durante o tempo difícil que estamos vivendo, fomos todos edificados pela sede de Eucaristia manifestada em nosso povo, assim como a forma piedosa e participativa que as pessoas têm acompanhado as Missas transmitidas pelos nossos meios de comunicação e pelas redes sociais. Impressiona-nos o zelo com que as Paróquias têm cuidado dos templos, muitos deles em reforma e embelezamento, com o cuidado devido às normas litúrgicas. Que bom ver igrejas construídas, especialmente no meio das comunidades mais pobres! E é magnífico verificar o modo com que a liturgia tem sido celebrada! Não são poucas as pessoas que se convertem ao entrarem numa Igreja e serem tocadas pelo modo com que se celebra em nossa Arquidiocese, com solenidade e ao mesmo tempo simplicidade e dignidade, com equipes de celebração bem preparadas.
A Igreja torna Cristo presente no perdão e na misericórdia (Cf. Mt 18,18) que se espalham através do Sacramento da Reconciliação, um ministério exercido com esmero pelos nossos sacerdotes
Mas a liturgia que celebramos neste final de semana tem o texto tirado do Sermão de Jesus sobre a Comunidade, a vida de Igreja (Mt 18,15-20). Ali se encontra uma pérola escondida do Evangelho: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles.” O apóstolo são Paulo considerou até uma dívida a ser paga pelos que professam a fé: “Não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo, pois quem ama o próximo cumpre plenamente a Lei. De fato, os mandamentos: ‘Não cometerás adultério’, ‘Não cometerás homicídio’, ‘Não roubarás’, ‘Não cobiçarás’, e qualquer outro mandamento, se resumem neste: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’. O amor não faz nenhum mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da Lei” (Rm 13,8-10). Permito-me dizer que aqui está uma presença de Jesus Cristo da maior atualidade, com força para converter as pessoas, e que nós cristãos estamos em dívida com nossa geração. Muitos não entrarão na Igreja, nem escutarão pregações, terão dificuldades imensas para se aproximarem dos sacramentos, mas poderão ser tocados pelo amor mútuo vivido entre dois ou mais que acreditam no nome de Jesus. Um casal, com sua família, que superam suas divergências internas e buscam a unidade, atraem as pessoas, que começam a se perguntar a respeito do fundamento de tal comportamento. Isso vale também para outras formas de vida em comum. A própria oração, quando fruto de um consenso da caridade, tem a força para alcançar o Céu: “Se dois de vós estiverem de acordo, na terra, sobre qualquer coisa que quiserem pedir, meu Pai que está nos céus o concederá” (Mt 18,19). E as outras presenças de Jesus, como a celebração da Eucaristia e dos outros Sacramentos, ou a prática do serviço ao próximo, a pregação da Palavra, tudo ganha sentido novo quando ungido pela presença de Jesus entre aqueles que se amam. Sim, porque não somos chamados a ser organizações filantrópicas ou organizações não governamentais, mas Comunidades vivas, que contam com a presença de Jesus. “Ele está no meio de nós”, dizemos tantas vezes em nossas celebrações litúrgicas!
Esta é uma presença de Jesus para o nosso tempo, e vale a pena edificá-la com o amor mútuo. Este tempo tem o direito de cobrar-nos esta dívida!
Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.
Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.
Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.