Durante cinquenta dias celebramos o Mistério do Cristo Morto e Ressuscitado. Nós o contemplamos elevado ao Céu e jubilantes recebemos o derramamento da força do Espírito Santo, no Pentecostes, para chegar agora à celebração da Trindade Santa, Pai e Filho e Espírito Santo. Observemos que todos os dias do ano rezamos ao Pai, por Cristo, na unidade do Espírito Santo! Santíssima Trindade não é uma festa isolada, nem mesmo um incompreensível Mistério, mas nossa própria vida cristã, mergulhados que fomos em Deus, na graça de nosso Batismo.
O Senhor Jesus, quando abriu o coração e revelou aos discípulos o seu mandamento “preferido”, disse-lhes assim: “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,24-35). E depois: “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos. Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando” (Jo 15,12-14). O segredo está nesta palavrinha “como”, altamente provocante, pois deseja que na terra se viva do jeito do Céu, a vida da Santíssima Trindade. Se desejamos ir para frente, rumo a um mundo novo e diferente, é necessário olhar para o alto!
Vamos lá! Começamos com o amanhecer, fazendo o sinal da Cruz, para viver em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo! É uma decisão de viver não conduzidos pelos nossos interesses, mas em nome de alguém, em nome da família divina na qual fomos mergulhados de forma definitiva no Batismo. Isso significa compromisso de sair de nós mesmos, amar a todos, prontidão para dar o primeiro passo, indo ao encontro das necessidades dos outros. Fazemos parte de uma família, ou se quisermos, com uma expressão usual em nosso tempo, fazemos parte de uma “sociedade”, cujas regras foram estabelecidas no Céu e reveladas por Jesus Cristo.
Com certeza, ao Sinal da Cruz se segue nossa oração da manhã! Dentre tantas propostas existentes, aqui vai um exemplo: “Senhor, meu Deus, no silêncio deste dia que amanhece, venho pedir-te paz, sabedoria e força. Hoje quero olhar o mundo com os olhos cheios de amor; ser paciente, compreensivo, humilde, suave e bondoso. Quero ver todos os teus filhos além das aparências, como tu mesmo os vês, e assim não olhar senão ao bem de cada um. Fecha meus ouvidos a toda murmuração; guarda a minha língua de toda maledicência, e que só de amor se encha a minha vida. Quero ser bem-intencionado e justo; e que todos aqueles que se aproximarem de mim, sintam a tua presença. Senhor, reveste-me da tua bondade e que, no decorrer deste dia, eu te revele a todos. Amém”. Oração que se preze leva a sair de nós mesmos, assumir critérios que são os de Cristo, e a Santíssima Trindade passa a ser o critério do dia a ser vivido. Vale a pena experimentar, para compreender o Mistério da Trindade! Com João Paulo II recordemos uma verdade fundamental: “Nosso Deus, no seu mistério mais íntimo, não é solidão, mas uma família, dado que tem em si mesmo paternidade, filiação e a essência da família, que é o amor” (Homilia em Puebla de Los Angeles, 1979). Justamente em nossas famílias, o jeito de viver da Santíssima Trindade vem a ser praticado desde cedo, edificando o amor em cada casa.
Somos pessoas inteligentes, sabemos tomar decisões, gostamos de ver nossas ideias realizadas. Muito bem! Entretanto, há um modo cristão de colocá-las em prática. Trata-se de purificar estas ideias e iniciativas decorrentes no confronto com outras pessoas, vendo junto com irmãos e irmãs as decisões a serem tomadas. Há ângulos diferentes e complementares, que purificam nossa mente e orientam melhor os passos a serem dados. Parece o jeito de viver na Santíssima Trindade! Desde toda a eternidade, o Pai ama o Filho, que é amado pelo Pai e o Espírito Santo é este amor no seio da Trindade. Daí nasceu o eterno plano de salvação e vida para todos nós!
E abrimos o leque para a Igreja, que deve espelhar a Vida Trinitária. Conduzidos pelo Espírito Santo, haveremos de colocar em prática justamente as palavras do Papa Francisco na recente celebração de Pentecostes: “Questionemo-nos: Sou dócil à harmonia do Espírito? Ou corro atrás dos meus projetos, das minhas ideias sem me deixar moldar, sem me fazer mudar por ele? O meu modo de viver a fé é dócil ao Espírito ou é teimoso? Teimoso com as letras, teimoso com as chamadas doutrinas que são apenas expressões frias de uma vida? Sou precipitado em julgar, acuso e bato a porta na cara aos outros, considerando-me vítima de tudo e de todos? Ou acolho a harmoniosa força criadora do Espírito, acolho a ‘graça de estar juntos’ que ele inspira, o seu perdão que dá paz? E, por minha vez, perdoo? O perdão é dar espaço para que venha o Espírito. Promovo a reconciliação e crio comunhão ou sempre estou procurando, metendo o nariz onde existem as dificuldades, para fofocar, para dividir, para destruir? Perdoo, promovo reconciliação, crio comunhão? Se o mundo está dividido, se a Igreja se polariza, se o coração se fragmenta, não percamos tempo a criticar os outros e a zangar-nos com nós mesmos, mas invoquemos o Espírito: ele é capaz de resolver essas coisas.” (Homilia na Solenidade de Pentecostes 2023). Vida trinitária é para ser experimentada na Igreja, em nossas Paróquias, Comunidades, Pastorais e Serviços!
Voltemos à oração! A Igreja reza assim na Solenidade da Trindade: Ó Deus, nosso Pai, enviando ao mundo a Palavra da Verdade e o Espírito Santificador, revelastes o vosso inefável mistério. Fazei que, professando a verdadeira fé, reconheçamos a glória da Trindade e adoremos a Unidade Onipotente”. A oração proclama a ação do Pai, do Filho e do Espírito Santo, reconhece a verdade revelada e pede que reconheçamos sua Glória e a Unidade. E, como faremos sempre na Igreja: “Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém!” E assim damos glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo!
Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.
Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.
Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.