“Tu és o Rei dos Reis; o Deus do céu deu-te Reino, força e glória, e entregou em tuas mãos a nossa história: Tu és rei, e o amor é tua lei! Sou o primeiro e o derradeiro, fui ungido pelo amor! Vós sois meu povo, eu, vosso Rei e Senhor redentor! Vos levarei às grandes fontes, dor e fome não tereis! Vós sois meu povo; eu, o vosso Rei. Junto a mim vivereis!” (Letra e Música: Frei Fabreti) Em muitas Comunidades e Paróquias cantamos neste final de semana esta proclamação de Jesus Cristo, Rei do Universo.
No ano 325, ocorreu o primeiro Concílio Ecumênico na cidade de Nicéia, quando foi reconhecida a divindade de Cristo contra as heresias de Ario: “Cristo é Deus, Luz da luz, Deus verdadeiro do Deus verdadeiro”. Após 1600 anos, Pio XI proclamou que o modo melhor para superar as injustiças é o reconhecimento da realeza de Cristo e instituiu a festa litúrgica. De fato, escreveu: “Visto que as festas têm maior eficácia do que qualquer documento do magistério eclesiástico, por captar a atenção de todos, não só uma vez, mas o ano inteiro, atingem não só o espírito, mas também os corações” (Encíclica Quas primas, 11 de dezembro 1925). E no ano de 2025, acontecerá o Jubileu convocado pelo Papa Francisco relembrando também os 1700 anos do Concílio de Niceia.
Este Papa “das Missões e da Ação Católica” viveu entre as duas guerras que ensanguentaram o mundo na primeira metade do século XX, atribuindo-as ao esquecimento ou desprezo pelas pessoas, pelas famílias e pelas sociedades, das exigências da vida cristã, no desrespeito à vontade de Jesus Cristo, Senhor e Rei de toda a humanidade. Esta devoção tem raízes bíblicas, tanto no Antigo como no Novo Testamento, bastando lembrar que, no julgamento por Pilatos, Jesus se afirmou Rei, mas não à maneira do mundo. Além disso, o próprio título grego de Cristo, em hebraico se diz Messias e se traduz em português por Ungido, evoca a tradição de se ungirem com óleo os profetas, os sacerdotes e os reis, simbolizando a ação do Espírito Santo. Por outro lado, situações semelhantes e de maior gravidade ocorrem no tempo em que vivemos, pelo que a celebração agora vivida se torna de significativa atualidade.
O Tempo da Igreja se realiza em torno do Mistério de Jesus Cristo, que nestes dias chamamos com muita propriedade Rei do Universo. A cada ano, percorremos os passos de sua chegada, vida em Nazaré com Maria e José, seu ministério público, com as palavras, gestos, milagres e relacionamento com as pessoas. Não só na Páscoa anual, mas no cotidiano da Eucaristia celebrada e na mística que conduz a vida dos cristãos, tornamos presente seu Mistério Pascal de Morte e Ressurreição. Com Jesus Cristo, Rei do Universo e dos corações e amando por sua causa a cada próximo, passamos continuamente da morte para a vida! (Cf. 1 Jo 3,14) E, no dia a dia, buscar os valores do Reino de Deus. De fato, esta é palavra do Senhor e palavra de salvação: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo” (Mt 6,33).
Mas onde está mesmo o Reino de Deus? Reportamo-nos a um diálogo de Jesus: “Os fariseus perguntaram a Jesus sobre o momento em que chegaria o Reino de Deus. Ele respondeu: ‘O Reino de Deus não vem ostensivamente. Nem se poderá dizer: ‘Está aqui’, ou: ‘Está ali’, pois o Reino de Deus está no meio de vós’” (Lc 17,20-21). Todas as épocas da história da humanidade assistiram anúncios de todo tipo, marcando datas e acontecimentos, em geral catastróficos, para a manifestação externa e final do Reino de Deus, o fim do mundo. De um lado, entendemos a grande insegurança suscitada pela maldade humana que se manifesta de modo tão diversificado e intenso. Entretanto, é bom retornar à certeza do Evangelho: “Passarão o céu e a terra, mas minhas palavras não passarão. Quanto àquele dia e hora, porém, ninguém tem conhecimento, nem os anjos do céu, nem mesmo o Filho, mas somente o Pai” (Mt 24,35-36).
Se o Reino de Deus está no meio de nós, permitimo-nos identificar sinais de sua presença! Quando o Senhor nos ensinou a orar, a certa altura disse para entrar em nosso quarto (Cf. Mt 6,6), não tanto de quatro paredes, mas a intimidade de nosso coração, onde Deus se faz presente e escuta a nossa prece. Não é necessário buscar sinais ou sentimentos extraordinários, mas acolher a doce presença do Senhor. Vale fazer a mesma experiência do Profeta Elias: “Antes do Senhor, porém, veio um vento impetuoso e forte, que desfazia as montanhas e quebrava os rochedos, mas o Senhor não estava no vento. Depois do vento houve um terremoto, mas o Senhor não estava no terremoto. Passado o terremoto, veio um fogo, mas o Senhor não estava no fogo. E depois do fogo ouviu-se o murmúrio de uma leve brisa. Ouvindo isto, Elias cobriu o rosto com o manto, saiu e pôs-se à entrada da gruta” (1 Rs 19,11-13).
Na celebração da Santa Missa, várias vezes repetimos “Ele está no meio de nós!” E a Igreja ensina: “Cristo está sempre presente na sua igreja, especialmente nas ações litúrgicas. Está presente no sacrifício da Missa, quer na pessoa do ministro – ‘O que se oferece agora pelo ministério sacerdotal é o mesmo que se ofereceu na Cruz’ – quer e sobretudo sob as espécies eucarísticas. Está presente com o seu dinamismo nos Sacramentos, de modo que, quando alguém batiza, é o próprio Cristo que batiza. Está presente na sua palavra, pois é Ele que fala ao ser lida na Igreja a Sagrada Escritura. Está presente, enfim, quando a Igreja reza e canta, Ele que prometeu: ‘Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles’” (Mt. 18,20) (Sacrosanctum Concilium 7). E a Igreja, fazendo acontecer a presença de Jesus, abre-nos as portas para a atuação do Reino de Deus, do qual ela é manifestação visível e ativa!
O Reino de Deus está presente quando nós amamos uns aos outros, vivendo em Comunidade, e de forma evidente, no amor ao próximo, como nos indica o Evangelho da Solenidade de Cristo Rei: “Todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes!” (Mt 25,40). Escancaram-se assim as portas do Reino a cada dia. Cabe-nos acolhê-lo, a ele aderir com ele comprometer a nossa vida.
Mais ainda, a Igreja sabe que o Reino de Deus vai muito além de suas próprias fronteiras, se assim podemos dizer, pois chega a todos os homens e mulheres que são amados por Deus. “E a sua ação faz com que tudo quanto de bom encontra no coração e no espírito dos homens ou nos ritos e cultura próprios de cada povo, não só não pereça mas antes seja sanado, elevado e aperfeiçoado, para glória de Deus, confusão do demónio e felicidade do homem” (Cf. Lumen Gentium 17). A Solenidade de Cristo Rei abra nossos corações para fazer a nossa parte, a fim de que Jesus Cristo reine e Deus seja tudo em todos. Viva Cristo Rei!
Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.
Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.
Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.