“O vento sopra onde quer e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai” (Jo 3, 8). O bem se espalha no mundo, nos mais recônditos espaços do coração das pessoas. O Espírito Santo está sempre presente, onde quer que alguém saia de si para amar, criar, levantar o caído, buscar a unidade e o relacionamento sadio. Já na criação do mundo, o autor do texto do Gênesis (Gn 1,2) asseverava que “a terra estava deserta e vazia, as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas”. Esta é a primeira convicção que nos cabe afirmar, correspondente à certeza da fé.
Quando rezamos o Credo, dizemos que é o Espírito Santo, Senhor que dá a vida, também falou pelos profetas. Toda a história da Salvação se desenvolve com a misteriosa presença do Espírito Santo de Deus. Cada Palavra da Escritura o tem como autor escondido e vivo, através das pessoas escolhidas para tal missão.
Quando chegou a plenitude dos tempos (Cf. Gl 4, 4), o Espírito Santo veio com sua sombra sobre a Virgem Maria, na Encarnação do Verbo de Deus: “E ela concebeu do Espírito Santo”! À margem do Jordão o Espírito se manifesta na forma de uma pomba, quando a voz do Pai confirma ser Jesus o Filho Amado. Manifestação da Trindade, Pai e Filho e Espírito Santo, que desencadeia todo o ministério público de Jesus. Na Sinagoga de Nazaré (Lc 4, 1-21) quando o Senhor manifesta o seu “programa”, toma para si texto do profeta Isaías (Is 61, 1), deixando-se conduzir pelo Espírito que o unge! Na Transfiguração, ouve-se a voz do Pai e a Nuvem (Mt 17, 1-8), expressão da presença do Espírito, se faz presente. Em suas despedidas, Jesus conversa com os discípulos reunidos para a última ceia, fazendo o que pode parecer um jogo entre a missão ao Pai, do Filho e do Espírito Santo, numa impressionante “troca de gentilezas”, cada um dando importância à outra, mostrando assim a igualdade de um só Deus em três pessoas!
Em sua morte, Jesus entregou “O Espírito” (Jo 19, 28-30), como a sua respiração, dado à Igreja e à humanidade. Aparecendo ressuscitado aos discípulos, soprou sobre eles e lhes deu o Espírito Santo (Jo 20, 19-2), enviando-os em missão e fazendo-os portadores do perdão! E os que perseveraram em oração, com Maria, Mãe de Jesus, receberam a efusão do Espírito Santo no dia de Pentecostes. Dali para frente, o Espírito conduz a Igreja, a esposa, que clamam juntos “vem, Senhor Jesus” (Ap 22, 17-20).
Como acontece a presença do Espírito Santo na Igreja? Ele concede seus sete dons, sabedoria, entendimento, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus, para que possamos agir de modo divino, pois só dele pode vir esta força. O Espírito Santo atua na Igreja concedendo dons e carismas, dos mais simples até os extraordinários, suscita o espírito de serviço e de missão (1Cor 12, 1-11) e derrama o melhor e mais importante dos dons, a caridade (1 Cor 13, 1-13). Encontramos os seus frutos na vida cristã, como descreve São Paulo: “O fruto do Espírito, porém, é: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, lealdade, mansidão, domínio próprio” (Gl 5, 22-23). O apelo é forte! Tudo o que recebemos de Deus, pela ação do Espírito Santo, seja colocado à disposição, para o crescimento da Igreja e a implantação do Reino de Deus.
Vejamos como a sabedoria da Igreja identificou o modo de agir do Espírito Santo: “O Espírito Santo, sendo único, com uma única maneira de ser e indivisível, distribui a graça a cada um conforme lhe apraz. E assim como a árvore ressequida, ao receber água, produz novos rebentos, assim também a alma pecadora, ao receber do Espírito Santo o dom do arrependimento, produz frutos de justiça. O Espírito tem um só e o mesmo modo de ser; mas, por vontade de Deus e pelos méritos de Cristo, produz efeitos diversos. Serve-se da língua de uns para comunicar o dom da sabedoria; ilumina a inteligência de outros com o dom da profecia. A este dá o poder de expulsar os demônios; àquele concede o dom de interpretar as Sagradas Escrituras. A uns fortalece na temperança, a outros ensina a misericórdia; a estes inspira a prática do jejum e como suportar as austeridades da vida ascética; e àqueles o domínio das tendências carnais; a outros ainda prepara para o martírio. Enfim, manifesta-se de modo diferente em cada um, mas permanece sempre igual a si mesmo, como está escrito: A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum (1 Cor 12, 5). Branda e suave é a sua aproximação; benigna e agradável é a sua presença; levíssimo é o seu jugo! A sua chegada é precedida por esplêndidos raios de luz e ciência. Ele vem com o amor entranhado de um irmão mais velho: vem para salvar, curar, ensinar, aconselhar, fortalecer, consolar, iluminar a alma de quem o recebe, e, depois, por meio desse, a alma dos outros. Quem se encontra nas trevas, ao nascer do sol recebe nos olhos a sua luz, começando a enxergar claramente coisas que até então não via. Assim também, aquele que se tornou digno do Espírito Santo, recebe na alma a sua luz e, elevado acima da inteligência humana, começa a ver o que antes ignorava” (Das Catequeses de São Cirilo de Jerusalém, bispo, catequese 16, De Spiritu Sancto 1, 11-12.16: PG 33, 931-935.939-942 – Séc. IV).
Aguardando a manifestação do Espírito Santo no Pentecostes, ele, que nunca se repete, nos ensina ainda a rezar, pois, não sabendo como fazê-lo, temos a certeza de que ele vem em auxílio de nossa fraqueza (Rm 8, 18-27), introduzindo-nos na vida da Santíssima Trindade, pondo em nossa mente e em nossa boca os sentimentos e palavras adequados.
Sabemos ainda que o Espírito Santo conduz a Igreja, especialmente no pastoreio do sucessor de Pedro e os bispos, pelos quais rezamos, para que nos levem continuamente ao porto seguro. Enfim, há um caminho a ser percorrido com simplicidade a cada dia, para deixar-nos conduzir pelo Espírito de Deus. Trata-se de ouvir a sua voz, suave e ao mesmo tempo forte, que clama em nossa consciência, conduzindo a discernir o que é bom, o que contribui para a edificação pessoal e do próximo. Por isso clamamos “Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor!”
Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.
Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.
Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.