Por uma Igreja Sinodal: modo de viver e agir

Em seu discurso de comemoração dos 50 anos da instituição do sínodo dos bispos (17 de outubro de 2015), no item 10 do documento, Sua Santidade Papa Francisco destacou que “aquilo que o Senhor nos pede, de certo modo está já tudo contido na palavra ‘Sínodo’, que ‘é palavra antiga e veneranda na Tradição da Igreja, cujo significado recorda os conteúdos mais profundos da Revelação. É o ‘Senhor Jesus que se apresenta a si mesmo como o caminho, a verdade e a vida’ (Jo 14, 6), e ‘os cristãos, na sua sequela, são originariamente chamados ‘os discípulos do caminho’ (cf. At 9, 2; 19, 9.23; 22, 4; 24, 14.22). Daí a consequência é imediata, pois ‘nesta perspectiva, a sinodalidade é muito mais do que a celebração de encontros eclesiais e assembleias de Bispos, ou uma questão de simples administração interna da Igreja’; ela indica o específico modus vivendi et operandi da Igreja, o Povo de Deus, que manifesta e realiza concretamente o ser comunhão no caminhar juntos, no reunir-se em assembleia e no participar ativamente de todos os seus membros na sua missão evangelizadora”. Entrelaçam-se assim aqueles que o título do Sínodo propõe como eixos fundamentais de uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão.

A expressão acima sublinhada modus vivendi et operandi da Igreja é muito séria: significa o jeito de viver e de agir da Igreja, isto é, o seu modo de ser e de apresentar-se. Em outras palavras: se os batizados na Igreja de Cristo não caminham juntos, eles não são efetivamente a verdadeira Igreja de Cristo, ou seja, não mostram o rosto da Igreja.

O item 11, do mesmo documento, destaca que no primeiro milênio, “caminhar juntos”, ou seja, praticar a sinodalidade, era a maneira habitual de proceder da Igreja, entendida como “Povo reunido pela unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Santo Agostinho descreveu esta caminhada da Igreja como “concordissima fidei conspiratio”, isto é, o acordo na fé entre todos os Batizados. É desta consciência de acordo na fé que nasce o desenvolvimento de uma prática sinodal em todos os níveis da vida da Igreja – local, provincial, universal – que encontrou a sua mais excelsa manifestação no concílio ecumênico. Foi neste horizonte eclesial, inspirado no princípio da participação de todos na vida da Igreja, que São João Crisóstomo pôde dizer: “Igreja e Sínodo são sinônimos”.

No decorrer do segundo milênio, mesmo se a Igreja evidenciou em maior medida a função hierárquica, este modo de proceder sinodal não acabou por completo, pois são registradas na história da Igreja inúmeras celebrações dos sínodos diocesanos e provinciais, assim como a dos concílios ecumênicos, quando se tratava de definir verdades dogmáticas. Sempre os Papas procuraram consultar os Bispos, para conhecer a fé de toda a Igreja, recorrendo à autoridade do sensus fidei de todo o Povo de Deus, que é “infalível ‘in credendo’”, afirma Papa Francisco (EG, n. 119).

O item 12 dito documento faz considerações importantes o nosso tempo pós Concílio Vaticano II, recordando que “aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo que o conhecesse na verdade e o servisse santamente” (LG, n. 9). Os membros do Povo de Deus são irmanados pelo Batismo e “ainda que, por vontade de Cristo, alguns sejam constituídos doutores, dispensadores dos mistérios e pastores em favor dos demais, reina, porém, igualdade entre todos quanto à dignidade e quanto à atuação, comum a todos os Fiéis, a favor da edificação do corpo de Cristo” (LG, n. 32). Por conseguinte, todos os Batizados, participantes na função sacerdotal, profética e real de Cristo, “no exercício da multiforme e ordenada riqueza dos seus carismas, das suas vocações, dos seus ministérios”, são sujeitos ativos de evangelização, quer individualmente, quer como totalidade do Povo de Deus.

Padre Hélio Fronczak
Secretário do Sínodo da Arquidiocese de Belém
Vigário Episcopal da Região Nossa Senhora do Ó
Pároco da Paróquia Nossa Senhora do Carmo

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