“Jesus viu uma grande multidão. Encheu-se de compaixão por eles e curou os que estavam doentes. Ao entardecer, os discípulos aproximaram-se dele e disseram: ‘Este lugar é deserto e a hora já está adiantada. Despede as multidões, para que possam ir aos povoados comprar comida!’ Jesus, porém, lhes disse: ‘Eles não precisam ir embora. Vós mesmos dai-lhes de comer!’” (Mt 14, 14-16). Deus olhou com misericórdia e compaixão para a humanidade, enviando seu Filho amado, que veio assumir a nossa carne, sentir tudo o que é nosso, isento apenas do pecado. Jesus, que sentiu fome nos dias passados no deserto, sabia por experiência própria o que é esta duríssima realidade. E hoje ele se volta para a imensidão de pessoas, filhos e filhas amados por Deus, que vivem na miséria mais absoluta, renovando sua compaixão pela humanidade. Além disso, ele tem comiseração por todas as sedes e fomes humanas, tal qual a sede de sentido que perpassa os corações, assim como o desejo de descobrir o amor verdadeiro, aquele que vem de Deus.
Em Jesus existe a sensibilidade pelos problemas humanos, quais sejam a fome e a sede, a falta de abrigo e habitação, a migração forçada, o desemprego e a falta de trabalho. Em todos os seus discípulos, feitos Igreja pela vocação cristã, há de resplandecer a percepção dos problemas existentes. Passo fundamental é a capacidade para olhar ao nosso redor, prestando atenção às necessidades das pessoas, apurar nossa sensibilidade!
Cada um de nós tem a capacidade de perceber uma dimensão da situação humana. Nem todos têm condições para repartir bens existentes, mas a responsabilidade de quem foi mais aquinhoado é dobrada, pois, a quem tem, muito será pedido. Outras pessoas são capazes de motivar a partilha, ajudando a criar consciência as várias situações, e sabem fazê-lo com santa diplomacia, movendo os corações. Com certeza já encontramos quem sabe anunciar a Palavra do Evangelho com serenidade e vigor, conduzindo multidões à conversão e ao espírito de partilha e comunhão. Além disso, a falta de sentido para a vida encontrará sábios conselheiros, capazes de enxergar e fazer ver a luz no meio das trevas. Descobrir o dom que nos é próprio é decisivo para fazer o bem, e haveremos de valorizar a complementariedade dos dons, superando os exclusivismos, ciúmes e invejas.
Vale o ensinamento de São Paulo: “Se um membro sofre, todos os membros sofrem com ele; se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele. Vós todos sois o corpo de Cristo e, individualmente, sois membros desse corpo. Assim, na Igreja, Deus estabeleceu, primeiro, os apóstolos; segundo, os profetas; terceiro, os que ensinam; depois, dons diversos: milagres, cura, beneficência, administração, diversidade de línguas. Acaso todos são apóstolos? Todos são profetas? Todos ensinam? Todos fazem milagres? Todos têm dons de cura? Todos falam em línguas? Todos as interpretam? Aspirai aos dons mais elevados. E vou ainda mostrar-vos um caminho incomparavelmente superior” (1 Cor 12, 26-31). E em seguida fala do dom superior, que é a caridade!
Sabendo o que Deus concedeu a cada um de nós, nasce a responsabilidade: “Eles não precisam ir embora. Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14, 16). Trata-se de ser concretos, fazendo o que estiver ao nosso alcance, para que ninguém passe em vão ao nosso lado! Responsabilidade que pede criatividade, coragem para tomar iniciativa e dar o primeiro passo, na consciência de que cada um pode fazer alguma coisa.
Uma das grandes lições da multiplicação dos pães e dos peixes (Mt 14, 13-21), texto que a Igreja proclama neste final de semana, é justamente o pouco a ser posto à disposição de Jesus. O Evangelho de São João, narrando o mesmo fato, narra o seguinte: “Um dos discípulos, André, irmão de Simão Pedro, disse: ‘Está aqui um menino com cinco pães de cevada e dois peixes. Mas, que é isso para tanta gente?’” (Jo 6, 8-9). Um menino, pouca coisa disponível, e o milagre acontece! O apelo é que todos revejam sua própria vida e seus dons, seus bolsos, armários e gavetas, para retirar o que pode ser posto à disposição de Jesus, sabendo que ele e só ele é capaz de multiplicar. E o que é dado vai sobrar para nós mesmos e para os outros, em abundância.
No início do mês dedicado às vocações, é bom redescobrir o que cada chamado feito por Deus pode oferecer. Os sacerdotes, cujo padroeiro, São João Maria Vianney, é celebrado logo no início do mês, são chamados a oferecer o melhor que puderem para anunciar o Evangelho, santificar o povo de Deus e edificar pastoralmente as comunidades. E Deus os multiplica e faz fecundos no ministério. O dia dos pais, celebrado no segundo domingo do mês, dê aos casais a consciência de que “os filhos são herança do Senhor, é graça sua o fruto do ventre. Como flechas na mão de um guerreiro são os filhos gerados na juventude. Feliz o homem que tem uma aljava cheia deles: não ficará humilhado quando vier à porta para tratar com seus inimigos” (Sl 127, 3-5). No terceiro domingo de agosto, à luz da Assunção de Nossa Senhora, os religiosos e religiosas e membros de outras formas de dedicação total a Deus redescubram a força da coragem para viver os conselhos evangélicos da pobreza, castidade e obediência, um serviço a ser multiplicado pela doação total da vida. O quarto domingo de agosto nos abre o conhecimento de tantas pessoas dedicadas à catequese, a quem se aplique a palavra do profeta: “Que beleza, pelas montanhas, os passos de quem traz boas-novas, daquele que traz a notícia da paz, que vem anunciar a felicidade, noticiar a salvação, dizendo a Sião: ‘teu Deus começou a reinar!’” (Is 52, 7). Enfim, o quinto domingo de agosto trará à luz a vocação dos leigos e leigas, chamados a serem fermento do Evangelho no meio do mundo, aos quais cabe justamente fazer frutificar nas estruturas da sociedade os valores do Evangelho.
Enfim, durante este mês, cabe-nos ainda rezar, para pôr em prática o apelo de Jesus: “A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie trabalhadores para sua colheita!” (Mt 9, 37-38). Todos nós nos transformemos em tais trabalhadores, mesmo quando nos sentirmos apenas como aquele menino da multiplicação dos pães!
Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.
Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.
Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.