Homilia no Jubileu de Ouro de Ordenação Presbiteral

“Contarás sete semanas de anos, ou seja, sete vezes sete anos, o que dará quarenta e nove anos. No dia do Grande Perdão fareis soar a trombeta por todo o país. Declarareis santo o quinquagésimo ano. Será para vós um jubileu. Teme a teu Deus. Pois eu, o Senhor, sou vosso Deus. Cumpri minhas leis e observai meus decretos. Ponde-os em prática e vivereis seguros na terra”.   Faço esta conta com o Povo de Deus aqui presente, com os irmãos Bispos, os padres, a vida religiosa, as pessoas consagradas e os seminaristas! Renovo, com o apoio da oração de todos vocês, o compromisso da primeira hora!

E a hora agora é de Eucaristia, Ação de Graças por excelência, porque “Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram. Se por um homem veio a morte, é também por um homem que vem a ressurreição dos mortos. Como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos serão vivificados”.   Este é o grande motivo de festa, pois ele é a primícia, Maria em sua Assunção o seguiu e nós todos temos o selo da fé e da realidade da Ressurreição e da vida eterna.

Vivemos juntos uma manhã de Jubileu, proclamado pela fidelidade de Deus em todos os momentos presentes com os quais se construíram estes cinquenta anos, contados desde o dia quinze de agosto de mil, novecentos e setenta e três, em Nova Lima, Minas Gerais, quando fui ordenado por Dom João Resende Costa, o Bispo que me deu desde a Crisma até o Episcopado.

Entrei para o Seminário aos dez anos, com a compreensão e o apoio de meus familiares, de sacerdotes e uma verdadeira legião de pessoas amigas, que souberam identificar o chamado de Deus e me estimularam com sua palavra e orações, muitas delas ainda presentes em minha vida e no círculo de amizades sinceras e fraternidade. Nunca voltei atrás e começaria tudo de novo!

Fui seminarista nos tempos de preparação e realização do Concílio Vaticano II. Rezávamos todos os dias pela nova primavera na Igreja, desejada por São João XXIII. Tive a alegria de receber com entusiasmo todos os frutos das decisões conciliares que chegavam a nós, no Seminário, com o júbilo que envolvia a todos os que com elas sonharam. Minha vocação floresceu no ambiente do Concílio e amadureceu com todos os seus frutos.

Ao mesmo tempo, vivi com tantas outras pessoas o tempo de mudanças profundas que ocorreram no mundo e na Igreja e nos seminários. Fui formado para ter a têmpera necessária ao espírito missionário que se descortinava. Vi e convivi com muitas crises de pessoas e instituições, experimentei a aventura das novas formas de estudos da Filosofia e da Teologia, mergulhando no ambiente universitário, compartilhando esperanças com tantos irmãos e enfrentando as dificuldades.

Tendo a certeza do chamado e da misericórdia de Deus, acolhi a benevolência da Igreja para ser ordenado muito jovem, aos vinte e três anos de idade. Brotou muito espontâneo o lema escolhido para a ordenação: “A mim, o menor de todos, foi concedida a graça de anunciar a todos o Evangelho das riquezas insondáveis de Cristo”.  E na lembrança da ordenação estava escrito de um lado “Graças te dou, Senhor, de todo o meu coração” e no verso: “Alberto Taveira Corrêa foi ordenado padre, “como irmão entre os irmãos”! Ali estavam meus familiares, aqui presentes, assim como Padre José Januário, que também se encontra aqui, testemunhas da graça recebida. Meus pais participam lá do Céu da ação de graças que fazemos hoje.

Em minha primeira Missa Solene, ouvi do Reitor do Seminário, que veio a ser Arcebispo de Ribeirão Preto, Dom Arnaldo Ribeiro, a afirmação que continua a ressoar aos meus ouvidos e desejo fazê-la penetrar no coração de todos os padres e seminaristas: “É muito bom ser padre!” De verdade, sou um padre feliz, sou um Bispo feliz.

Aprendi a estar pronto diante do que a Igreja me pediu. Fui Administrador Paroquial, Pároco em cidades e em zonas rurais, Reitor de Seminário, Professor em vários níveis, inclusive o Curso de Teologia, Capelão de Hospital, Vigário Forâneo e Vigário Episcopal, Coordenador de Pastoral, depois Bispo Auxiliar, Arcebispo de Palmas e desde 2010 Arcebispo de Belém do Pará, Igreja que me acolheu de coração e braços abertos, desde a minha chegada. Durante estes anos, muitas alegrias e esperanças, assim como muitas experiências da Cruz e da dor, vividas com serenidade, debaixo do manto protetor de Nossa Senhora, chamada aqui da Graça, de Nazaré ou Santa Maria de Belém. Cheguei para servir por obediência, e tenho me esforçado para ser desapegado e esvaziado de mim mesmo, para que, em plena fidelidade a Cristo, esta Igreja continue a ser obediente ao mandato missionário de Cristo, característica de nossa região amazônica, “para a vida do mundo” (Cf. Jo 6,51). Trago o desejo de que o amor, fruto da verdade crucificada, faça ressuscitar todos nós da morte do nosso pecado, de nossas misérias pessoais e sociais, de nossas injustiças e maldades. Devo dar testemunho de que a graça foi imensamente maior do que humanamente poderia ter dado, pelo que a Festa do Jubileu deve ser um solene Magnificat!

No dia de minha ordenação presbiteral, uma senhora, de nome Palmira Roussin, violinista que participava da verdadeira orquestra ali presente, ao final de tudo, levou-me ao altar de Nossa Senhora do Pilar, dizendo-lhe que num braço estava o Menino Jesus e no outro braço, queria colocar-me como consagrado à Virgem Maria. E assim tem acontecido, nestes cinquenta anos, nos braços da Virgem Maria, pois tenho a certeza de que “apareceu no Templo a Arca da Aliança. E apareceu também no Céu um grande sinal: uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e, sobre a cabeça, uma coroa de doze estrelas”. O sinal que é Maria continua a resplandecer em nossa vida e a ela nos entregamos hoje, comemorando sua Assunção aos Céus.

Olhemos para Maria, que partiu para as montanhas, pois só para o alto e para frente cada um de nós pode também caminhar. Nossa presença na vida uns dos outros faça com que se proclame nossa bem-aventurança, a graça de acreditar! A Solenidade de hoje nos alcance a presteza, prontidão para o serviço, independente de nossa idade, vocação ou condição pessoal ou social. Para os que são padres, como eu, desejo que carreguem, quais arcas da Aliança, aquele que é o Pastor, a força da Palavra de vida eterna e o Senhor que é o Pão da Vida. A todos os fiéis, irmãos e irmãs que aqui se reúnem, desejo que dediquemos juntos a vida a servir a todos, como Maria, em seu serviço humilde na casa de Isabel. Para todos, venha a lucidez de Maria para identificar a ação de Deus, malgrado os problemas existentes no mundo, como cantou no Magnificat. E voltando aos nossos lares, a Virgem Maria de Nazaré, sinal de Esperança para o Povo de Deus em caminho, ela, que passa na frente, conduza nossos passos no serviço e na comunhão com Deus e entre nós.

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Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.

Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.

Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.

Dom Alberto Taveira Corrêa

Arcebispo Metropolitano de Belém

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