Estamos completando o ciclo das teofanias, manifestações de Jesus, com acontecimentos distantes no tempo, mas próximos em seu significado: a Epifania, com a visita dos Reis Magos, o Batismo de Jesus no Jordão e a manifestação da Trindade e as Bodas de Caná, o Evangelho deste final de semana, quando Jesus manifestou a sua glória e seus discípulos creram nele.
É chegada a grande festa das núpcias de Deus com o seu povo. O verdadeiro noivo, Deus conosco, Emanuel, Deus-salva, está presente. Jesus é convidado para a festa das núpcias. É tempo do vinho novo, preparado por Deus mesmo para o seu povo. E Jesus realiza seu primeiro milagre numa festa de casamento. Deus dá valor à alegria, que sabemos ser fruto do Espírito Santo. O tempo é novo e cheio de vida e esperança!
Maria também foi convidada. Aqui e aos pés da Cruz, é chamada de “Mulher”. É a nova Eva, que introduz a humanidade, com sua docilidade de discípula, na nova Criação. E numa festa de casamento, a solicitude feminina de Maria, descobre o que está faltando, justamente o vinho, símbolo da alegria, certamente atenta pelos lados da cozinha. Olhar ao seu redor para ver o que se pode fazer para ajudar os outros! Este é um dos dotes femininos, fruto da capacidade de amar. Maria discípula e modelo do discípulo, repercute outras expressões como as que foram pronunciadas na Assembleia do Sinai (Cf. Ex 19,7) e na Assembleia de Siquém (Cf. Js 24,1-24): “Nós faremos tudo o que o Senhor disser”. De fato, ela se revela discípula, aquela que, mãe, segue seu Filho e remete os servos ali presentes a fazer tudo o que Jesus disser, e estes acolhem sua proposta. Dali para frente, muitos outros servos acolherão sua palavra, e esperamos estar entre estes.
De fato, em nossa vida, há muitas ocasiões em que falta o vinho da alegria, e sobram-nos alguns potes de água, não potável, mas destinada às purificações, a lavar a sujidade dos corpos. Com eles, pode estar sobrando a desesperança e o desânimo. Trata-se agora de aprender com aquela Mãe de Jesus e nossa a assegurar-nos a força que vem da Palavra do próprio Senhor, uma verdadeira receita de milagre, como tantos gostam de chamar a atitude de Nossa Senhora.
Muitas pessoas descobriram um caminho de conversão, santificação e aperfeiçoamento da vida cristã, quando fizeram uma opção pela vivência estrita da Palavra, sem fanatismo nem glosas, mas simplesmente colocando-a em prática, deixando-se moldar por ela. É a vontade de Deus que vem à tona, límpida e transparente.
Façamos um percurso! A Palavra de Deus dele ser lida. Muitos têm feito a experiência de quinze minutos diários de leitura bíblica, completando, em um ano, a Bíblia inteira. É como chuva fininha e fecunda! E aqui aproveitamos para cumprimentar as muitas pessoas que já leram toda a Escritura uma e mais vezes, sugerindo ao mesmo tempo que a Bíblia deixe de enfeitar estantes e se abra em nossa vida.
A Palavra há de ser acolhida na Assembleia Litúrgica, especialmente na Santa Missa. Notemos que é a Palavra convoca o Povo de Deus e tem força para fazê-lo, tanto que a Igreja, em todas as suas celebrações sacramentais, começa sempre com uma Liturgia da Palavra, e oferece, a cada três anos, em todos os seus lecionários, cerca de noventa por cento de toda a Escritura. A atenção e a dignidade com que se proclama e se escuta a Palavra na Liturgia são gestos fundamentais, para preparar os frutos que dele nascem. E ouvida a Palavra, especialmente na celebração dominical, é sabedoria recolher um precioso ensinamento a ser colocado em prática durante a semana.
A Palavra depois vem a ser rezada na Leitura Orante (Lectio Divina) pessoal ou em pequenos grupos e comunidades, quando é ouvida, meditada, contemplada, transformada em oração e geradora de vida nova.
Tenho a alegria de conviver com duas experiências significativas em relação com a “Palavra de Vida”. A Espiritualidade do Movimento dos Focolares, desde os seus primórdios, encontrou um processo de evangelização baseado na vivência de uma Palavra por períodos determinados, atualmente uma Palavra por mês. Segue-se à busca da vivência da Palavra a comunhão entre as pessoas, partilhando com simplicidade as experiências feitas, que expressam um belíssimo princípio da vida cristã, a edificação mútua (Cf. 1 Ts 5,11), caminho para o crescimento na vida cristã. Nascida da fonte do Focolare, a Fazenda da Esperança, em seus vários centros, pelo mundo afora, assume uma Palavra por dia, geralmente tirada da Liturgia quotidiana. É impressionante ver homens e mulheres, jovens e adultos, vindos dos ambientes mais estragados do mundo, começarem a fazer experiências concretas, desencadeando um processo de conversão, apenas vivendo a Palavra de Deus! É edificante ouvir tais pessoas, vindo de um mundo tão complicado, a partilhar suas pequenas ou grandes experiências da Palavra. Entre elas se diz que escolheram o caminho da Palavra!
O processo eclesial em que nos encontramos, levando-nos à Comunhão e Participação, edificando o que aprendemos a chamar de sinodalidade – caminhar juntos – tem que encontrar seu fundamento na Palavra de Deus acolhida, meditada, partilhada, rezada e praticada. Diante dos desafios que se apresentam à Igreja, é hora de caminhar juntos, não cada pessoa com o próprio ponto de vista, mas na disposição da escuta da Palavra de Deus e em sua prática. Um dos frutos será que as ideias pessoais acabam sendo reencontradas, “em edição revista ampliada e melhorada”, quando cada um de nós sabe perder aquilo que lhe é próprio por amor ao próximo e para edificar a comunhão. E a vivência da Palavra vai provocar em nós atitudes que são do próprio Jesus, que tantas vezes caminha à nossa frente, conduzindo-nos ao seu seguimento. Outras vezes vai atrás de nós, impulsionando-nos a dar novos passos. Ele pode ainda estar ao nosso lado, como irmão e companheiro. E estará sempre no meio de nós, como garantiu àqueles que estivessem reunidos em seu nome, “sinodalmentente”.
Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.
Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.
Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.