João Batista apontou para a presença de Jesus: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29). Aquele que é a luz para as nações, em quem a salvação chega aos confins da terra (Cf. Is 49,3-6) chegou ao nosso meio. Recebendo e reconhecendo sua presença, aquele que foi visitado por pastores e homens do longínquo oriente, ou que iniciou sua missão ao ser proclamado Filho Amado do Pai, e sobre quem o Espírito repousou, o mesmo que se manifestou nas Bodas de Caná, está no meio de nós. E a Igreja repete a cada Eucaristia: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! Faz parte de nossa convicção de fé a certeza de que o pecado do mundo ou as artimanhas do maligno não têm a última palavra. O pecado do mundo é tirado e será tirado sempre!
João Batista, marcado desde o ventre de sua mãe pela presença do Salvador, veio para preparar o caminho e suscitar a conversão, a fim de que aquele que batiza com o Espírito Santo (Cf. Jo 1, 33) seja acolhido e transforme radicalmente a vida da humanidade. Ele dá testemunho, e sabemos que é verdadeiro este testemunho, apontando para Jesus, e nós corremos a ele! Pouco depois, no diálogo de Jesus com Nicodemos, aquele “adorador noturno” que vai visitar Jesus, uma palavra provocante ressoa e continua a se espalhar pelo mundo, até à volta do Senhor: “Se alguém não nascer da água e do Espírito, não poderá entrar no Reino de Deus” (Jo 3, 5). No Batismo cristão nascemos para uma vida nova e somos recebidos no Reino de Deus. Consequência será a nossa vida renovada no Espírito, com critérios diferentes, vida segundo o Evangelho, zelo missionário.
Neste período em que nossa Igreja quer suas portas abertas para acolher a todos, especialmente os mais distantes, nasce a responsabilidade de acolher o testemunho de João Batista e unir-nos a ele, recolhendo também a imensa quantidade de testemunhos dados por irmãos e irmãs que fazem parte de nossas Paróquias e Comunidades. Sugerimos que as Paróquias encontrem a forma adequada para recolher, valorizar e fazer circular experiências positivas de vivência do Evangelho.
O Documento Final do Sínodo para a Pan-Amazônia nos provoca outros passos, a fim que anunciemos a todos os povos e nações, até os confins da terra, a Boa Nova Nova do Evangelho: “Uma Igreja missionária em saída exige de nós uma conversão pastoral. Para a Amazônia esse caminhar significa também ‘navegar’, através de nossos rios, nossos lagos, entre nosso povo. Na Amazônia, a água nos une, não nos separa. Nossa conversão pastoral será samaritana, em diálogo, acompanhando pessoas com rostos concretos de indígenas, de camponeses, de quilombolas, de migrantes, de jovens e de habitantes das cidades. Tudo isso envolverá uma espiritualidade de escuta e de anúncio. A Igreja, por natureza, é missionária e tem a sua origem no ‘amor fontal de Deus’ (Concílio Vaticano II, Ad Gentes 2). O dinamismo missionário que brota do amor de Deus se irradia, expande, transborda e se espalha em todo universo. Somos inseridos pelo batismo na dinâmica do amor através do encontro com Jesus, que dá um novo horizonte à vida (Cf. Documento de Aparecida 12). Este transbordamento impele a Igreja à conversão pastoral e nos transforma em comunidades vivas, trabalhando em equipes e redes a serviço da evangelização. A missão assim entendida não é algo opcional, uma atividade da Igreja entre outras, mas sua própria natureza. A Igreja é missão! “A atividade missionária ainda hoje representa o máximo desafio para a Igreja” (Evangelii Gaudium 15). Ser um discípulo missionário é mais do que apenas cumprir tarefas ou fazer coisas. Está situado na ordem do ser. “Jesus nos indicou, a nós seus discípulos, que a nossa missão no mundo não pode ser estática, mas é itinerante. O cristão é um itinerante!” (Francisco, Angelus, 30.06.2019). Queremos ser uma Igreja amazônica, samaritana, encarnada no modo como o Filho de Deus se encarnou: ‘assumiu as nossas dores e carregou as nossas enfermidades’ (Mt 8, 17). Aquele que se fez pobre para nos enriquecer com a sua pobreza (Cf. 2 Cor 8, 9), por meio do seu Espírito, exorta os discípulos missionários de hoje a saírem ao encontro de todos, especialmente dos povos originários, dos pobres, dos excluídos da sociedade e dos outros. Desejamos também uma Igreja madalena, que se sinta amada e reconciliada, que anuncie com alegria e convicção Cristo crucificado e ressuscitado. Uma Igreja mariana que gera filhos para a fé e os educa com afeto e paciência, aprendendo também com as riquezas dos povos. Queremos ser uma Igreja servidora, querigmática, educadora, inculturada, no meio dos povos que servimos” (Documento final do Sínodo para a Pan-Amazônia, números 20-22).
Para que nossa Igreja dê tais passos, valem alguns apelos! Nossas Comunidades de Igreja estão suscitando o seguimento de Jesus Cristo e possibilitando que o testemunho dado chegue a todos? Ao participarem de nossa vida paroquial, as pessoas, especialmente as que chegam das periferias existenciais ou geográficas, encontram setas que apontem para Jesus Cristo, como aquele que tira o pecado do mundo? Somos sinais de esperança para os mais frágeis e pecadores?
João Batista ilumina, com seu testemunho, para onde podemos caminhar, confessando nossa fé em Jesus Cristo: “As multidões lhe perguntavam: ‘Que devemos fazer?’ João respondia: ‘Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo!’ Até alguns publicanos foram para o batismo e perguntaram: ‘Mestre, que devemos fazer?’ Ele respondeu: ‘Não cobreis nada mais do que foi estabelecido’. Alguns soldados também lhe perguntaram: ‘E nós, que devemos fazer?’ João respondeu: ‘Não maltrateis a ninguém; não façais denúncias falsas e contentai-vos com o vosso soldo’. Como o povo estivesse na expectativa, todos se perguntavam interiormente se João era ou não o Cristo, e ele respondia a todos: ‘Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais forte do que eu. Eu não sou digno de desatar a correia das suas sandálias. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo’” (Lc 3,10-16). Não se trata de dedo em riste para acusar-nos, mas um sinal que provoca e suscita a mudança de vida!
Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.
Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.
Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.