
Dou graças ao Senhor, que me conduziu até aqui, com setenta e cinco anos, ao contemplar, no Jubileu de Esperança, o passado, o presente e o futuro.
Deus me concedeu uma família bonita, de pai e mãe trabalhadores, já chamados para junto de Deus, que passaram sua existência fazendo o bem, especialmente no campo da Educação. Somos três irmãos: um estudou Física, minha irmã é assistente social, e eu me consagrei ao Senhor no sacerdócio. Aprendemos de nossos pais a viver e trabalhar para os outros. Somos diferentes, mas muito unidos, solidários e amigos!
Pela bondade de Deus, fui batizado aos quatro dias de nascido. Minha primeira Eucaristia foi no aniversário de cinco anos, em 26 de maio de 1955, dia de meu padroeiro, São Filipe Neri. Não tenho lembrança de uma comunhão que não tenha sido consciente, no encontro com Jesus! Com dez anos, em 1961, entrei para o Seminário, para nunca mais sair. Em tempos de muita crise na sociedade e na Igreja, Deus me deu a graça da perseverança. Não seria capaz de elencar as pessoas que me ajudaram, mas Deus sabe e as conhece bem, e Ele mesmo é minha gratidão a todas elas!
Aos dezoito anos, em 1968, na crise mundial da juventude, no início do curso de Filosofia, alguns acontecimentos suscitaram-me a pergunta que explicitava o chamado de Deus, recebido ainda na infância, sobre o que, efetivamente, eu estava disposto a fazer por Cristo. Ao lado de outras experiências espirituais muito fortes, ali pude escolher Deus como tudo, de forma mais consciente, o que deu rumo à vida e à vocação.
Como sempre, muito novo, após os estudos, também fui ordenado padre com vinte e três anos, em 15 de agosto de 1973, há quase cinquenta e dois anos, que passaram como um raio de luz! Fui pároco de Nossa Senhora do Pilar, minha terra natal, de onde saí feliz e agradecido a Deus, que me sustentou na perseverança vocacional, para ser reitor do Seminário Coração Eucarístico de Jesus, em Belo Horizonte, e para animar a Pastoral Vocacional, mais uma vez, muito novo, com apenas vinte e sete anos, tendo tido a alegria de acompanhar cerca de cinquenta novos padres para a Arquidiocese.
Quando São João Paulo II foi a Belo Horizonte, ao ser apresentado a ele por meu arcebispo como reitor do Seminário, apertou meus ombros e apenas afirmou: “Muito novo!”.
Durante aqueles anos, pude assumir vários encargos em Belo Horizonte, pela gratuita e generosa confiança dos bispos. A certa altura, em 1989, veio à tona a oportunidade de ser pároco do Senhor do Bonfim e Santo Antônio de Vargem Alegre. Na verdade, havia um sonho bem guardado de ser padre do interior, numa área que me atraía tanto.
Durou pouco tempo, pois, no dia 27 de março de 1991, com quarenta anos, chega-me uma carta anunciando que São João Paulo II me nomeava bispo auxiliar de Brasília. No meio das lágrimas de emoção, tive que reconhecer que aquele que ouve o Papa, ouve o Senhor, e disse o meu “sim”, quando sempre imaginava que, para alguém ser bispo, seria necessário ter idade e juízo, o que pensava não ter suficiente. Nunca me arrependi de ter dado a resposta positiva e fui ordenado por Dom João Resende Costa, junto a mais trinta e três bispos presentes, em minha terra, no dia 6 de julho de 1991, outra vez, muito novo! Data escolhida junto com Santa Maria Goretti, para comprometer-me e lutar pela santidade dos jovens e pelas vocações.
Brasília foi uma aventura maravilhosa! Como bispo auxiliar, aprendendo tudo, exercitando a criatividade, ampliando minha visão de Igreja! Em 1996, no mesmo dia 27 de março da nomeação episcopal, quando, em minha oração, eu me colocara à disposição para ir a qualquer lugar onde fosse necessário começar tudo, Deus me levou a sério e fui comunicado da nomeação como primeiro arcebispo de Palmas – TO, onde tomei posse na Festa da Visitação de Nossa Senhora, em 31 de maio. Apenas quarenta e seis anos de idade, muito novo e com pouco juízo! E deu certo fazer aquela magnífica experiência de fundar uma Igreja Particular, debaixo das asas do Espírito Santo, padroeiro da Arquidiocese.
No dia da Imaculada Conceição de 2009, rezava com o Evangelho da Solenidade e, quem sabe, ingenuamente quis dizer, com Nossa Senhora, que, como escravo do Senhor, estaria pronto a tudo o que Ele quisesse. Após uma Santa Missa, uma chamada telefônica do Núncio Apostólico, qual anjo da Anunciação, comunicava a transferência para Santa Maria de Belém do Grão-Pará, onde tomei posse no dia 25 de março de 2010, como arcebispo metropolitano, sabendo de minha indignidade e, ao mesmo tempo, da grandeza da graça, que tem me acompanhado. E aqui me encontro, completando setenta e cinco anos de idade, louvando a Deus pela sua obra. Sou mais um espectador do que um realizador de atividades. Deus faz, e nós acompanhamos, malgrado nossos limites e fraquezas
Recebam todos os irmãos e irmãs, amigos de toda parte, o agradecimento sincero pela vida e pelas delicadezas com que me cumprimentam e rezam por mim. Deus lhes pague, e vamos caminhar sempre juntos!
Não me é possível descrever as alegrias e as esperanças, as dores e os sofrimentos experimentados nestes setenta e cinco anos de idade, quase cinquenta e dois de ordenação sacerdotal e perto dos trinta e quatro de episcopado. Só posso dizer que sou realmente feliz, e ainda me considero “novo”, mesmo com os achaques da idade, pois hoje retomei a oração tantas vezes repetida no início das missas, quando criança e nos primeiros anos de seminário: “Irei ao altar de Deus, ao Deus que alegra a minha juventude, e te darei graças, Deus, meu Deus” (cf. Sl 42, 4). Deus continua alegrando minha juventude!
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará, nos setenta e cinco anos de idade, comemorados em 26 de maio de 2025.