O Natal e a chegada do ano novo trazem consigo retrospectivas, revisão de vida, expectativas para o tempo que vai chegar, todas estas realidades humanas que indicam para o fato de não sermos máquinas ligadas à energia elétrica, mas pessoas carregadas de sentimentos e emoções. E estas mostram as escolhas feitas, opções que determinam o rumo da vida. Conhecemos até pessoas que têm verdadeira ojeriza pelas festas natalinas e de ano novo, também porque estas tantas vezes se afastaram de seu sentido original. O Natal sem Jesus Cristo pode ser uma verdadeira tortura, trazendo consigo lembranças no mais das vezes negativas para quem passou por traumas profundos, solidão e tristeza.
De nossa parte, desejamos lançar nosso olhar sobre o ano que termina e oferecer nossa contribuição para que a luz que é Jesus Cristo penetre todos os recantos da vida e abra o horizonte do ano que vai começar dentro de poucos dias.
Olhar o Natal como quem o vê de fora. Ele pode ser visto como um fato histórico, um acontecimento que serve de baliza para a contagem do tempo, que corre antes ou depois de Cristo. Daí se segue a visão de seus frutos para a história da humanidade. É honesto reconhecer que o cristianismo, cuja semente estava justamente ali, no nascimento ocorrido em Belém de Judá, deixa suas marcas. Foram milhões e milhões de pessoas que até hoje a Jesus se referiram, nem que seja para datar um documento! Que se reconheça o cabedal de valores insuflado pelo cristianismo na vida da humanidade. Beira a total ignorância a empáfia presente na declaração feita por uma figura de proa na política brasileira de que seria necessário banir da sociedade a moral cristã e católica. Nossa civilização tem raízes judaico-cristãs que hão de ser reconhecidas e valorizadas, para que, purificadas, ajudem no crescimento da humanidade. Convivendo com os cristãos, o mundo pluralista em que vivemos pode descobrir caminhos de diálogo e colaboração. Nós cristãos acabamos de cantar “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por ele amados”. E não há pessoa humana excluída do amor de Deus. Há sementes do Verbo de Deus, assim acreditamos, espalhadas por todos os recantos! Quem vê de fora a Igreja deve nela encontrar este espaço de relacionamento. Há um espaço de interseção a ser valorizado!
Por outro ângulo, somos cristãos e olhamos a história e o mundo do lado de dentro! Conheci neste Natal um presépio original, no qual se vê de dentro da gruta de Belém o mundo e os acontecimentos. De lá, com os personagens nele envolvidos, o cenário fica diferente. O filtro com o qual as imagens são captadas, para aproximar-nos da linguagem dos meios de comunicação, é todo outro. Colocando-me dentro dele, começo a imaginar as figuras que nestes dias nos são apresentadas, fazendo uma aproximação das diversas cenas.
Parece-me enxergar com o olhar profundo do homem justo que era José, os ambientes de trabalho, as lutas de tantas pessoas que desejam um mundo mais justo. Dá vontade de cerrar fileiras com todas as pessoas que nestes dias olham para o ano novo dispostas a fazer diferente, com menos azedume e pessimismo, ajudando-se mutuamente a construir o bem.
Peço o olhar de ternura da Mãe de Deus e nossa para enxergar a inocência, a bondade, as mulheres grávidas de esperança, as crianças que crescem e descobrem o mundo, e a escuto dizendo “fazei tudo o que ele vos disser” como programa para o ano novo.
Os anjos presentes no presépio me fazem recobrar o desejo de levar a boa nova a todos os recantos, desarmado diante das pessoas e dos acontecimentos. O ano que vai começar só poderá ser novo a partir de dentro dos corações das pessoas. Não existe magia de ano novo, mas gente renovada na graça do Espírito que resolve deixar um timbre diferente em tudo o que faz. E precisamos arregimentar muitos anjos nesta hercúlea tarefa!
Ao lado da cena central do presépio diferente, os animais que ali foram colocados, e junto com eles a estrela, me ajudaram a ver a obra de Deus, que foi bem feita, não havendo nela raiz de maldade, como convite a saber usar sem destruir todos os presentes que Deus colocou nas mãos da humanidade. Os recursos da terra, se bem usados, são suficientes para sua vida e felicidade!
Mas a figura principal, o Menino Deus, é que dirige a cena do presépio! De seu coração e de suas mãos abertas, com o olhar puro, que quer se repetir nas pessoas de todas as idades, brota o amor que ressoa salvação, redenção, pois é para salvar a humanidade que ele, Verbo de Deus, Filho eterno do Pai, desceu a este mundo. E vi que não pode mais existir mundo sem Jesus, o Cristo. É verdade o que ele disse “sem mim nada podeis fazer”! (Jo 15,5) Só nele, caminho, verdade e vida, os dias que se seguirão no ano novo encontrarão seu sentido e valor.
E aqui está a oportunidade para, a modo de mensagem de ano novo, sugerir que todos entrem no presépio e experimentem ver o mundo e os acontecimentos do lado de Deus! Simples assim! E o ano novo será feliz!
Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.
Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.
Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.