Assumir e levar para o céu!

​A Igreja celebra com alegria a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora ao Céu. Assim proclamou o Papa Pio XII em 1950: “Nas homilias e orações na festa da Assunção da Mãe de Deus, santos padres e grandes doutores dela falaram como de uma festa já conhecida e aceita, colocando em plena luz o que esta festa tem em vista: não apenas que o corpo morto da Santa Virgem Maria não sofrera corrupção, mas ainda o triunfo que ela alcançou sobre a morte e a sua celeste glorificação, a exemplo de seu Unigênito, Jesus Cristo, o que nos põem diante dos olhos a Santa Mãe de Deus profundamente unida a seu divino Filho, participando constantemente de seu destino. Por conseguinte, desde toda a eternidade unida misteriosamente a Jesus Cristo, pelo mesmo desígnio de predestinação, a augusta Mãe de Deus, imaculada na concepção, virgem inteiramente intacta na divina maternidade, generosa companheira do divino Redentor, que obteve pleno triunfo sobre o pecado e suas consequências, alcançou ser guardada imune da corrupção do sepulcro, como suprema coroa dos seus privilégios. Semelhantemente a seu Filho, uma vez vencida a morte, foi levada em corpo e alma à glória celeste, onde, rainha, refulge à direita do seu Filho, o imortal rei dos séculos). (cf. Constituição Apostólica Munificentíssimus Deus, do papa Pio XII – (AAS 42 [1950],760-762.767-769).

Esta certeza faz parte da fé católica que professamos, amadurecida desde os primeiros séculos do cristianismo e proclamada solenemente em nossos tempos, como verdade certa e segura, necessária para nossa coerência com o conjunto das verdades que sustentam a vida cristã. A cada semana, quando rezamos os mistérios gloriosos do Rosário, a Assunção de Maria alimenta nossa devoção e nos faz contemplar a realidade que significa.

Jesus subiu ao Céu, e a palavra que usamos é Ascensão, elevando o nosso olhar para o alto e fazendo-nos caminhar sempre mais, pois quem está parado regride! De Maria, dizemos que foi “assunta” ao Céu. Assumida e elevada! Com a participação dada a Maria no Mistério de Cristo, onde a resposta dada ao Arcanjo, comprometeu-a e envolveu toda a criação e cada um de nós, tendo passado pela inevitável morte corporal, foi assumida, elevada à plenitude de Deus, como desde os primórdios da vida da Igreja foi acreditada pelos cristãos. “Convinha que aquela que guardara ilesa a virgindade no parto, conservasse seu corpo, mesmo depois da morte, imune de toda corrupção. Convinha que aquela que trouxera no seio o Criador como criancinha fosse morar nos tabernáculos divinos. Convinha que a esposa, desposada pelo Pai, habitasse na câmara nupcial dos céus. Convinha que, tendo demorado o olhar em seu Filho na cruz e recebido no peito a espada da dor, ausente no parto, o contemplasse assentado junto do Pai. Convinha que a Mãe de Deus possuísse tudo o que pertence ao Filho e fosse venerada por toda criatura como mãe e serva de Deus” (São João Damasceno, século VII).

Neste Mistério se encontra a verdade de que todas as realidades criadas por Deus o são para o bem. Deus não é autor de qualquer pecado ou maldade, e não inscreveu em sua criação nenhum “veneno” de morte. Celebrar a Assunção de Nossa Senhora traz a todos nós um apelo ao sadio otimismo da fé, limpa os nossos olhos para vermos as sementes do bem em tudo o que Deus criou. Usar para o mal as realidades criadas, inclusive e de modo especial nosso corpo e a nossa natureza humana não faz parte dos planos de Deus, mas vem a ser resultado do uso indevido da verdadeira maravilha, a liberdade com a qual existimos nesta terra. De fato, recomenda o Livro da Sabedoria (Sb 1,12-15): “Não procureis a morte com uma vida desregrada, e não provoqueis a ruína com as obras de vossas mãos. Pois Deus não fez a morte, nem se alegra com a perdição dos vivos. Ele criou todas as coisas para existirem, e as criaturas do orbe terrestre são saudáveis: nelas não há nenhum veneno mortal, e não é o mundo dos mortos que reina sobre a terra, pois a justiça é imortal”.

Já que um corpo como o nosso, de uma criatura, como é Maria, foi elevado ao Paraíso, temos a certeza de ter uma Mãe no Céu! Isso infunde uma imensa confiança na intercessão e no modelo a nós oferecido, justamente pois ela chegou na nossa frente, como sinal glorioso. A ela se aplica de modo plenamente justo o que em primeiro lugar é dito da Igreja: “‘Apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida com o sol, tendo a lua debaixo dos pés e, sobre a cabeça, uma coroa de doze estrelas’ (Ap 12,1). Com o mistério da Assunção ao Céu, atuaram-se em Maria definitivamente todos os efeitos da única mediação de Cristo, Redentor do mundo e Senhor ressuscitado: ‘Todos receberão a vida em Cristo. Cada um, porém, na sua ordem: primeiro Cristo, que é a primícia; depois, à sua vinda, aqueles que pertencem a Cristo” (1 Cor 15, 22-23). No mistério da Assunção exprime-se a fé da Igreja, segundo a qual Maria está unida por um vínculo estreito e indissolúvel a Cristo, pois, se já como mãe-virgem estava a ele unida singularmente na sua primeira vinda, pela sua contínua cooperação com ele o estará também na expectativa da segunda: remida dum modo mais sublime, em atenção aos méritos de seu Filho, ela tem também aquele papel, próprio da Mãe, de medianeira de clemência, na vinda definitiva, quando todos os que são de Cristo forem vivificados (1 Cor 15, 26) e quando o último inimigo a ser destruído será a morte. “Cristo, tendo-se feito obediente até a morte, foi por isso mesmo exaltado pelo Pai (cf. Fp 2, 8-9) e entrou na glória do seu Reino; a ele estão submetidas todas as coisas, até que ele se sujeite a si mesmo e consigo todas as criaturas ao Pai, a fim de que Deus seja tudo em todos (cf. 1 Cor 15, 27-28). Maria, serva do Senhor, tem parte neste Reino do Filho. A glória de servir não cessa de ser a sua exaltação real: elevada ao céu, não suspende aquele seu serviço salvífico em que se exprime a mediação materna, até à consumação perpétua de todos os eleitos. Assim, aquela que, aqui na terra, conservou fielmente a sua união com o Filho até a Cruz, permanece ainda unida a ele, uma vez que tudo lhe está submetido, até que ele sujeite ao Pai a sua pessoa e todas as criaturas. Mais ainda, com a sua Assunção ao Céu, Maria está como que envolvida por toda a realidade da comunhão dos santos; e a sua própria união com o Filho na glória está toda voltada para a plenitude definitiva do Reino, quando a Deus for tudo em todos” (cf. São João Paulo II, Redemptoris Mater, 41).

Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.

Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.

Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.

Dom Alberto Taveira Corrêa

Arcebispo Metropolitano de Belém

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