1. Introdução
“A esperança não confunde”, trata-se de um jubileu ‘ordinário’ que o Papa proclama[1] a cada 25 anos. O último proclamado (da misericórdia) foi de caráter extraordinário. Tem como finalidade o encontro com o Senhor Jesus, porta de Salvação e Nossa esperança, reanimar a esperança no coração dos fiéis apesar de constantes sinais de desespero e sofrimento no mundo.
Tendo como texto bíblico a Carta aos Romanos[2], o santo Padre lembra que este escrito e uma marca de mudança da evangelização de São Paulo, um novo desafio de evangelizar, ou de participar da evangelização da cidade capital do mundo, a partir de uma comunidade não fundada por ele.
Fala-se de uma esperança que nasce e permanece do amor, esperança que é irradiada pelo Espírito Santo “como tocha que não se apaga”[3], fundada no amor indestrutível e ‘inseparável’[4]. Por isso a esperança não pode ceder aos sofrimentos e situações difíceis do mundo pois “funda-se na fé e se alimenta da caridade”[5].
O Papa apresenta o Apóstolo das nações como um realista diante das dificuldades e sofrimentos que ameaçam a esperança citando Rm 5,3-4: “Gloriamo-nos também das tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência, a paciência a firmeza, e a firmeza a esperança”, sendo esta situação que quem se arrisca a levar o Evangelho se encontra, mas que sempre levada pela força da cruz de Cristo encontra o fio de luz da esperança.
Na constância da esperança gera uma parente próxima: a paciência. Virtude necessária de um mundo apressado e imediatista da era da internet, conforme fala o Papa[6]. Na vida natural deve-se esperar os ciclos das estações, ciclos de vida dos animais, onde a pressa não tem nenhuma influência direta, e descobrir os frutos benéficos da paciência. Na bula o Santo Padre também sublinha a paciência de Deus por nós[7].
A esperança e a paciência tornam-se um caminho que precisam de momentos fortes “que permite vislumbrar a meta que é Jesus”[8]. O Papa cita diversos jubileus da história como uma marca deste tempo de graça, que conta com a dinâmica da peregrinação a pé “redescobrindo o valor do silêncio, do esforço e da essencialidade.
O Papa pela sua autoridade apostólica, estabelece os dias de abertura e de encerramento, tendo como belo sinal a porta santa de várias igrejas papais. E alguns sinais de jubilares: obreiros da paz, gerar novos filhos e filhas, clamor pelos presos (e contra a prática da pena de morte), cuidado pelos doentes, futuro aos jovens, acolhimento aos imigrantes e assistência aos idosos, além de pedir olhar atencioso aos pobres.
Sua santidade tambem faz o apelo aos países ricos, que perdoem a dívida dos países pobres, além disso faz referência aos 1700 anos do Concílio de Éfeso.
Merece destaque na questão teológica da esperança na vida eterna, “ponto de fundamental apoio”[9], a esperança do retorno de Cristo em sua glória e a vida dada no batismo que em Jesus Cristo, nos faz participar do novo dia da criação, a eternidade, o oitavo dia. Os mártires são citados como testemunha desta esperança, esperança de uma vida feliz, em comunhão com Deus por toda a eternidade. Na eternidade se apresenta também a imagem do juízo divino, que se dará de modo universal, mas que no âmbito particular, a igreja oferece orações por aqueles que nos precederam na vida eterna e no processo da purificação dos males de uma pena provisória. A indulgência jubilar é oferecida a estes irmãos[10].
Segundo a Bula, a indulgência expressa a infinitude da misericórdia de Deus, em termos de outrora era quase sinônimo de misericórdia, assim expressando que a misericórdia de Deus não há limites[11]. Tomando o salmo 103, o texto expressa que no sacramento da penitência, Deus apaga nossos pecados, exortando a todos os fiéis a não deixarem este sacramento.
Tomando esse gancho o Papa Francisco faz uma bela síntese de um tema que não é tão claro, para uma imensidão de cristãos católicos: as indulgências. Este tema que traz até mesmo uma conotação pejorativa devido a uma banalização histórica da venda de indulgências por parte da Igreja. Os pecados perdoados deixam vestígios, “marcas”, são os efeitos residual do pecado, que “são tirados pela indulgência”[12]. Além disto, chama os fiéis a perdoarem, não para mudar o passado, mas para dar novo rumo ao futuro.
Finalizando o documento jubilar apresenta a imagem de uma âncora inspirado na Carta aos Hebreus[13], “esperança segura e firme da alma”[14], superando qualquer expectativa de estabilidade deste mundo e visando o objetivo último de todo o cristão: o céu.
2. Reconciliação
“Aqueles que se aproximam do sacramento da Penitência obtêm da misericórdia divina o perdão da ofensa feita a Deus e ao mesmo tempo são reconciliados com a Igreja que feriram pecando, e a qual colabora para sua conversão com caridade exemplo e orações”[15].
“É chamado sacramento da Reconciliação porque dá ao pecador o amor de Deus que reconcilia: “Reconciliai-vos com Deus” (2Cor 5,20). Quem vive do amor misericordioso de Deus está pronto a responder ao apelo do Senhor: “Vai primeiro reconciliar-te com teu irmão” (Mt 5,24)”[16].
3. Indulgência
Sabemos que existe uma grande dificuldade com esta expressão e prática da vida da Igreja, sobretudo pela banalização do conhecimento pela história da Igreja em séculos passados. Recorramos ao CIC:[17]
“A indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, (remissão) que o fiel bem-disposto obtém, em condições determinadas, pela intervenção da Igreja que, como dispensadora da redenção, distribui e aplica por sua autoridade o tesouro das satisfações (isto é, dos méritos) de Cristo e dos santos”. “A indulgência é parcial ou plenária, conforme liberar parcial totalmente da pena devida pelos pecados”. Todos os fiéis podem adquirir indulgências (…) para si mesmos ou aplicá-las aos defuntos.
O pecado tem dupla consequência “pena eterna” do pecado, privação da comunhão com Deus. De outro modo existe a “pena temporal” do pecado, um apego que exige purificação. São penas consequência do próprio pecado, não um castigo de Deus: como o catecismo no ensina:
Para compreender esta doutrina e esta prática da Igreja, é preciso admitir que o pecado tem uma dupla consequência. O pecado grave priva-nos da comunhão com Deus e, consequentemente, nos toma incapazes da vida eterna; esta privação se chama “pena eterna” do pecado. Por outro lado, todo pecado, mesmo venial, acarreta um apego prejudicial às criaturas que exige purificação, quer aqui na terra, quer depois da morte, no estado chamado “purgatório”. Esta purificação liberta da chamada “pena temporal” do pecado. Essas duas penas não devem ser concebidas como uma espécie de vingança infligida por Deus do exterior, mas, antes, como uma consequência da própria natureza do pecado. Uma conversão que procede de uma ardente caridade pode chegar à total purificação do pecador, de tal modo que não haja mais nenhuma pena[18]
4. Obtenção das Indulgências[19]
O Papa na bula convida todos os cristãos a tornarem-se “peregrinos da esperança” diante do mundo repleto de violência e de sofrimentos. O tempo do jubileu tornar-se propício a encontrar a imensa misericórdia de Deus, uma misericórdia sem limites: “A indulgência é uma graça jubilar”.
Para receberem a graça da indulgência válida para todo ano de 2025, durante o período jubilar:
Todos os fiéis verdadeiramente arrependidos, excluindo qualquer apego ao pecado (cf. Enchiridion Indulgentiarum, IV ed., norm. 20, § 1) e movidos por um espírito de caridade, e que, no decurso do Ano Santo, purificados pelo sacramento da penitência e revigorados pela Sagrada Comunhão, rezem segundo as intenções do Sumo Pontífice, poderão obter do tesouro da Igreja pleníssima Indulgência, remissão e perdão dos seus pecados, que se pode aplicar às almas do Purgatório sob a forma de sufrágio[20]
Olhando a realidade da maioria dos nossos fiéis se apresenta, sucintamente, os meios mais acessíveis.
1 – Peregrinação: ir a um lugar sagrado do Jubileu participar de uma missa.
2 – Visita aos lugares sacros, dedicando tempo a adoração eucarística concluindo com o Pai-nosso, oração do creio e uma oração mariana.
3 – Nas obras de misericórdia e penitência – participação de missões, formações. Prática de caridade e participação da missa (até duas vezes pode receber a indulgência plenária, aplicada só aos defuntos. Além disso, as obras de misericórdia para os mais necessitados é expressão da busca da conversão, através das obras de misericórdia corporal: “dar de comer aos famintos, dar de beber aos sedentos, vestir os nus, acolher os peregrinos, dar assistência aos enfermos, visitar os presos, enterrar os mortos” (Misericordiae vultus, 15)”. Além das obras de misericórdia espirituais: “as obras de misericórdia espiritual: aconselhar os indecisos, ensinar os ignorantes, admoestar os pecadores, consolar os aflitos, perdoar as ofensas, suportar com paciência as pessoas molestas, rezar a Deus pelos vivos e defuntos (ibidem)”
Ainda no âmbito penitencial, os féis podem lucrar a indulgência plenária na prática penitencial (abster-se de comer carne, evitar o supérfluo, evitar um dia as distrações, inclusive a virtual, ou dedicando seu tempo livre a prática de voluntariado)
Por Cônego João Paulo Celestino
REFERÊNCIAS:
[1] Cf. Papa Francisco, Bula de proclamação do Jubileu ordinário do ano 2025.
[2] Cf. Rm 5,1-2.5.
[3] Cf. Papa Francisco, Bula de proclamação do Jubileu ordinário do ano 2025.
[4] Cf. Rm 8,35.37-39.
[5] Cf. Papa Francisco, Bula de proclamação do Jubileu ordinário do ano 2025.
[6] Cf. Ibdem.
[7] Cf. Rm 15,5.
[8] Cf. Papa Francisco, Bula de proclamação do Jubileu ordinário do ano 2025.
[9] Idem, n.19.
[10] Idem, n. 22.
[11] Cf. Ibdem.
[12] Ibdem.
[13] Cf. Hb 6,18-20.
[14] Cf. Papa Francisco, Bula de proclamação do Jubileu ordinário do ano 2025.
[15] Catecismo da Igreja Católica, n1422
[16] Idem, n. 1424
[17] Idem, n.1471.
[18] Idem, n.1472.
[19] https://press.vatican.va/content/salastampa/it/bollettino/pubblico/2024/05/13/0392/00808.html#po
[20] Ibidem.