Somos continuamente iluminados pela Palavra de Deus, e a Liturgia Dominical nos oferece a riqueza do Evangelho, cuja força suscita conversão por toda parte. Sabemos o direito do Povo de Deus à pregação, especialmente no dia do Senhor, pelo que os Bispos, os Sacerdotes e Diáconos, assim como as pessoas que presidem celebrações da Palavra em Comunidades, todos assumimos a responsabilidade de escutar esta mesma Palavra, guardá-la num coração bom e puro, para anunciá-la com fidelidade, testemunhando-a junto com nossas Comunidades. No décimo quarto domingo comum, o Evangelho de Lucas 10,25-37.
O Evangelho de São Lucas, proclamado neste ano, aproxima três eventos da vida e pregação de Jesus, possibilitando nossa reflexão e a prática da Palavra. Primeiro, Jesus está em Betânia. “A atenção de Maria contrasta com a agitação de Marta. E, diante da sua queixa por ter sido deixada sozinha na tarefa de servir, Jesus responde: ‘Marta, Marta! Tu andas preocupada e agitada por muitas coisas. No entanto, só uma coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada’ (Lc 19,25 – 11,4). Esse trecho do Evangelho se encontra depois da parábola do Bom Samaritano – talvez a página mais sublime quanto à caridade para com o próximo – e antes daquela em que Jesus ensina os discípulos como devem orar – certamente a página mais sublime quanto ao relacionamento com Deus Pai. Portanto, é como se esse trecho representasse o ponto de equilíbrio entre o amor ao irmão e o amor a Deus” (Cf. Letizia Magri, comentário à Palavra de Vida do Movimento dos Focolares – julho de 2022). Amar a Deus e amar ao próximo. Esta é a nossa estrada de santidade e de felicidade!
Nosso olhar se volta para uma das pérolas do Evangelho, a Parábola do Bom Samaritano, a fim de encontrar o caminho que nos conduza a ser uma Igreja Samaritana, tendo escolhido a melhor parte, o discipulado de Jesus. De fato, muitas são as estradas repletas de armadilhas e assaltantes da dignidade humana e da abertura para Deus, e são muitas as pessoas caídas ou recaídas, suplicando a sensibilidade e a ação concreta dos discípulos de Cristo.
A Igreja Samaritana começa no coração de cada um de nós, quando olhamos ao nosso redor, sem deixar que qualquer pessoa passe em vão ao nosso lado. É hora de suplicar ao Senhor suas próprias entranhas de misericórdia, que nos conduzam a reconhecer sua presença em cada irmão, sabendo que todos os gestos de amor a ele se dirigem, mesmo quando não temos intenção explícita. Acrescente-se a isso a superação do acomodamento. Ninguém será bom samaritano fechado em sua casa ou em seus próprios interesses, sem a necessária abertura às pessoas e à situação do mundo. Pode começar com o conhecimento dos problemas de seu bairro, comunidade, paróquia ou cidade. E os apelos vindos de pessoas engajadas no serviço da caridade se multiplicam. Basta andar pelas ruas, para encontrar as situações dolorosas que clamam por respostas das autoridades e dos cidadãos e cidadãs. Será grande a nossa surpresa ao apresentar-nos diante dele, depois de nossa Páscoa pessoal na morte, quando levaremos à sua presença todos os gestos de caridade, desde os aparentemente insignificantes de nossa vida na terra até os grandes gestos, como aqueles suscitados por grandes crises ou catástrofes.
Uma Igreja Samaritana se faz com criatividade, inventando novas soluções para os problemas humanos. Quantas pessoas dão lições neste sentido, distribuindo os próprios bens, praticando e ensinando a partilha. Já observamos as propostas de reciclagem e aproveitamento de tantas coisas que seriam jogadas fora? E quanta gente derrama o óleo e o vinho da delicadeza e do serviço nas feridas físicas, emocionais ou religiosas dos irmãos!
Igreja Samaritana é Igreja Missionária. Neste mês de julho, há várias experiências de missão, acampamentos para jovens e encontros formativos, ajudando as pessoas a superarem a tentação da ociosidade nas férias. Segue o exemplo da Missão do Setor Juventude da CNBB, com jovens de várias partes do Brasil, dirigindo-se à Prelazia do Xingu-Tucumã, numa semana de intensa atividade samaritana e missionária. E ainda há lugar para jovens que desejarem envolver-se nesta divina aventura!
A Igreja Samaritana se expressa através das obras de serviço, caridade e educação. A história da Amazônia está pontilhada de presença da vida religiosa na educação e na formação de Comunidades Cristãs, sementes de tantas estruturas paroquiais a serviço do Povo de Deus. Não nos esqueçamos de uma legião de pessoas consagradas que singraram nossos rios e caminhos da selva, chegando com pioneirismo às populações mais afastadas!
Em nossa Igreja de Belém, há presença de Creches, Centros para Moradores de Rua, como a “Missão Belém”, atualmente com duzentos e oitenta e cinco acolhidos, Pastoral de Rua com a Fraternidade “O Caminho”, com os núcleos masculino e feminino. A Cáritas Belém está organizando um sistema de acolhimento para moradores de rua, a fim de oferecer-lhes espaço de higiene pessoal e outros serviços. Temos a Fazenda da Esperança, acolhendo pessoas machucadas pelas drogas! A Igreja Samaritana é vista na distribuição de sopa em vários pontos das áreas centrais da cidade, assim como a distribuição de cestas básicas em várias Paróquias, com os Núcleos da Cáritas e a Sociedade São Vicente de Paulo. Daqui a alguns meses a iniciativa chamada “Belém, casa do Pão” terá nova edição, às vésperas do Natal. Além disso, multiplicam-se Cursos profissionalizantes, inserção social dos mais pobres, banco de empregos e oportunidades para as pessoas. E neste período o Círio Social, percorrendo vários pontos de nossas cidades. Tudo isso é fruto da reserva de caridade no coração das pessoas!
Tudo isso nos faz retornar à palavra que nos veio anteriormente: Quem ninguém passe em vão ao nosso lado! Melhor ainda ouvir Jesus: “‘Na tua opinião – perguntou Jesus –, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?’ Ele respondeu: ‘Aquele que usou de misericórdia para com ele’. Então Jesus lhe disse: Vai e faze tu a mesma coisa’” (Lc 10,36-37).
Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação, também é apresentador de programas na TV e Rádio e articulista de diversos meios impressos e on-line, autor da publicação anual do Retiro Popular.
Enquanto Padre exerceu seu ministério na Arquidiocese de Belo Horizonte – MG: Reitor do Seminário, Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pároco em várias Paróquias, Vigário Forâneo, Vigário Episcopal para a Pastoral e Capelão de Hospital.
Foi Bispo Auxiliar de Brasília, membro da Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios do Conselho Episcopal Latino – Americano – CELAM. Tomou posse como primeiro Arcebispo Metropolitano de Palmas – TO. Atualmente o 10º Arcebispo Metropolitano de Belém.